“I Love LA”, o cartão de visita dos Starcrawler é um “In Bloom” para os miúdos do século XXI. A canção dos Nirvana, surgida há 28 anos, faz comentários ácidos sobre os mecanismos da popularidade do pop-rock e a acefalia dos fãs que gostam de cantar letras cujo significado ignoram. Uma ironia do destino fez com que ela se convertesse num êxito e contribuísse para tornar os Nirvana num inesperado fenómeno mediático.
Os antecedentes dos Starcrawler não podiam ser mais diversos dos Nirvana: os quatro adolescentes de Los Angeles, acabados de sair da escola secundária, provêm de famílias de elite, com excelentes contactos no meio artístico. A vocalista Arrow de Wilde é filha da fotógrafa e documentarista Autumn de Wilde (que é também a realizadora do videoclip abaixo) e de Aaron Sperske, o ex-baterista dos Ariel Pink; Starcrawler, o álbum de estreia (a lançar a 18 de Janeiro de 2018) foi produzido por Ryan Adams, que é amigo de Autumn; Elton John fez uma cover de uma canção dos Starcrawler ainda antes de eles terem lançado qualquer disco; e a banda irá abrir para os Foo Fighters no London Stadium em Junho próximo. O estatuto socio-económico dos pais não é determinante apenas no aproveitamento escolar dos filhos, também pode limpar de obstáculos o espinhoso e traiçoeiro caminho para a fama no showbiz.
Henri Cash, o guitarrista da banda, proclama que a música dos Starcrawler “mostra às pessoas que o rock’n’roll continua vivo”, mas o que se ouve em “I Love LA” anda muito perto do punk pop dos Nirvana. Os Starcrawler podem ser vistos como uns Nirvana mais insolentes, sarcásticos, auto-conscientes, cínicos e blasés – ou seja, com tudo para cair no goto da geração nascida neste século.
[“I Love LA”, do álbum
Starcrawler]