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John Zorn
©DRJohn Zorn

Os concertos do Jazz em Agosto

O Jazz em Agosto de 2018 centra a sua programação em John Zorn. Apresentamos-lhe um guia sumário para um criador tão polifacteado e hiperactivo que pode suspeitar-se que seja a fachada de uma trintena de músicos diferentes

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Se Sísifo fosse hoje condenado pelos deuses a um penoso trabalho eternamente renovado, atribuir-lhe-iam o levantamento exaustivo da discografia de John Zorn. É frequente encontrar músicos de jazz que se desdobram por múltiplos projectos mas nenhum – nem mesmo Kan Vandermark ou Dave Douglas – rivalizam em produtividade e ecletismo com Zorn: os seus interesses vão do hardcore japonês à lounge music e a sua música vai do klezmer jazz, patente nas infinitas ramificações do projecto Masada, às bandas sonoras para filmes (reais e imaginados); da “música romântica” ao free thrash demencial dos Painkiller, passando pela escrita para quarteto de cordas, quartetos de guitarras eléctricas ou duos de guitarra acústica; pela improvisação sem rede, pelas colaborações com Mike Patton e Thurston Moore e – para desmentir quem o acusa de nada ter a ver com jazz – pelo quarteto dedicado à música de Sonny Clark, pelo quinteto dedicado à música de Ornette Coleman e pelo trio (News For Lulu) dedicado às composições de Kenny Dorham, Hank Mobley e Sonny Clark, pilares do hard bop da Blue Note na viragem das décadas de 1950-60.

Além da sua intensíssima actividade como músico, compositor, produtor, programador e instigador de projectos musicais, ainda dirige uma das mais prolíficas e surpreendentes editoras do mundo, a Tzadik, e fundou em 2005 em Nova Iorque um clube, The Stone, por onde têm passado numerosos nomes de referência das vanguardas musicais, ligadas ou não ao jazz. De 27 de Julho a 5 de Agosto, a Fundação Gulbenkian revela algumas das facetas de um criador que desafia classificações e a ideia de que o dia tem apenas 24 horas.

Além dos concertos, o Jazz em Agosto inclui a projecção de filmes na Sala Polivalente da Colecção Moderna, com entrada gratuita. São eles:

– John Zorn (2016-2018), de Mathieu Amalric: domingo 29, 18.00

 Pomegranate Seeds, com banda sonora em tempo real por Ikue Mori: terça-feira 31, 18.30

 Bhima Swarga, filme de Ikue Mori: quinta-feira 2, 17.00

 The Book of Heads: 35 Études for Solo Guitar Performed by James Moore, de Stephen Taylor: sexta-feira 3, 17.00

 Celestial Subway Lines/Salvaging the Noise, de Ken Jacobs: sábado 4, 17.00

 Between Science and Garbage, de Pierre Hébert: domingo 5, 17.00

A programação completa pode ser consultada aqui. 

Jazz em português

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Em contraste com a música clássica, em que a percussão costuma desempenhar um papel menor e há obras em que o percussionista passa meia hora imóvel e apenas intervém no “tcham-tcham” final, o jazz confiou, desde os seus primórdios um papel importante à bateria. Na era do swing, virtuosos como Gene Krupa e Buddy Rich deram à bateria um novo protagonismo e quando, na viragem das décadas de 1940-50, o bebop fez explodir a linguagem do jazz, havia bateristas como Max Roach e Art Blakey a liderar a revolução. Alguns dos mais excitantes grupos do nosso tempo têm bateristas à frente – e Portugal não é excepção.

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A guitarra fez um longo caminho no jazz, de discreta auxiliar rítmica (demasiado discreta, antes de ser amplificada) até à disputa do primeiro plano com saxofones e trompetes. A história da guitarra jazz teve três notáveis pioneiros em Eddie Lang, Django Reinhardt e Charlie Christian, mas nenhum deles poderia adivinhar os papéis que o instrumento seria capaz de desempenhar quando associado a pedais de efeitos e outra parafernália electrónica. De todos os instrumentos usados no jazz, a guitarra foi o que mais sofreu as influências do rock, contribuindo para enriquecer a linguagem do jazz – os três primeiros guitarristas portugueses desta lista são exemplo dessa frutuosa permeabilidade entre géneros musicais. 

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Começou por ter um papel apagado e discreto, percebeu-se que poderia ser mais do que um mero marcador de ritmo com Jimmy Blanton, emancipou-se com Charles Mingus e Scott LaFaro. Hoje é consensual que o contrabaixo não só não é um “instrumento menor” como pode assumir protagonismo equivalente ao do saxofone ou do piano e não é por acaso que alguns dos mais excitantes projectos do jazz português são liderados por contrabaixistas. 

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