A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Black Dice
Black Dice

OUT.FEST. Barreiro, terra de exploradores

O OUT.FEST está de volta, tão arrojado como sempre. Com um misto de nomes históricos, músicos com provas dadas e novos valores. Sugerimos encarecidamente que passem pelo Barreiro entre quarta-feira e sábado.

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
Publicidade

O OUT.FEST é um festival generoso. Com um cartaz abrangente e de vistas largas, onde rock marginal, jazz libertário e electrónica experimental dialogam e se arredondam. De olhos postos no futuro, mas sem ignorar o que está para trás. É bonito de se ver. E ouvir.

A edição deste ano da mostra de música exploratória do Barreiro arranca esta quarta-feira, na Igreja de Santa Maria, com um concerto do compositor, produtor e activista Jonathan Uliel Saldanha, acompanhado pelo TAB – grupo coral dos Trabalhadores da Autarquia do Barreiro – e coro B-Voice. Jonathan Uliel Saldanha (HHY) é um nome crucial da produção rítmica progressista portuense, a operar discretamente, desde a década de 90, entre os campos da performance, música industrial, electroacústica e dub.

A compositora e investigadora italiana Caterina Barbieri é a primeira a subir ao palco do Museu Industrial da Baía do Tejo na quinta-feira. Segue-se o quarteto de Sei Miguel, lendário trompetista português no activo desde os anos 80, ex-Moeda Noise e antigo colaborador dos Pop Dell’Arte, que continua a trilhar novos caminhos para o jazz e a música livre. Por estes dias, Sei toca com a companheira de longa data Fala Mariam, no trombone, Pedro Castello Lopes, na percussão, e Bruno Silva, na guitarra eléctrica. E ainda há Charlemagne Palestine, explorador minimalista que começou a atacar as teclas do piano (e não só) na Nova Iorque dos anos 60/70.

No dia seguinte, o Auditório Municipal Augusto Cabrita recebe Lolina, novo nome da artista anteriormente conhecida como Inga Copeland, mulher de voz embaciada que foi metade dos Hype Williams, derradeiros estetas da alienação urbana pós-moderna feita canção. Segue-se Casa Futuro, trio dos improvisadores Pedro Sousa (sax tenor), Johan Berthling (contrabaixo) e Gabriel Ferrandini (bateria). E, deixando o melhor para o fim, The Pere Ubu Moon Unit, ramificação desse nome histórico do underground pós-punk americano que foram os Pere Ubu.

A festa termina no sábado, na ADAO, com uma dúzia de concertos. O mais aguardado é o dos This Heat. Perdão, This Is Not This Heat. Nome histórico do pós-punk britânico, o trio de Charles Bullen, Charles Hayward e Gareth Williams lançou apenas dois álbuns e um EP antes da separação, em 1982. Espécie de elo perdido entre o krautrock dos Can, a agitação inspiradora do pós-punk e as experiências noise rock de oitentas, reuniram-se há uns tempos, sem Gareth Williams, falecido em 2001, e com um (relativamente) novo nome. Este regresso não é uma desculpa para fazer uns trocos, mas o resultado de uma vontade genuína de continuar a fazer música e esbater limites. E não tocam ao vivo tantas vezes quanto isso, pelo que cada apresentação pública é um acontecimento.

O outro grande concerto da noite é o dos Black Dice, nome chave do rock exploratório feito em Brooklyn no início do século. O último registo longo data de 2012, mas ainda no ano passado lançaram um fervilhante EP de 12 polegadas, Big Deal, pela estimável editora nova-iorquina L.I.E.S. O colega de editora Bookworms vai dar a ouvir a sua electrónica multiusos no mesmo dia. O programa inclui ainda Simon Crab e Nocturnal Emissions, dois nomes a operarem nas franjas da música britânica desde os anos 80. E o trio de Alex Zhang Hungtai (Dirty Beaches), com os portugueses David Maranha e Gabriel Ferrandini, movendo-se entre o free jazz, o minimalismo e o rock marginal.

Na comitiva portuguesa convocada para sábado destacam-se ainda Putas Bêbadas, incomparável banda de noise rock alinhada com a Cafetra Records, com um novo álbum a cair mais dia, menos dia. Diz quem ouviu que é magnífico. E ainda há DJ Nigga Fox, produtor de electrónica mutante com raízes africanas mas aberta ao mundo. A electrónica experimental portuguesa também se encontra bem representada por Jejuno, Colectivo Vandalismo, GYUR e DJ Problemas. Não há mais nenhum festival assim. 

Qua-Sáb 8€-30€. Compre bilhetes aqui

Outras coisas para fazer nos próximos dias

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade