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PAUS: “Portugal e Brasil estão finalmente a falar a mesma língua”

Depois da 'Madeira', os PAUS foram até São Paulo e voltaram de lá com ' LXSP'. Falámos sobre o novo o EP

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Depois da Madeira e respectivo álbum, os PAUS foram até São Paulo para “fazer amigos e fazer música, aprender”. Regressaram com quatro canções que são conversas entre eles e músicos locais, reunidas no EP LXSP. Antes do concerto de apresentação no Musicbox, passámos pelo estúdio da banda em Santa Apolónia para mais uma conversa com os bateristas Hélio Morais e Quim Albergaria.

O disco anterior foi feito na Madeira e este foi feito em São Paulo. A banda neste momento é uma desculpa para irem de férias?

Quim: Ya [risos]. Fazer música com os PAUS e ir a sítios tem uma parte grande de férias, mesmo não sendo absolutamente lúdico. Estas viagens ajudam-nos a limpar a cabeça. Tanto a Madeira como São Paulo serviram para descontextualizar a banda de alguns dos seus hábitos.

Como é que foram parar a São Paulo?

Hélio: Andávamos há algum tempo a tentar chegar ao Brasil. Já tínhamos um convite para tocar no festival Bananada, em Agosto, em Goiânia, que é produzido pelo Fabrício Nobre, e tínhamos chegado a acordo para ele começar a fazer o nosso agenciamento lá. Mas isto parecia-nos pouco. Então, a reboque da nossa participação no Red Bull Culture Clash do ano passado, decidimos propor à Red Bull a gravação de um EP em São Paulo, com artistas locais, uma vez que eles têm um estúdio lá. Eles gostaram da ideia e entraram no barco connosco.

O EP foi produzido pelo músico e produtor brasileiro Guilherme Kastrup. Como é que ele aparece nesta história?

Q: Não havia nada a ganhar em irmos para o Brasil e ficarmos 15 dias fechados em estúdio. Os métodos de trabalho continuavam os mesmos mas num código postal diferente. Portanto a ideia, desde o início, foi convidar pessoas para interferir no processo e aprender com elas. E como éramos fãs do trabalho do Kastrup com a Elza Soares, e não só, pensámos logo em convidá-lo para colaborar. Inicialmente apenas como baterista. A ideia de ele co-produzir o disco connosco surgiu naturalmente, na sequência do contacto.

E o resto dos convidados, como é que eles entram aqui?

H: No caso do Edgar e do Dinho [de Boogarins] foi pelo afecto, porque já havia uma relação. No caso da Maria Beraldo e do Kastrup foi por sermos fãs e eles estarem disponíveis e quererem fazer parte disto. Foi tudo muito natural.

É o segundo disco de uma banda de rock portuguesa feito no Brasil que sai este ano. Por que é que de repente há tanta gente a querer ir lá gravar e fazer coisas?

H: Não sei. Acho que o momento é propício. Porque tens o MIL a acontecer aqui e a trazer montes de artistas brasileiros, superdisponíveis para estarem contigo e fazerem coisas. E isto coincide com o momento em que aquele país entrou no caos em que entrou, política e socialmente.

Q: A Red Bull também tem um papel importante de mecenas da coisa.

H: Pelo menos nestes dois casos concretos [PAUS e Capitão Fausto].

Q: E, em termos de identidades estéticas e artísticas, acho que a música independente e marginal brasileira e a música independente e marginal portuguesa evoluíram num sentido parecido. Há um entendimento de linguagens. O que até há pouco tempo não acontecia.

É verdade. Dantes a relação da nossa cena alternativa com o Brasil era mais distante. O Brasil era aquela coisa das novelas. E de repente parece que isso mudou.

Q: Estamos finalmente a falar a mesma língua musical. Há uma ponte sólida como eu acho que nunca houve entre Portugal e o Brasil. Ou pelo menos entre Lisboa e São Paulo. É algo palpável e é dos dois lados. Porque lá também há um interesse muito grande em Portugal.

H: Importa desmistificar uma ideia que já ouvi de muitos músicos portugueses, que nós recebemos os artistas brasileiros de braços abertos e o mesmo não acontece do lado de lá. Eu só sei que as quatro pessoas que convidámos para tocarem no disco disseram que sim, de caras. Portanto há receptividade do outro lado.

Sentem mesmo que há mais oportunidades para artistas portugueses no Brasil? Por acaso, parece-me que a relação funciona sobretudo no sentido inverso.

H: Sabes qual é o problema? Política cultural. Eles nos últimos 15 anos, principalmente com o PT no governo, criaram boas políticas de apoio à cultura. E isso tem ajudado uma série de artistas mais alternativos a chegar cá. E em Portugal não há essas políticas de apoio à [exportação da] cultura pela parte do Estado.

Q: E depois há a questão da relevância. Da relevância e da qualidade daquilo que se está a propor. Alguém que se queixa de que o Brasil não nos aceita é alguém que se calhar vai lá de viola acústica tentar fazer baladas em português meio swingadas. Para o Brasil? Para a terra da bossa nova e do cantautor que enche estádios com viola e voz? Não consegues.

H: Tens de dar qualquer coisa de distintivo.

Q: E aí eles vão prestar atenção. Porque se há malta que percebe o valor do novo e do criativo são eles.

Conversa fiada

  • Música

Noah Lennox, vulgo Panda Bear, é um dos mais influentes músicos independentes deste século. A viver em Lisboa há mais de uma década, foi responsável por discos seminais como Person Pitch, de 2007, ou Merriweather Post Pavillion (2009), dos Animal Collective, mas isso não lhe subiu à cabeça. Falámos sobre o novo álbum, Buoys.

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