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ProfJam: "Não consigo deixar de ser rapper"

Entrevista a ProfJam, o rapper nacional do momento, com milhões de visualizações no Youtube e um dos discos mais vendidos

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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ProfJam é hoje um dos maiores nomes do trap português. Aliás, do hip-hop português. A sua música (e a da sua editora, a Think Music) vai ao encontro do actual momento pop global e tem feito mossa online e offline, com o primeiro álbum, #FFFFFF, a chegar ao topo da tabela de vendas nacional há um par de semanas. Daqui a uns meses, vai subir ao palco principal do Super Bock Super Rock, mas antes actua no Capitólio. Trocámos dois dedos de conversa em Telheiras, antes do concerto de sexta-feira.

Como é que se diz o nome do álbum, afinal?

Eu próprio não sei. O mais prático se calhar é usar para aí três ou quatro vezes a letra “F”, tipo “FFFF”, que é o que o pessoal consegue dizer mais ou menos. Sem o hashtag. Não é propriamente um nome pronunciável, até porque não foi feito para o ser.

É mais para ser escrito no Whatsapp do que dito numa conversa.

Ya, é mesmo isso.

O disco é todo o branco, o nome é o código hexadecimal da cor branca, tu apareces vestido de branco nas fotos promocionais. Porquê?

Tem vários significados. Estar de branco nas fotos é estar a vestir o álbum, a vestir a camisola, para ajudar na comunicação da cena. O código é porque vivemos na era digital e eu quis trazer o branco para dentro dos dispositivos móveis. E depois há um lado quase espiritual: o branco é a soma de todas as cores, cobre o espectro todo. E o meu objectivo é ser cada vez mais completo como artista e como pessoa.

Como é que encaras este disco no contexto do teu trabalho até agora? Isto para ti é o primeiro álbum mesmo a sério, ou é equiparável a projectos como o Mixtakes ou ao The Big Banger Theory?

Eu encaro todos os meus trabalhos com o mesmo tipo de mentalidade, que é fazer o melhor que posso dentro daquele conceito. Este aqui é o meu primeiro álbum porque é o que tem as condições todas à volta para se chamar um álbum. As outras [mixtapes] tinham música que não era original e música que eu não tinha sequer licença para usar. Este aqui foi todo produzido e pensado de raiz.

"Água de Côco", que acabou por ser o primeiro single do disco, saiu no Verão passado. Esse tema já foi feito a pensar no #FFFFFF ou não?

Originalmente foi só um som, sem ligação ao disco.

Curiosamente, a canção foi feita com o Lhast, que produziu o resto do teu disco. Quando é que decidiste que ia ser ele a produzir todas as faixas? E porquê?

Eu vou trabalhando em várias coisas ao mesmo tempo, e às tantas vi que tinha ali quatro ou cinco coisas que tinham uma ligação, e eram todas do Lhast. Achei que se calhar podia fazer um EP. Quando fui falar com ele, percebi que ele também tinha vontade de fazer mais qualquer coisa comigo. Portanto foi uma ideia um bocado mútua. Eventualmente, decidimos avançar para o álbum. Não foi planeado, foi uma coisa que aconteceu.

Estiveste a gravar o disco com ele em Los Angeles. Em que é que isso contribuiu para o resultado final?

Contribuiu, em primeiro lugar, para acelerar os processos. Estive lá um mês ou mês e meio com o Lhast, a viver numa casa, juntos 24 horas por dia. Foi muito interessante, porque, além de trabalharmos, íamos às compras juntos, treinávamos juntos. Fazíamos de tudo um pouco. Então acabou por haver um entrosamento maior entre o produtor e o rapper. Nesse aspecto acho que é uma cena única. E a própria cidade influenciou o disco.

Acabaste de te descrever como um “rapper”. Ainda te vês como um rapper, apesar de este disco ser mais cantado do que rapado?

Eu não consigo deixar de ser rapper. Agora sou é um rapper com mais estilos. As pessoas dizem que eu já não faça isto e aquilo, mas não sabem o que eu tenho no PC.

De facto, há coisa de um mês apareceu uma canção no Youtube em que rimas de uma maneira mais tradicional.

Pois, a “Papel”, com o Gui, o meu baterista. Isto é como no futebol: um defesa central há uns anos era um gajo que só tinha de ser forte e não sei quê, mas hoje tem de saber jogar com os pés e se for preciso tem de ter tanta técnica como um extremo de há 30 anos. Tem de ter pezinhos. Aqui é a mesma coisa: agora os cantores têm de ter mais skills vocais a nível de rap, e os rappers têm de ter mais skills a nível de singing.

O que não quer dizer que não continues a ter centrais que só sabem dar porrada e são jogadores do caraças.

Claro que sim, há sempre de tudo. Só que hoje há mais gente que vive entre as cenas.

Neste momento és um dos rappers mais populares em Portugal, mas parece-me que tens um público mais novo e socialmente mais abrangente do que malta que veio antes, como o Sam the Kid. Concordas?

Não sei, pá. Eu comecei a ouvir o Sam com 12, 13 anos.

Eu também. Mas na altura havia menos gente da minha idade, no meu meio social, a ouvir o Sam do que há agora a ouvir o ProfJam.

Ya, acredito que sim. Chega a mais gente. Mas todo o rap cresceu. Há muito aquela cena de que é o trap que tem sucesso e o hip-hop não tem sucesso. Mas não.

Se calhar tens razão. Basta pensar nos números da última malha do Sam the Kid [cinco milhões de visualizações no Youtube em cinco meses].

Exacto. Não acho que seja só a Think Music ou o trap que cresceu. Foi tudo. E acho que isso é bacano.

O que é que tu ouves?

Um bocado de tudo no rap. Como a Think Music é um grupo tão diverso ouvimos todos cenas diferentes e acabamos por estar a par de tudo.

E fora do rap ouves algo?

Pouco. Não sou muito ligado a cenas fora da cultura. Quanto muito oiço coisas como o r&b, que têm pontos de contacto [com o hip-hop]. Estou a par disso e de alguma música pop, sobretudo naquela onda mais reggaeton. Mas o meu terreno é basicamente o hip-hop.

Conversa fiada

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