A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Vista para o Mar
Fotografia: Arlindo Camacho

Sete canções com vista para o mar

Agora que o calor convida a que nos aproximemos da praia, eis sete canções pop que combinam com o rumor das ondas

Escrito por
José Carlos Fernandes
Publicidade

O mar tem sido uma inesgotável fonte de inspiração para artistas de todas as épocas e áreas. Agora que o calor parece finalmente ter vindo para ficar, convidando-nos a aproximarmo-nos da praia, eis sete canções pop que combinam com o rumor das ondas. De The Velvet Underground a Roxy Music ou Dead Can Dance, damo-lhe canções com vista para o mar. 

Recomendado: O melhor do Verão em Lisboa - descobrir o Verão na cidade

Sete canções com vista para o mar

“Ocean”, de The Velvet Underground

É uma canção que, no seu psicadelismo narcoléptico, é excêntrica ao registo usual dos Velvet Underground e acaba por estar mais perto do que os Pink Floyd andavam a fazer por esta altura (1968-69). “Ocean” faz parte do material sobrante das sessões para o álbum Loaded; ficou esquecida nos arquivos até ter sido redescoberta e reeditada em 1985 na compilação VU (uma demonstração de como pode fazer-se um banquete com restos). Lou Reed recuperaria a canção para o seu álbum de estreia, homónimo, de 1972, numa versão que está longe de ter a magia desta.

“Sea Breezes”, dos Roxy Music

Esta está também longe de ser a faceta mais conhecida dos Roxy Music. “Sea Breezes” faz parte do álbum de estreia homónimo da banda, mas nada a prende ao ano de 1972 e a sua estranheza ainda hoje é difícil de digerir.

Também é atípica como “canção marítima”, pois se não fosse pelo título e pelo rumor de ondas que lhe serve de fundo, nada nela remete para o mar. Começa como uma dolente canção de separação cuja melancolia e solidão é realçada pelo oboé de Andy Mackay e pela guitarra de Phil Manzanera, mas que aos 3’39 sofre uma inflexão inesperadamente irónica e experimental, com a voz de Brian Ferry a entrar num registo deliberadamente canastrão, que acaba por ter o efeito de tornar ainda mais pungente o regresso ao tom de mágoa inicial. Com a saída de Brian Eno, após o álbum seguinte, For Your Pleasure, os Roxy Music tornar-se-iam progressivamente numa banda bem mais previsível e atilada e deixariam de permitir que a brisa marítima despenteasse a compostura da sua música.

Publicidade

“Flowers of the Sea”, dos Dead Can Dance

Em 1984, quando foi publicado o EP Garden of the Arcane Deligths, que contém esta “Flowers of the Sea”, o território entre a pop gótica, a música medieval e as tradições musicais dos Balcãs, Médio Oriente e Norte de África estava ainda praticamente virgem e foram os australianos Dead Can Dance – Lisa Gerrard e Brendan Perry – a desbravá-lo. “Flowers of the Sea”, como acontece com quase todos os temas cantados (numa língua imaginária) por Gerrard, representa a faceta mais “tribal” e hipnótica dos DCD.

Greenland Whale Fisheries”, por The Pogues

Trata-se de um canção de marinheiros (“sea shanty”) cuja letra, na versão mais corrente, menciona o ano de 1853, mas cuja origem remonta pelo menos a 1725. Fala de uma desafortunada expedição de caça à baleia nas águas da Gronelândia: a presa não se deixa subjugar e atinge o barco que a persegue com um golpe da cauda, matando vários marinheiros. O capitão lamenta que a presa se tenha escapado e tenha levado consigo “quatro dos meus galantes homens” e acaba por amaldiçoar aquelas paragens que, ao contrário do que o nome sugere, são “uma terra que nunca está verde/ Onde há neve e gelo [...] e raramente se vê a luz do dia”. A canção tem conhecido várias versões, sendo uma das mais famosas a contida em Red Roses For Me (1984), o álbum de estreia dos celtic punks The Pogues

Publicidade

“Oceans in the Seashells”, dos Shoestrings

Os Shoestrings tiveram vida breve – de 1994 a 1999 –, não conquistaram muitos ouvintes fora do seu estado – o Michigan – e deixaram escassos vestígios da sua passagem pelo mundo – um único álbum, Wishing on Planes (1997), que contém este “Oceans in the Seashells”, no registo de twee pop típico da banda: melodias luminosas e ingénuas, guitarras de sonoridade cristalina e quebradiça, songwriting exemplarmente conciso. Uma canção para todos aqueles que não perderam o fascínio pueril de encostar uma concha no ouvido para escutar o rumor do mar.

“Ocean”, de Alice Phoebe Lou

“Os olhos fechados, respiravas o ar salgado/ E não havia nada que pudesses fazer para que eu continuasse a amar-te”. A jovem sul-africana Alice Phoebe Lou trata o fim de uma relação amorosa com uma admirável contenção: a mágoa está toda lá, mas não assoma à superfície. O oceano é uma testemunha impassível: continua a rugir e uivar, indiferente aos dramas dos humanos. A canção, que não faz parte de nenhum dos discos de Lou, está apenas disponível nesta versão ao vivo nas Mahogany Sessions, de 2016, cuja simplicidade de meios é desarmante.

Publicidade

“Coastline”, dos Hollow Coves

O mar surge muitas vezes nas canções pop como uma promessa de libertação de uma vida sufocante e sem horizontes e de recomeço de vida, com possibilidades tão ilimitadas como a extensão das águas – é o caso de “Coastline”: “Deixo esta casa rumo à linha de costa/ Algures debaixo do sol/ Sinto o meu coração pela primeira vez/ Agora estou em movimento// Há um lugar com que sonhei/ Onde posso libertar a minha mente/ Ouço o som das estações/ E perco todo o sentido de tempo// [...] O ar estival junto ao mar/ A forma como nos enche os pulmões/ O fogo que arde no céu nocturno/ Esta vida manter-nos-á jovens// Dormiremos perto do oceano/ Os nossos corações mover-se-ão com as marés/ E despertaremos de manhã/ Para ver o sol pintar o céu”.

Os Hollow Coves são um duo de Brisbane – Matt Carlins e Ryan Henderson – que se formou em 2017 e ainda só tem um EP editado, Wanderlust, de onde vem esta canção.

Outras playlists temáticas

  • Música

É verdade que a poluição luminosa tem vindo a arruinar o espectáculo do céu nocturno, mas nem por isso este deixou de ser uma forte inspiração para os escritores de canções pop. Das décadas de 70 e 80 até aos dias de hoje, não faltam pérolas sobre as estrelas, algumas tão boas que nos conseguem até levar ao céu. No dia em que, provavelmente, vai andar de cabeça no ar a olhar para as estrelas à procura do eclipse total da lua, o maior do século XXI, deixamos-lhe uma banda sonora para acompanhar. São dez canções para ouvir à luz das estrelas. Recomendado: Dez canções para ouvir ao luar

Publicidade
Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade