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The Smashing Pumpkins
© Linda Strawberry

Sete videoclips sobre a adolescência

Embora muito tenha mudado, a adolescência continua a ser tema de muitas canções pop-rock e dos respectivos videoclips.

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Como canta Billy Corgan em “1979”, ninguém sabe onde irão acabar os seus ossos, quiçá desfar-se-ão em poeira e serão esquecidos e absorvidos nas entranhas da terra. De qualquer forma, ninguém pensa nisso quando tem 16 ou 17 anos e “a rua acende a urgência do agora”. O desassossego, a teen angst, as dores de crescimento, a dificuldade em expressar sentimentos – mas também o puro prazer de se estar vivo num belo dia de Verão e não haver uma nuvem de preocupação ou responsabilidade no horizonte – são a matéria destes oito videoclips de bandas como Smashing Pumpkins, Sigur Rós, Nada Surf ou Arcade Fire.

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Sete videoclips sobre a adolescência

“1979”, dos Smashing Pumpkins
©DR

“1979”, dos Smashing Pumpkins

Ano: 1996
Realizador: Jonathan Dayton & Valerie Faris
Álbum: Mellon Collie and the Infinite Sadness

Nada nos dois primeiros álbuns dos Smashing Pumpkins, assentes numa fusão incandescente de riffs de Black Sabbath, vagas de distorção maciça e cintilações psicadélicas, faria prever uma canção como “1979”. É verdade que os discos anteriores da banda também tinham remansos calmos, mas estes assumiam a forma de baladas acústicas. Porém, esta evocação onírica e nostálgica da adolescência de Billy Corgan e do espírito de irrequietude e dos anseios típicos da idade, tem uma bateria invulgarmente minimal e linear para os padrões da banda, recorre a loops e efeitos electrónicos e tem mais influências do post-punk dos anos 80 (New Order, The Cure) do que do heavy metal da viragem dos anos 60-70.

Corgan delineou genericamente o enredo do videoclip e a realização foi confiada à dupla Jonathan Dayton & Valerie Faris, que já tinha realizado o clip de “Rocket” e que viria a ganhar (merecida) fama com a sua primeira longa-metragem Little Miss Sunshine (2006). A série de vinhetas mostra um grupo de adolescentes tentando combater o enfado através de divertimentos desmiolados e actos de irreverência e vandalismo, talvez não muito diferentes daqueles que Corgan viveu no início da década de 80 nos subúrbios de Chicago (em 1979 ele tinha apenas 12 anos, enquanto os miúdos do videoclip são um pouco mais velhos). Os Smashing Pumpkins intervêm no enredo animando uma descontrolada festa para adolescentes numa casa particular (para exaspero dos vizinhos), e os seus membros fazem pequenos papéis ao longo do videoclip. Esta agridoce e nostálgica celebração de um tempo que não voltará é considerada por Corgan como o melhor videoclip dos Smashing Pumpkins e venceu o prémio da MTV desse ano para “Melhor Videoclip Alternativo”.

“Popular”, dos Nada Surf
©DR

“Popular”, dos Nada Surf

Ano: 1996
Realizador: Jesse Peretz
Álbum: High/Low

“Popular” foi o 1.º single do álbum de estreia dos Nada Surf e foi o maior êxito da banda, que, embora se mantenha no activo e, desde então, tenha lançado mais sete álbuns (todos tão recomendáveis como o primeiro), não voltou a lograr um sucesso comercial comparável. A letra é, essencialmente, uma colagem de excertos de uma livro de conselhos para adolescentes lançado em 1964 pela estrela televisiva Gloria Winters: o Penny’s Guide to Teen-Age Charm and Popularity.

Eis um exemplo: “Ser atraente é a coisa mais importante que existe. Se queres pescar o maior peixe do teu lago, tens de ser tão atraente quanto possível. Assegura-te de que o teu cabelo está sempre imaculadamente limpo. Lava-o pelo menos de duas em duas semanas. E, se no átrio da escola, passares pelo Jonny, o craque do futebol, diz-lhe que ele jogou muito bem, diz-lhe que gostaste do seu artigo no jornal [da escola]”. E Winters prossegue, dispensando conselhos às raparigas sobre como começar e acabar namoros: “evita discursos emotivos e floreados quando lhe deres a notícia [...] ele reconhecerá a maneira frontal como lhe comunicaste a tua decisão e, a não ser que seja um verdadeiro imbecil ou um bebé-chorão, vocês continuarão amigos”.

Tudo isto pode parecer um pouco bizarro na Europa, mas nos EUA, em que a escola secundária sempre se regeu por uma rígida e disputada hierarquia de popularidade, dominada pelos “quarterbacks” e pelas suas “cheerleaders” (e cuja competição feroz e sem escrúpulos acaba por reflectir-se no espírito da sociedade americana), tudo isto é terrivelmente sério. Claro que o vocalista Matthew Caws (que, no videoclip surge como professor) realça a hipocrisia, frieza e artificialidade deste “sistema de castas” ao reinterpretar o “guia adolescente para a popularidade” num tom sarcástico.

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“Vidrar Vel Til Loftárása”, dos Sigur Rós
©Yoshika Horita

“Vidrar Vel Til Loftárása”, dos Sigur Rós

Ano: 2002
Realizador: Arni & Kinski (Stefán Árni Thorgeirsson & Sigurdur Kjartansson)
Álbum: Ágaetis Byrjun

Os post-rockers islandeses Sigur Rós já tinham lançado em 1997 o álbum Von, mas este tivera vendas residuais no país natal e passara despercebido no resto do mundo, e só com o opus 2, Ágaetis Byrjun (1999),  a sua música começou a obter o devido reconhecimento.

Um dos momentos superlativos de Ágaetis Byrjun (aliás, de toda a produção dos Sigur Rós) é “Vidrar Vel Til Loftárása”, uma canção melancólica e atmosférica que culmina num imponente crescendo orquestral e cujo título significa algo como “tempo ideal para ataques aéreos”, frase “pedida emprestada” a um locutor da TV islandesa que cobria os raids da NATO sobre Belgrado.

O videoclip foi rodado no final de 2001 e tem os membros dos Sigur como figurantes. Gerou controvérsia pela sua narrativa, que não parece ter relação com o título ou com a letra e que versa a paixão entre dois rapazes no início da adolescência num recanto da Islândia de meados do século XX, paixão que conhece um inesperado coming out a meio de uma partida de futebol amador, para estupefacção e reprovação da comunidade.

“Lazy Eye”, dos Silversun Pickups
©Citizen Kane Wayne

“Lazy Eye”, dos Silversun Pickups

Ano: 2007
Realizador: Suzie Vlcek
Álbum: Carnavas

“Lazy Eye” foi o 3.º single do álbum de estreia dos angelinos Silversun Pickups, banda que, pela forma de cantar de Brian Aubert e pela sonoridade dos seus primeiros álbuns, tem sido comparada a Smashing Pumpkins, embora também acolha elementos de shoegaze e synth pop e tenha afinidades pontuais com Sonic Youth (por exemplo neste “Lazy Eye”).

Não surpreende que o videoclip de um tema intitulado “Lazy Eye” seja construído em torno de jogos de olhares, mas a verdade é que não há grande coincidência entre a letra da canção e o enredo do videoclip. Na verdade, este decalca fielmente uma cena de En Kärlekshistoria, filme realizado em 1970 por Roy Andersson e conhecido internacionalmente como A Swedish Love Story. Na referida cena, os adolescentes Pär e Annika, que estão apaixonados mas ainda não tiveram coragem de o confessar, combinaram encontrar-se num clube (onde actua uma banda, que no videoclip é, claro, os Silversun Pickups), mas a timidez de Annika leva a que se afaste e Pär julga que ela está a rejeitá-lo. Não só há similitude na narrativa como a forma como é filmada e as roupas e as posturas do rapaz e da rapariga são similares às de Pär e Annika na referida cena. A grande diferença é que o videoclip propõe um “final feliz”, em que o duplo equívoco é desfeito a tempo e o rapaz e a rapariga acabam por encontrar-se.

[Cena do clube no filme de 1970]

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“Take Me to the Riot”, dos Stars
©Shervin Lainez

“Take Me to the Riot”, dos Stars

Ano: 2007
Realizador: Benjamin Weinstein
Álbum: In Our Bedroom After the War

A canção faz parte do 4.º álbum dos canadianos Stars e o videoclip é mais um caso em que o enredo representado – um rapaz de uma pequena e sonolenta vilória de província passa uma noite na grande cidade – não coincide necessariamente com a letra, que parece assumir o ponto de vista de um dealer que fornece droga aos rapazes e raparigas de olhar vazio.

“Weekend”, de The Sea And Cake
©DR

“Weekend”, de The Sea And Cake

Ano: 2008
Realizador: Tim Sutton
Álbum: Car Alarm

Os The Sea and Cake lançaram o seu 1.º álbum há um quarto de século e produziram mais uma dezena desde então, mas têm sempre mantido um perfil discreto, raramente lançando singles ou videoclips e investindo pouco em promoção, pelo que o videoclip para “Weekend” – uma das suas canções mais enérgicas e luminosas – é inesperadamente elaborado. Evoca o dia de verão perfeito de um grupo de miúdos americanos dos subúrbios entregues a si mesmos.

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“The Suburbs”, dos Arcade Fire
©Guy Aroch

“The Suburbs”, dos Arcade Fire

Ano: 2010
Realizador: Spike Jonze
Álbum: The Suburbs

O videoclip da canção “The Suburbs”, também nos dá a ver miúdos americanos dos subúrbios entregues a si mesmos, fazendo as coisas desmioladas que os adolescentes fazem para não se enfadarem num lugar onde não acontece nada – porém, o início distendido acaba por tomar caminhos inquietantes e amargos.

O videoclip é uma versão condensada da curta-metragem Scenes from the Suburbs, com guião de Spike Jonze (realizador de Being John Malkovich, Adaptation, Where the Wild Things Are) e Will Butler (vocalista dos Arcade Fire), que estreou em 2011 no festival SXSW e que funciona como um mega-videoclip para o álbum The Suburbs, o 3.º dos Arcade Fire.

Embora o enredo de Scenes from the Suburbs seja deliberadamente pouco explícito, percebe-se que a acção decorre num presente “alternativo”, em que os EUA estão fraccionados num manta de retalhos de cidades-estado e subúrbios-estado, cada um com o seu mini-exército e que passam o tempo envolvidos em conflitos. Um desses conflitos acaba por lançar uma sombra sobre o ambiente distendido do grupo de adolescentes, levando ao surgimento de tensões que irão despedaçar a amizade entre dois deles (Kyle e Winter) e levar um deles (Winter) a perder a candura inicial e apartar-se irremediavelmente do grupo. Se o enredo da versão de 30 minutos nem sempre é claro, a versão condensada é ainda menos inteligível, mas isso não a impede de ser um dos mais fascinantes videoclips pop-rock.

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