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Kosmicare: os guardiões das festas

A Kosmicare começou no Boom Festival e tem um espaço na Penha de França onde testa drogas, dá conselhos sobre consumos e consultas. Tudo grátis. Falámos com eles.

Escrito por
Clara Silva
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O serviço é gratuito e anónimo. Às terças e quartas, das 16.00 às 21.00, e sem marcação, qualquer pessoa pode entregar uma pequena amostra das suas drogas recreativas no centro pioneiro da Kosmicare, na Penha de França, que inclui um serviço de drug-checking. Os resultados chegam na sexta-feira seguinte e, quase sempre, vão influenciar o consumo.

“O que têm de deixar é muito pouco”, diz Helena Valente, psicóloga, investigadora e uma das cerca de dez pessoas que fazem parte da equipa principal da Kosmicare, entre psicólogos, psiquiatras, químicos, farmacêuticos e antropólogos. Segundo o site da associação bastam 20-30 mg de pó ou pastilha. “São destruídos durante a análise, não devolvemos.” No entanto, entregam um relatório que pode ser precioso e mostra se o produto foi adulterado e qual a concentração de determinada substância, para incentivar consumos mais informados e uma “redução de danos”, evitando bad trips, intoxicações ou até situações mais graves. “Tentamos potenciar que as coisas corram o melhor possível.”

Entre Novembro de 2019, quando o centro abriu portas, e Novembro do ano passado, meses antes da pandemia e do ritmo de testes (e de festas) abrandar, analisaram 236 amostras, a maioria (45%) de MDMA, além de LSD (18%) ou cocaína (8%).

Super-man
Os resultados dos testes mostram que o produto consumido não é aquilo que muitos esperavam: “Metade das amostras submetidas como cocaína não continham a substância esperada ou estava adulterada com outras.” Já metade das amostras de MDMA excediam a dose recomendada por noite (125 mg) e tinham, em média, 189 mg. Nos últimos testes, feitos entre Maio e Junho deste ano, os resultados eram ainda piores: todas as pastilhas analisadas tinham doses elevadas de MDMA, a maioria com mais de 200 mg. Valores que são semelhantes aos recolhidos por outras equipas noutras cidades da Europa e que mostram uma tendência mundial de “circulação de pastilhas com elevadas doses de MDMA”. Os riscos associados são “taquicardia, hipertensão arterial ou hipertermia, que podem ser fatais”, lê-se no relatório.

A investigadora Helena Valente recorda as pastilhas que ficaram conhecidas há uns anos como Super-man (pelo desenho de um S de Super-Homem) e que originaram overdoses pelo mundo fora por conterem adulterantes tóxicos como o PMMA, com efeitos mais retardados. “Países com drug-checking, como a Holanda, com serviços do próprio governo, detectaram isso e emitiram alertas, até nos media”, refere.

A Kosmicare em Lisboa existe de forma permanente e com um espaço próprio desde 2019 – resultado do financiamento do SICAD – Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências e da Câmara de Lisboa – mas já tem quase 20 anos: começou como um pequeno stand informativo sobre drogas no Boom Festival, em Idanha-a-Nova, em 2002. “Inicialmente era uma parte de gestão de crise psicológica, que podia ou não estar associada ao consumo de substâncias, com pessoas que estavam a passar por situações complicadas, bad trips, e que encontravam ali um suporte”, conta Helena. Em 2006 já faziam drug-checking no festival, ainda que com “técnicas precárias”. Hoje, além do seu próprio laboratório, têm uma parceria com o Laboratório Egas Moniz para testar substâncias desconhecidas.

O Boom deu-lhes o empurrão inicial para se constituírem como associação, mas “fazia sentido ter um espaço fixo, era uma ideia que já andávamos a namorar há algum tempo.” As pessoas que têm procurado a Kosmicare, principalmente o serviço de drug-checking, são na maioria homens, entre os 25 e os 35 anos (a média de idades é de 28/29 anos), com o ensino superior, que trabalham e que frequentam festas e festivais.

Kosmicare, Infografia
©DR

Rumo ao Norte
“Para quando drug-checking no Porto? Urgentemente necessário”, pergunta alguém na página de Instagram da Kosmicare. A associação está a planear a abertura de um espaço a norte em breve, embora ainda não saiba quando. Por enquanto, além do “drop-in” em Lisboa, onde também dão consultas de apoio psicológico e conselhos sobre consumos, tentam informar os seguidores através de posts no Instagram. Alguns desmistificam ideias associadas aos consumos. Por exemplo, que a cocaína corta o efeito do álcool, que as pastilhas são mais estimulantes do que o MDMA em cristal ou que passar a chama do isqueiro num filtro é o suficiente para desinfectar. Tudo falso.

Os cogumelos e a canábis estão fora das substâncias testadas, mas merecem atenção nas recomendações nas redes sociais. Aliás, muitos dos pedidos de ajuda durante a pandemia, quando o consumo de MDMA e de cocaína caíram, foram relacionados com canábis.

O drug-checking, “a resposta possível dentro desta política proibicionista”, já recuperou a sua afluência pré-pandemia e é um serviço indispensável para que o resto do trabalho da Kosmicare funcione. “Está provado que a informação com equipas que fazem drug-checking é tida como mais fidedigna, o que potencia mais ainda o nosso trabalho.”

Quanto aos testes, surtem efeito: mais de 90% das pessoas deita as substâncias fora quando não são aquilo que estavam à espera.

Rua Cesário Verde, 17 B (Penha de França). Drug-checking Ter-Qua 16.00-21.00.

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