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Duro de Matar
Francisco Romão PereiraDuro de Matar

A fábrica de unicórnios não é só trabalho. Há tacos, música e café

No Hub Criativo do Beato, o Duro de Matar é uma taqueria vegan e vegetariana, onde a música não pára de tocar. Já o The Royal Rawness quer dar a experimentar café de especialidade.

Escrito por
Beatriz Magalhães
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Há tacos, mas não levam carne de vaca. Há aguachile, mas não leva camarão. Há tostada, mas não leva queijo. No Duro de Matar, os clássicos são reinventados e as novas criações espreitam o futuro. Nesta taqueria não entram os produtos de origem animal, mas nem por isso deixam de reinar os sabores mexicanos.

Desde Agosto de 2023, na Factory Lisbon, no Hub Criativo do Beato, habita mais um projecto do colectivo Foodriders – é deles o Las Gringas e a Ameaça Vegetal. No espaço de uma antiga tipografia, o Duro de Matar quer ser paragem obrigatória para os amantes de comida mexicana, ou para aqueles que ainda não sabem que o são. 

Duro de Matar
Francisco Romão Pereira

À semelhança do que já fazem na Ameaça Vegetal, também aqui a cozinha é vegan e vegetariana, celebrando-se os ingredientes de origem local. Damian Junior Gong, um dos responsáveis pelo projecto, apelida este Duro de Matar de ‘third-wave taqueria'. “O conceito vem da ideia de ‘third-wave coffee’, em que há uma preocupação acerca da origem dos ingredientes e em não transformar demasiado o grão de café”, explica. “Estamos a usar ingredientes orgânicos e locais portugueses, mas com técnicas e sabores do México, e é tudo plant-based, não usamos açúcares nem gorduras extra, então é saudável.”

Duro de Matar
Francisco Romão Pereira

Há mais de dez anos, quando Damian veio do México para Portugal, os restaurantes mexicanos que encontrava pela cidade “não representavam realmente a comida mexicana”. Hoje, no Duro de Matar, os pratos não são uma cópia dos clássicos mexicanos, mas sim uma reinterpretação dos mesmos. “Para mim, com a comida, é mais sobre memórias, porque eu não quero replicar as receitas da minha família, quero sim replicar a memória de comer um prato. É tentar juntar as peças que compõem uma memória e torná-las num prato que me lembra dessa memória”, conta.

Ao passar pela porta, é difícil escapar aos pormenores que remetem à anterior residente do espaço. Segundo Marta Fea, co-responsável do projecto, houve um cuidado em preservar a história da antiga tipografia, sem fazer grandes mudanças. Ainda é possível ver as marcas do trabalho que ali era feito, sendo que alguns materiais foram reutilizados, como é o caso do vidro das janelas.

Aguachile Duro de Matar
Francisco Romão PereiraAguachile

Quando entramos, o restaurante é grande, o ambiente é descontraído e a música percorre o espaço. “No projecto, a maior parte de nós toca música e por isso há sempre música envolvida, nós gostamos muito de música, de caos, de barulho e de celebrar”, realça Damian. Num estilo descrito como “garage dive bar chic” e “trashy cool”, este restaurante não foi feito para se ir apenas comer, mas sim para se passar um bom bocado. 

À mesa, sob as luzes vermelhas, esperamos pelos pratos. Da cozinha, aberta para a sala, começam a chegar as entradas: guacamole com totopos (7€), tortillas fritas com abacate, coentros, lima e tomatillo verde, e totopos com pico de gallo con piña (5,50€), tortillas fritas com ananás, habanero, coentros, lima e cebola; bem como aguachile (7,50€), com aipo, lima, coentros, pepino, jalapeño, “nasturtium leaves” a acompanhar tostadas de milho orgânico, um prato típico da zona costeira mexicana.

Roasted pumpkin tacos duro de matar
Francisco Romão PereiraRoasted pumpkin tacos

A carta é pequena, mas aos poucos vai crescendo. Destacam-se tacos e tostadas: a tostada de hinojo en mole verde (6,50€) leva funcho assado, agave, alho, pistáchio, limão em conserva, raízes de funcho, tomatillo e espinafre; os roasted pumpkin tacos (6,50€) levam abóbora assada, “adobo de ‘chile’ arbol e coco”, sementes de abóbora assada, natas azedas de funcho e lima; enquanto os tacos al pastor (7€) são feitos com achiote, “chile guajillo”, ananás, cogumelos shitake marinados com ervas e “soy curls”, cebola e coentros. O picante não fica de lado, não fosse este um restaurante mexicano. “Aquilo que eu gosto na cozinha mexicana não é o picante, mas sim a quantidade de pimentas disponíveis com diferentes sabores, tanto são picantes, doces, com sabor a terra”, afirma Damian.

caqui y crema duro de matar
Francisco Romão PereiraCaqui y crema

Para sobremesa, a única à escolha é caqui y crema (6,15€), dióspiro, maracujá fresco, caramelo de amendoim, creme de laranja e raspas de lima. No bar, as bebidas vão dos vinhos portugueses aos cocktails. A carta inclui três versões de margarita – a diehard (11€), a mezcal (12,50€) e a sin verguenza (8,50€) –, mezcal negroni (13,50€), toma-tini (9€), um martini com tomatillo brine, e ainda uma adaptação da clássica piña colada, a even rambo goes on vacation (11,50€).

Margarita, mezcal negroni e toma-tini duro de matar
Francisco Romão PereiraMargarita, mezcal negroni e toma-tini

O restaurante estende-se a mais duas salas, uma no piso inferior e outra no piso superior, onde, ocasionalmente, acontecem eventos e exposições de arte. No piso principal, depois de passar o bar, tem lugar uma sala ocupada pela East Side Radio, rádio independente sedeada em Lisboa. 

Por agora, o restaurante abre de quinta a sábado ao jantar, mas o objectivo é passar a abrir todos os dias, também à hora de almoço.

Umas portas abaixo, há um outro novo morador. Falamos do The Royal Rawness, sítio de café de especialidade. O espaço abriu há dois meses e oferece vários tipos de café, torrados e moídos no local. “Os jovens, tal como já não consomem vinho da mesma maneira, também já não consomem café da mesma maneira, e muitos até chegam e dizem 'eu não gosto de café' ou 'eu não tomo café'”, diz Paulo Pinho, fundador do The Royal Rawness. E porquê? O responsável pelo espaço acredita que se deve a uma “primeira experiência amarga” e que “depois de dois a três testes, há pessoas que bebem este café duas, três vezes por dia”.

the royal rawness
Francisco Romão Pereira

 

Os grãos de café, directamente importados de várias partes do mundo, das Honduras, do Brasil, do México, do Quénia, da Costa Rica e do Myanmar, são torrados e moídos no local, num processo que procura realçar o sabor dos grãos de café e que assenta em técnicas à mão. Ao contrário do “café comercial”, o uso de grãos Arábica torna o sabor do café “menos amargo, mais doce, acídico e equilibrado”. 

Segundo o fundador, o que distingue a The Royal Rawness é o uso de misturas de café. “Misturamos vários cafés para atingir um propósito que, se calhar, é mais gourmet ou gastronómico do que de especialidade, não precisamos de ser um laboratório, queremos que seja uma coisa apreciada por todos.” 

the royal rawness
Francisco Romão Pereira

No menu, encontra café de filtro (4,50€), além de opções como cappuccino (3,50€), latte (3,50€), flat white (3€), macchiato (2,50€) e chocolate quente (3€). Se preferir algo mais forte, há espresso martini e cerveja com café, produzida no espaço. Para comer, a pastelaria tem mão da Lully 1661, a padaria artesanal que abriu há pouco tempo no Beato. Em breve, também estará disponível um “juice bar” com kombucha.

the royal rawness
Francisco Romão PereiraCappuccino, latte e flat white

 

Para alguns, o The Royal Rawness pode já não ser uma novidade. Antes de se mudar há dois meses para o Hub Criativo do Beato, já tinha passado pelos antigos armazéns da Abel Pereira da Fonseca e, depois, pelo edifício da Bolina, ambos em Marvila. "A pressão da habitação em Lisboa também se repercute no lado comercial, mas agora sim, estamos num espaço para um projecto para dez anos, com um horizonte largo", afirma Paulo Pinho.  

O café, localizado num dos edifícios da fábrica de unicórnios, estende-se por dois pisos, sendo que o piso superior, onde se encontra uma grande mesa de madeira, serve para coworking e também para a organização de eventos. A decoração segue uma linha industrial, com o intuito de preservar a identidade do edifício.

Hub Criativo do Beato, Av. Infante Dom Henrique 143. Duro de Matar Qui-Sáb 18.00-00.00. The Royal Rawness Seg-Sex 08.00-17.00

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