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“A história do jazz português dos últimos 20 anos confunde-se com a história da Festa do Jazz”

A Festa do Jazz de Carlos Martins tem acompanhado e elevado o jazz português ao longo das últimas duas décadas. A 20.ª edição acontece entre sexta-feira e domingo.

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Há muitos e bons festivais de jazz em Portugal. Mas a Festa do Jazz é especial. Ao longo de 20 edições, o ciclo programado por Carlos Martins e promovido pela associação Sons da Lusofonia tem acompanhado o que acontece e está para acontecer no jazz português, seja ele mais consensual ou quase marginal e livre. E vai continuar a acompanhá-lo entre esta sexta-feira, 16, e domingo, 18, sobretudo no Centro Cultural de Belém (CCB), mas também no Picadeiro Real e na vizinha Livraria Ler Devagar da LX Factory, com um programa onde tanto cabem a voz de Salvador Sobral ou as percussões do indiano Trilok Gurtu como o híbrido de jazz e hip-hop do projecto JAZZOPA e a experimentação mais livre das Lantana.

Segundo o programador, Carlos Martins, o balanço destes anos é “muito positivo, mas ao mesmo tempo muito desafiante”. E é positivo porque a Festa do Jazz ajudou a criar “uma comunidade, uma rede portuguesa de jazz”; promoveu muitos concertos, estreias e encomendas; assistiu “ao despontar dos grandes músicos de jazz que ganharam o Concurso Nacional de Escolas”; ajudou a “internacionalizar o jazz português, através da Europe Jazz Network”. Mas sobretudo porque há “um livro [publicado em 2020] em que se percebe que a história do jazz português dos últimos 20 anos se confunde com a história da Festa do Jazz”, segundo Carlos Martins.

Os maiores desafios, no entanto, continuam a ser criar novos públicos e trazer outros corpos e experiências para dentro do jazz. Nesse sentido, Carlos Martins faz três perguntas: “O que podemos fazer para ter mais pessoas a ouvir jazz?”; “Sendo Lisboa uma cidade plena de afro-descendentes, e o jazz uma música afro-americana, porque não há mais afro-descendentes a tocar jazz?”; “Porque não há mais mulheres instrumentistas?”. Não conseguimos responder. Há múltiplas razões para isso, e o director do festival garante que continua a trabalhar para que, um dia, não seja tão relevante colocar estas questões.

O primeiro momento da programação, agendado para as 21.00 de sexta-feira, 16, no Grande Auditório do CCB, reflecte algumas destas preocupações. “Há 27 anos que a Sons da Lusofonia trabalha nas áreas artísticas e sociais e trata ambas com igual cuidado. Estabelecemo-nos na cidade como uma associação responsável e com vários parceiros, e resolvemos convidar [para o concerto de abertura] todos esses parceiros: os actuais, os antigos, pessoas dos bairros que normalmente não viriam ao CCB”, detalha o curador. Intitulado “Convite à Cidade: 20 anos de Festa do Jazz”, o concerto de abertura junta o reputado músico indiano Trilok Gurtu (percussões) a Yuri Daniel (contrabaixo) e João Paulo Esteves da Silva (pianos), com Carlos Martins (saxofone), João Frade (acordeão) e Mário Delgado (guitarra) como convidados.

O destaque de sábado, 17, é a actuação de Salvador Sobral, acompanhado pelo pianista catalão Marco Mezquida. “O Salvador é incrivelmente generoso e atento e amigável com as pessoas e as organizações. Ele já tinha manifestado uma vontade enorme de vir à Festa, e tivemos uma conversa que se tornou num concerto”, conta Carlos Martins. “Isso agrada-me porque é um talento e apresenta outra franja do jazz que me interessa ter sempre presente.”

Mas há mais música para ouvir no sábado, 17, incluindo os primeiros concertos do Encontro Nacional de Escolas, no Picadeiro Real, e as actuações de Nazaré da Silva Quinteto, do grupo com quem o contrabaixista Hugo Carvalhais gravou o álbum Ascetica, e das Lantana, a banda de notáveis improvisadoras e compositoras como Maria Radich (voz), Anna Piosik (trompete), Helena Espvall (violoncelo), Joana Guerra (violoncelo), Maria do Mar (violino) e Carla Santana (electrónica), no CCB.

Por fim, no domingo, 18, há mais um debate e concertos do Encontro Nacional de Escolas, no Picadeiro Real, bem como actuações de Thiago Alves com Júlia Perminova e André Sousa Machado e numa jam session, na Livraria Ler Devagar da LX Factory, tudo à borla. Já o CCB acolhe primeiro os JAZZOPA, às 16.30, seguidos do projecto Ninhos de Joana Raquel e Miguel Meirinhos, às 17.30. À noite tocam o trio Perselí e o quarteto internacional de Gonçalo Marques (trompete) e Demian Cabaud (contrabaixo) com Bram de Looze (piano) e Jeff Williams (bateria).

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