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Colombina Clandestina
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Abram alas para o Carnaval activista da Colombina Clandestina

É uma explosão de música e dança e um espaço de liberdade para minorias. O próximo cortejo sai à rua já este sábado.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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A palavra é "artivista" e reflecte a combinação de diferentes expressões artísticas, entre elas a música e a dança, com o propósito de integrar e enaltecer as várias minorias sociais que compõem o mapa de Lisboa. É assim que se define Colombina Clandestina, um colectivo criado em 2013 que, ano após ano, atinge o seu clímax nesta altura do ano. Um Carnaval com múltiplas raízes e referências, que volta a sair à rua e a cirandar pela cidade já este sábado.

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"Fomos os pioneiros a resgatar o movimento do Carnaval de rua. Esta ideia de bloco vem do Brasil, mas não nos definimos como um núcleo de Carnaval brasileiro, somos do mundo inteiro. Aliás, existiu em tempos Carnaval de rua em Portugal, mas a tradição perdeu-se nos anos 20 com o início da ditadura — o Carnaval é sempre uma manifestação política de liberdade", explica Andréa Freire, uma das três fundadoras do colectivo.

A celebração é contagiante e qualquer um se pode juntar ao cortejo que começa junto ao Panteão Nacional e termina no Largo da Graça, seis horas depois. Da última vez que a Colombina Clandestina saiu à rua, há duas semanas, foram mais de 2000 as pessoas que se juntaram no Largo de São Miguel, em Alfama, um evento solidário que permitiu angariar 80 quilos de alimentos e produtos de higiene para moradores carenciados do bairro e ainda apoiar negócios locais.

A relação com o bairro estende-se a outras dimensões. Mesmo durante a pandemia, um período de quase dois anos durante o qual a folia não saiu à rua, as aulas de música e os pequenos ajuntamentos foram acontecendo sempre que as medidas decretadas pelo Governo o permitiam. A música do colectivo, incluindo temas originais, continuou a ser partilhada através das plataformas de streaming e a Colombina Clandestina chegou mesmo a ser escolhida, juntamente com outros nove projectos portugueses considerados de alto impacto social, para entrar num programa de aceleração da Casa do Impacto. 

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"Usamos o Carnaval como forma de transformação, razão pela qual as nossas performances têm como objectivo dar protagonismo às minorias e a nossa música amplifica esta mensagem de que é preciso criar um diálogo, uma ponto entre elas e a sociedade". Feministas, pessoas LGBTQI+ e imigrantes estão no centro de um movimento que quer combater a invisibilidade destas comunidades.

A música é uma parte fundamental do cortejo. Com 40 elementos, a bateria ensaia desde Setembro para a performance deste sábado. Paulo Chagas descobriu o projecto em 2018 e é hoje o mestre de serviço. "Nesse mesmo ano, surgiu a oportunidade de estar mais envolvido. O mais interessante é essa troca de experiências que o colectivo proporciona, entre pessoas com formação musical e pessoas que têm interesse em aprender", afirma.

O repertório é extenso — samba, funk, "marchinhas", ciranda e laivos de reggae. Sopros e instrumentos de percussão acompanham todo o percurso pelas ruas de Lisboa, que Paulo classifica como "longo e intenso". "Para mim, é isso que define a Colombina — fazemos história nestes cortejos". Além de brasileiros e portugueses, a estrutura conta com a participação de italianos, chilenos, espanhóis, peruanos e alemães. No total, são já 80 os elementos de uma equipa responsável por música, dança, direcção artística, comunicação, fotografia e vídeo, figurinos e maquilhagem. 

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"Não estamos a fazer nenhum desfile de Carnaval. É uma performance e o público é essencial para que ela aconteça. É este o verdadeiro significado de ocupar o espaço público, uma ferramenta de alteração de mentalidades e de transformação do futuro", acrescenta Andréa. 

O Carnaval pós-pandemia terá um sabor especial. No centro estará a figura do palhaço rico, personagem que assumiu especial relevo em 1919, ano do maior Carnaval da história do Brasil, por ter sido o primeiro depois do país ser assolado pela gripe espanhola. Depois de Lisboa, a Colombina Clandestina parte em digressão pela Europa, com Espanha e Alemanha já confirmadas como paragens. Mas este colectivo também já está de olhos postos na próxima festividade, com a promessa de que a parada irá tomar conta de ruas de Lisboa também nos Santos Populares.

No sábado, ao cortejo a céu aberto segue-se o Baile da Colombina. A festa, organizada pelo colectivo, terá lugar na Voz do Operário e tem entrada paga. Afinal, trata-se de um projecto sem intuitos comerciais e com necessidade de se financiar. Uma festa depois da festa, que levará a celebração do Carnaval até à meia-noite.

Panteão Nacional. Sáb 13.00. Entrada livre. Baile da Colombina: Voz do Operário, Sáb 18.00. Bilhetes: a partir de 10€.

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