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50 degraus. Não é difícil vencer a altura em direcção à Torre da Igreja do Castelo, o novo e badalado miradouro de Lisboa localizado numa torre que nunca esteve aberta ao público.
Pouca gente terá memória de subir a esta torre sineira acoplada ao primeiro templo cristão construído logo após a conquista da cidade por D. Afonso Henriques em 1147. A Igreja de Santa Cruz do Castelo, que sofreu danos sérios com o terramoto de 1755, sendo reconstruída pouco tempo depois, esteve praticamente fechada ao público nas últimas duas décadas, com a excepção de uma missa ao sábado celebrada pelo padre Edgar Clara, que nos guiou nesta visita, juntamente com Luís Aguiar Campos, sócio-gerente da Signinum, empresa especializada no restauro de património e em marketing cultural.
Foi aliás Luís Aguiar Campos que chegou com uma proposta que valorizasse e tornasse a abertura das portas desta igreja mais sustentável para a paróquia: a abertura ao público de uma torre com quatro sinos de bronze, oficialmente chamada Torre da Igreja do Castelo. A entrada faz-se pela antiga capela mortuária, agora loja com merchandising e bilheteira, que dá acesso aos 50 degraus em direcção à torre, ela própria assente numa torre da muralha do Castelo de São Jorge. Lá chegados, é possível tocar no bronze dos sinos (que passam a badalar todos os dias ao meio-dia) e ver Lisboa como nunca viu. A lotação será de sete a dez pessoas por cada subida e a vista que se destaca é sobre o rio Tejo (se se virar para trás ainda consegue ver um conjunto de vestígios arqueológicos do castelo). A cereja em cima do bolo é um sino em cima da cabeça: a sugestão de Luís Aguiar Campos é que se sente debaixo de um sino, procure o enquadramento para que pareça um grande chapéu e partilhe a imagem nas redes sociais usando o recém-criado hashtag #chapeudebronze. Sinais dos tempos.
A partir desta quinta-feira ao final do dia entrará na rede o site www.torredaigrejadocastelo.pt, que lhe dará todas as informações e onde também será possível comprar bilhetes: o normal custa 3,5€ e o prioritário 5€.
Para ajudar no contínuo restauro da igreja e para que seja possível estar aberta todos os dias gratuitamente entre as 09.00 e as 21.00 estão também a ser organizadas visitas guiadas à igreja por uma equipa multidisciplinar (um dos elementos até fala língua gestual portuguesa) e que vão arrancar em dois horários fixos, dois de manhã, outros dois da parte da tarde. O preço da visita é de 5€, mas valerá a pena: a arte sacra inclui A Última Ceia, de Pedro Alexandrino, uma belíssima Trindade em pedra do século XV instalada por cima da pia baptismal, e ainda vai ficar a saber porque é que a devoção desta casa é a Santa Cruz do Castelo e não um santo que já tenha sido de carne e osso.
Largo de Santa Cruz do Castelo
"Este será sempre um espaço de oração", defende Edgar Clara, adiantando nunca lhe ter passado pela cabeça cobrar entrada para visitas à igreja. Mas era preciso um fundo de maneio para ajudar na limpeza, manutenção, restauro e até vigilância permanente. E garante que a vontade é que este seja também um espaço cultural, com uma dimensão espiritual e artística.