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Adeus Lesboa: a última festa é este sábado

Escrito por
Clara Silva
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Onze anos depois, a festa que tirou muita gente do armário chega ao fim este sábado, no Estúdio Time Out. Falámos com a mentora onde tudo começou.

Deu errado porque deu certo. É o que Vanessa Cotrim, 44 anos, costuma dizer quando fala da primeira Lesboa, que aconteceu há 11 anos no lugar onde nos encontramos com ela, na Gare Marítima de Alcântara, onde em Setembro de 2006 eram esperadas “no máximo 800 pessoas”, conta. “Apareceram duas mil. Foi um caos. Ninguém conseguia beber, ninguém conseguia entrar. No bar estavam quatro pessoas trabalhando…” Lá está, deu certo porque deu errado. Até “as Primas”, donas do bar com o mesmo nome no Bairro Alto, “foram barradas nesse dia à porta porque não cabia mais ninguém”, recorda Vanessa. “Eu tinha acabado de chegar do Brasil e nem sabia quem elas eram… Chegou até um autocarro do Porto e voltou para trás. Não cabia mais ninguém.”

Lisboa estava a precisar de uma festa assim. Na altura não havia nada do género. “Havia o Arraial [Pride], as discotecas, Trumps, Finalmente e o Brick e nada mais. Havia umas festas mas nada assumido.” Recém-chegada de São Paulo, Vanessa, ao telefone com uma amiga do Porto, começou a pensar em organizar uma festa virada para o público LGBT. “O nome seria The L Word Party, porque a convidada seria a Sarah Shahi, a DJ Carmen [da série de TV], mas ela cancelou porque tinha as gravações de um filme no momento em já estava tudo marcado.” Vanessa teve de arranjar uma alternativa e para remediar pediu o nome emprestado ao livro que a namorada estava a escrever: Lesboa.

Foi preciso também “enganar” a responsável pela Gare Marítima que quando viu o nome da festa torceu o nariz: “O que é que você está aprontando?” Na verdade, nos primeiros tempos o nome assentou que nem uma luva. “Na primeira festa, 80% eram mulheres”, conta. “Nunca vi tanta mulher na minha vida.” Depois o caso mudou de figura, em grande parte por causa da “música electrónica”.

“A Lesboa nasceu electrónica e a mulher não gosta disso. A dinâmica das mulheres é diferente da dos homens. Casam, preferem sair para jantar, ficam em casa. Os homens continuam saindo e prestigiando tudo.” A Lesboa virou Lesboy e a piada foi correndo nas festas. Mas na próxima, a de sábado, que será a última, espera-se que gente de todos os géneros se venha despedir. Afinal foram 11 anos de festas que mudaram Lisboa, em sítios tão diferentes como o Cristo Rei, a Faculdade de Medicina Dentária, Monsanto ou o Museu da Carris.

A Lesboa – The End será no Estúdio Time Out e, além de DJs (Bonnie & Clyde e Lydia Sanz já estão confirmadas), terá algumas surpresas como testemunhos de quem passou por lá. Como o casal que se conheceu na primeira Lesboa – “e que estão casadas até hoje”, conta Vanessa. “Lesboa iniciou tanta gente, tanta gente saiu do armário…” Mas se no início, Vanessa não podia identificar ninguém nos vídeos das festas, agora tudo é diferente e as mentalidades mudaram. “Fizemos o nosso papel, de abrir portas, e agora há outros papéis”, afirma. “Na vida temos de saber parar e não esperar que a coisa morra.”

Para o próximo ano já tem no forno um projecto feminista também ligado a festas.

Sábado, 00.00-06.00, Estúdio Time Out, Time Out Market (Cais do Sodré). 10€

+ Sair do armário - o melhor da agenda LGBT de Lisboa

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