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Apresentação do projecto para a Biblioteca António Lobo Antunes
Francisco Romão Pereira/Time Out

Ainda faltam dois anos para a Biblioteca António Lobo Antunes abrir portas em Benfica

Projecto foi apresentado esta quinta-feira, dia em que o escritor celebra 80 anos, mas há muito por fazer. “Temos que avançar rápido”, disse Carlos Moedas aos vereadores que o acompanharam na visita ao edifício da antiga Fábrica Simões. Rápido é 2024.

Hugo Torres
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Hugo Torres
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Uma década depois de ter sido posto pela primeira vez em cima da mesa, o projecto para a futura Biblioteca António Lobo Antunes foi finalmente apresentado publicamente. Nesta quinta-feira, dia em que o escritor completa 80 anos, a Câmara de Lisboa deu a conhecer a estrutura, ainda em betão, onde ficarão depositadas as cerca de 20 mil obras, manuscritos e outros documentos que constam do espólio do autor de Memória de Elefante ou Eu Hei-de Amar Uma Pedra. Deste acervo, uma pequena parte estará disponível para empréstimo (2700 livros) e o restante será de acesso reservado a académicos e investigadores. Mas isso só acontecerá daqui a pelo menos dois anos.

A biblioteca está inserida num empreendimento da construtora Teixeira Duarte, que transformou num complexo habitacional o que restava da antiga Fábrica Simões, uma unidade têxtil central à vida em Benfica durante o século XX, encerrada em 1987. E foi durante o processo de licenciamento, junto da autarquia, que ficou estabelecido que seria construído um equipamento cultural juntamente com os prédios de habitação – na apresentação, Carlos Moedas disse tratar-se de uma “doação”, que ainda precisa de ser formalizada em reunião de Câmara. Ora, a empreitada está, segundo afirmou o empresário Manuel Teixeira Duarte, a um mês de estar concluída. A biblioteca, não. A 19.ª biblioteca municipal de Lisboa ainda não tem data de abertura prevista. Tem uma meta: 2024.

Apresentação do projecto para a Biblioteca António Lobo Antunes
Francisco Romão Pereira/Time Out

“Aquilo que peço aqui aos senhores vereadores e às senhoras vereadoras é que, em 2024, estejamos perante a realidade desta biblioteca, que é muito mais do que uma biblioteca. É a Biblioteca António Lobo Antunes”, disse o presidente da Câmara, diante de três elementos do executivo: Laurinda Alves, Joana Almeida e Diogo Moura. É a este último, que tem o pelouro da Cultura, que cabe fazer avançar o projecto, uma vez que, de acordo com Carlos Moedas, tudo o que havia para tratar na área do Urbanismo está concluído. Durante a visita ao espaço, antes dos discursos formais, já tinha sido peremptório, dizendo em andamento à sua comitiva: “Temos que avançar rápido!”

Entre eles estava o presidente da Junta de Freguesia de Benfica, Ricardo Marques (PS), que lembrou que o espólio esteve na vertigem de ser doado a outra cidade, ou até de ser depositado fora do país, e que quem havia ajudado a dar um empurrão definitivo a este projecto fora Marcelo Rebelo de Sousa. “Namorei o senhor Presidente da República”, gracejou, recordando a “ousadia” de o abordar a este respeito durante as marchas populares de 2018. “Duas semanas depois, Isabel Alçada ligou-me.” A consultora da Casa Civil para a educação queria saber como poderia ajudar. Ricardo Marques mostra-se agora “contentíssimo” por as diferentes entidades envolvidas terem acolhido a “urgência” do projecto. “A Biblioteca Lobo Antunes está no sítio certo, que é o seu bairro de nascimento.”

Apresentação do projecto para a Biblioteca António Lobo Antunes
Francisco Romão Pereira/Time Out

O escritor nasceu em Benfica a 1 de Setembro de 1942, tendo vivido a infância e a juventude no bairro com os pais e os irmãos – “uma família marcante, histórica, e que a ele continua ligada”, nas palavras de Ricardo Marques, que disse ter tido longas conversas sobre o projecto com António Lobo Antunes (que também dá nome a uma biblioteca de Nelas, distrito de Viseu). Este não esteve na apresentação, mas a filha Joana e o neto José Maria, sim. “Estamos muito contentes por a colecção ficar em Portugal, em Lisboa e em Benfica, bairro em que o meu pai cresceu”, frisou Joana Lobo Antunes, que trabalha em comunicação de ciência e é professora universitária.

Moedas quis enfatizar a importância que este projecto tem para si com uma história sobre um outro pai, o seu. “Eu nasci na casa de um jornalista que me lia Lobo Antunes e que muitas vezes me dizia: filho, Lobo Antunes fala a verdade sobre aquilo que somos, o bom e o mau do ser humano. Para nós, em casa, era realmente uma maravilha. Talvez de todos os momentos que eu tenha na vida, este é um dos que tenho pena de o meu pai já não estar connosco, porque sei que ele teria um orgulho enorme.” O primeiro telefonema que fez como presidente da Câmara foi, aliás, para Lobo Antunes, revelou esta quinta-feira. O propósito era informá-lo do seu empenho no projecto, uma vez que o escritor havia doado a sua biblioteca pessoal à cidade em 2021. “Mas tive logo cinco telefonemas do Ricardo [Marques] no primeiro dia: e a Biblioteca Lobo Antunes, e a Biblioteca Lobo Antunes?”

Apresentação do projecto para a Biblioteca António Lobo Antunes
Francisco Romão Pereira/Time Out

“Para mim, é muito importante que em 2024, durante o ano de 2024, estejamos aqui para inaugurar a Biblioteca Lobo Antunes. Isso é importantíssimo para todos. É um projecto que já vem de 2012. Chegou a hora. É a hora”, assegurou Carlos Moedas, que prometeu revelar em breve tanto os valores da doação a fazer por parte da construtora como do investimento público envolvido. “Sabemos que muitas vezes há atrasos, mas acho que neste momento já não pode haver atrasos. Neste momento, temos que fazer, temos que cumprir.” E avançou para o turismo: “Temos turismo sempre nos mesmos sítios da cidade. O turismo tem de ter vários pontos. E este vai ser um muito importante. Porque quem vier a Lisboa, virá aqui. Estamos a criar outra centralidade muito importante para o nosso turismo. Virão aqui pessoas de muitos pontos do mundo.”

Palácio Baldaya não vai ficar sem livros

Essa não será, contudo, a principal vocação deste equipamento, que além de albergar o acervo de Lobo Antunes terá de funcionar como biblioteca municipal na medida em que todas as bibliotecas municipais funcionam: para ler, estudar, trabalhar e levar livros emprestados para casa. O que acontecerá em dois pisos. No de baixo, a zona central da antiga fábrica, com porta directa para a rua, estarão oito estantes com a parte da colecção de Lobo Antunes que será de livre acesso. E é também aí que ficarão o espaço família, pensado para fomentar os hábitos de leitura desde a primeira infância (28 lugares sentados, 5100 exemplares); que ficarão também os livros de ficção (24 lugares, 6480 exemplares); e que haverá uma galeria (63 metros quadrados) e um espaço multiusos (116 metros quadrados), com camarins, zona técnica e 60 lugares sentados.

Apresentação do projecto para a Biblioteca António Lobo Antunes
Francisco Romão Pereira/Time Out

Para o piso zero, estão ainda previstas a recepção e uma loja BLX (onde se vendem edições da Câmara de Lisboa). Subindo as escadas, encontrar-se-á no mezanino a não-ficção (56 lugares, 7680 exemplares), duas salas para grupos (uma com oito lugares, outra com quatro, para formações, reuniões ou apresentações), os gabinetes dos funcionários e, por fim, o espaço António Lobo Antunes, a funcionar também como centro interpretativo. As diferentes zonas, com particular atenção à que é dedicados às crianças, serão sonora mas não visualmente isoladas umas das outras, explicou durante a visita a chefe de Divisão da Rede de Bibliotecas de Lisboa, Edite Guimarães, que prometeu um interior com “muita madeira e materiais naturais”. O que só poderemos ver dentro de dois anos. Até lá, Benfica continua a valer-se da pequena biblioteca do Palácio Baldaya, que não faz parte da rede municipal, mas que se manterá em actividade mesmo depois de a Biblioteca Lobo Antunes inaugurar. “Será complementar. Se fechasse aquele espaço seria assassinado”, brincou Ricardo Marques, em resposta à Time Out. Está prometido.

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