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Marco Mendonça
© DR: Joana Linda'Blackface', de Marco Mendonça

Alkantara. Da ‘Blackface’ por Marco Mendonça aos corpos trans da Costa do Marfim

O regresso de Nadia Beugré e Marcelo Evelin e as produções nacionais de Marco Mendonça e Gaya de Medeiros são os primeiros destaques do festival.

Raquel Dias da Silva
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Raquel Dias da Silva
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A programação completa só será revelada em Outubro, um mês antes do arranque do Alkantara Festival, a 10 de Novembro. Mas já temos as primeiras confirmações. Além do regresso a Portugal de Nadia Beugré e Marcelo Evelin, Marco Mendonça estreia a solo Blackface, uma co-produção com o Teatro do Bairro Alto, e Gaya de Medeiros apresenta uma nova versão de Pai para Jantar.

“São projectos que nos convidam a olhar para a relação com os corpos: a partir da história de práticas racistas, da relação com o desejo e com a identidade de género, a partir das relações familiares que estabelecemos ou da forma como a dança pode ser um espaço para experimentar o nosso lugar na natureza, na cultura e na sociedade”, explica David Cabecinha, director artístico do Alkantara Festival, juntamente com Carla Nobre Sousa.

Escrito e encenado por Marco Mendonça, Blackface trata-se de “uma conferência musical”, que parte de experiências pessoais e da história do blackface como prática teatral racista, desde as suas raízes nos EUA aos casos portugueses, para um questionamento dos limites do que pode, ou não, ser representado em palco. Já o espectáculo Pai para Jantar, de Gaya de Medeiros, convida-nos a reflectir sobre os modos como são agenciadas palavras, afectos e arquétipos ao redor da ideia de “ser homem”. A primeira peça vai ser apresentada no Teatro do Bairro Alto e a segunda no CCB.

Ao palco do Grande Auditório da Culturgest, vai subir, no terceiro fim-de-semana do festival, um grupo de pessoas da comunidade transgénero de Abidjan, na Costa do Marfim, onde nasceu Nadia Beugré, que regressa a Portugal com Profético (Nós já nascemos). A proposta resulta do contacto que a encenadora tem mantido com essas “pessoas que, designadas à nascença como rapazes, flutuam entre géneros num gesto de reivindicação de liberdade feroz, numa sociedade extremamente patriarcal que, na melhor das hipóteses, finge que não as vê”.

Por seu turno, o coreógrafo brasileiro Marcelo Evelin traz-nos, com a sua companhia Demolition Incorporada, um espectáculo de dança inspirado no imaginário das matas brasileiras e nas entidades que, dizem, habitam as florestas do Brasil. Intitulado Uirapuru – que significa em tupi-guarani, a língua dos povos originários do Brasil, “o homem transformado em pássaro” ou “ave enfeitada” –, poderá ser visto no São Luiz Teatro Municipal.

Esta edição – que também contará com um programa de intervenções no espaço público, resultado da parceria iniciada em 2022 com o Centro de Arte Moderna Gulbenkian – marcará ainda o primeiro momento de apresentações públicas em Portugal de dois projectos co-financiados pelo programa Europa Criativa, da União Europeia, que colocam em diálogo artistas de diferentes geografias a residir em países europeus, através de duas redes de organizações culturais europeias. Para o In Ex(ile) Lab, as candidaturas de residentes em Portugal seleccionadas foram as de Francisco Thiago Cavalcanti, Keyla Brasil e Letícia Simões e, para o Common Stories, a de Maíra Zenun.

O festival é organizado pela Alkantara, uma associação cultural sem fins lucrativos de utilidade pública financiada pela Direcção-Geral das Artes e pela Câmara Municipal de Lisboa. Mas a sua origem remonta a 1993, ano da fundação do Danças na Cidade, pela bailarina Mónica Lapa (1965-2001), que no início funcionou como uma plataforma para tornar visível o trabalho da primeira geração de artistas de dança contemporânea em Portugal. Mais tarde, já era um festival de dança de escala internacional, ganhou uma nova forma como Alkantara (do árabe al-qantara, significa “ponte”), em 2005, passando a integrar projectos nas restantes disciplinas das artes performativas.

Desde 2007 que a associação Alkantara é também responsável pela dinamização do edifício do n.º 99 da Calçada Marquês de Abrantes, propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, onde funciona o Espaço Alkantara. É aí que, ao longo do ano, desenvolve um projecto regular de residências de criação artística, formações, apresentações informais de projectos e encontros internacionais.

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