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Manuel João Vieira
Miguel BaltazarManuel João Vieira

Artistas recriam Painel do Mercado do Povo para celebrar a liberdade

Dia 10 de Junho, nos jardins do maat, 47 artistas de várias gerações vão prestar homenagem ao momento artístico que marcou o fim da censura em Portugal.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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Em 1974, vários artistas juntaram-se para marcar o fim da ditadura em Portugal. Júlio Pomar, Menez e Emília Nadal, entre outros, pintaram o que viria a ser conhecido como o Painel do Mercado do Povo. Só que a obra, idealizada pelo Movimento Democrático dos Artistas Plásticos, acabaria por ser consumida por um incêndio, em 1981, quando as chamas tomaram a Galeria Nacional de Arte Moderna, em Belém.

No próximo dia 10 de Junho, precisamente 48 anos depois, 47 artistas (inicialmente seriam 48, mas a artista e ilustradora Wasted Rita já não participará na iniciativa), vão recriar o mítico painel nos jardins do maat – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. A intervenção, uma ideia de João Pinharanda, director do museu, surge integrada na programação paralela da exposição “Interferências – Culturas Urbanas Emergentes”, que pode ser vista até Setembro. 

O público pode assistir à reinterpretação deste mural, com 24 metros de comprimento e três metros de largura, entre as 10.00 e as 22.00. “Como uma das sobreviventes da pintura do primeiro painel, fiquei extremamente grata pela possibilidade de o recriar”, conta à Time Out Emília Nadal. Quase a completar 84 anos, a artista ainda se lembra bem da festa que foi fazer a obra original. “Era um painel que estava destinado a ser algo que ficasse como testemunho para memória futura. Não estava em mente fazer uma obra de arte inquestionável de um grupo de artistas iluminados, mas o objectivo era viver essa festa de um tempo novo que era há muito tempo esperado”, recorda. Foi “um momento de partilha e de grito”, “uma explosão de alegria e de intervenção”.

Painel do Mercado do Povo
Ernesto de SousaPintura do mural coletivo do Movimento Democrático dos Artistas Plásticos, no Mercado do Povo em Belém, 1974.

A festa repete-se, agora para celebrar os 48 anos de democracia. Esta sexta-feira Emília pintará novamente ao lado de Teresa Dias Coelho, Teresa Magalhães, Guilherme Parente, Eurico Gonçalves, Sérgio Pombo, José Aurélio e David Evans – todos eles participantes na obra original de 1974. 

Das novas gerações de artistas que se juntam a esta intervenção colectiva estão nomes que marcaram a cena artística portuguesa nos últimos anos. ±MaisMenos±, Ana Pérez-Quiroga, Fernanda Fragateiro, Francisco Vidal, Gabriel Abrantes, Joana Vasconcelos, Kiluanji Kia Henda, Maria Imaginário, Obey SKTR, Pedro Cabrita Reis e Vhils são alguns dos artistas que também vão pintar a obra que fica numa estrutura circular de ferro nos jardins do maat durante dois anos. 

Hoje o paradigma é completamente diferente, porque a arte contemporânea que existia na época era uma arte de vanguarda, uma arte que estava afastada do sistema, ao passo que a arte contemporânea hoje em dia é aquilo que é pedido pelo sistema e pelo mercado. A situação inverteu-se completamente, diz Manuel João Vieira. A dias da recriação do Painel do Mercado do Povo, o músico e artista plástico conta à Time Out que estuda o que poderá fazer para revelar esses contrastes entre as reivindicações demandadas em 74 e no tempo presente.

A pintura é certa, a possibilidade de uma performance associada está ainda a ser pensada. Hoje em dia temos uma arte que trabalha para o mercado dizendo que não trabalha para o sistema. É muito complexo”, diz. Tentará mostrar essa complexidade no próximo dia 10 ao lado de outros 46 artistas naquilo que “não é uma obra de arte planeada em conjunto”, mas antes “fragmentos justapostos” nos quais se pretende “pôr alguma espécie de ordem”. Uma coisa é garantida: “A ideia aqui é que haja alguma liberdade”, acrescenta.

No espaço exterior do maat, além da obra pública haverá também bancas de street food e uma programação cultural que ficou a cargo do Festival Iminente. Às 16.00 e às 19.30 há actuações de breakdancing e breaking battles, com um colectivo de breakers de várias nacionalidades. Para as 16.30 está marcado um concerto da rapper Juana na rap, e às 18.00 é tempo de ouvir o rap de xullaji (antes Chullage). 

maat. Avenida de Brasília. 10 Jun. Sex. 10.00-22.00. Entrada livre 

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