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Barcelos faz figura na Baixa de Lisboa

Nem só de galos se faz o Figurado de Barcelos, uma arte centenária que agora encontrou um espaço exclusivo na Rua de São Nicolau.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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O galo de Barcelos é uma figura incontornável da cultura popular portuguesa, mas é apenas uma das muitas peças desenhadas por artesãos locais que ainda hoje continuam a contribuir para o enriquecimento do que se chama figurado de Barcelos. Músicos, procissões, presépios, santos, cabeçudos ou mulheres minhotas, tudo feito em barro, decoram agora as prateleiras da nova loja da Baixa Pombalina. Chama-se precisamente Figurado de Barcelos e tem elementos de uma banda filarmónica (em madeira, calma) a dar as boas-vindas.

“Estou aqui de corpo e alma”. Conceição Sapateiro, artesã, senta-se numa cadeira no interior da loja a aguardar o momento inaugural. Bem-disposta e relativamente indiferente às maleitas que lhe limitam alguns movimentos, garante já ter nascido “no meio do barro”, acrescentando, orgulhosa, que a sua bisavó “já trabalhava a roda como os homens”. Conceição é uma das barristas que está em destaque nas prateleiras da Figurado de Barcelos, mais um espaço comercial com a chancela O Valor do Tempo, grupo que no seu portfólio alfacinha já conta com negócios como A Brasileira, Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, Museu da Cerveja, Silva & Feijó, Casa Pereira da Conceição, O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa e, mais recentemente, a Joalharia do Carmo.

Na loja, encontra um cardápio de centenas de peças criadas por artesãos certificados, cada um com um espaço dedicado às suas peças, e a cada mês a loja presta especial homenagem a um dos artesãos, num painel de rua instalado na fachada. Para o arranque, foram seleccionados os Irmãos Baraça, mais concretamente Ana Baraça, nascida em 1904 e a artesã pioneira deste negócio familiar que já vai na quarta geração de profissionais do barro. “Para nós é um gosto, um elogio, finalmente aparecer alguém para dar valor ao figurado de Barcelos. Tem a ver com a cultura de um povo”, diz Vitor Baraça, que segura as rédeas do negócio com o seu irmão Moisés. Juntos, sonham em criar na oficina uma “mini-escola” de olaria, mas ainda não encontraram o apoio certo.

Figurado de Barcelos
©O Valor do TempoFigurado de Barcelos

Os restantes artesãos representados na loja são Cidália Trindade, Irmãos “Mistério”, João Gonçalves Ferreira & Luísa Melo, Laurinda “Pias”, Rosa Portela, Manuel Gonçalves Macedo, António Ramalho, Irene Salgueiro & António Salgueiro, Maria de Lourdes Duarte Ferreira & Domingos Ferreira Pedro, Júlia Côta, Mina Gallos, Prazeres Côta, Maria Inês Calisto Machado, Rosália Abreu e Maria Helena Pedro da Silva.

As origens do figurado de Barcelos são difíceis de datar, mas o Museu da Olaria de Barcelos explica, no site oficial, que o figurado remonta a finais do século XVI, embora ganhasse maior notoriedade ao longo do século XX. A sua produção é subsidiária da olaria, já que os artesãos criavam pequenos brinquedos que colocavam nos espaços livres do forno e que depois eram vendidos nas feiras e romarias das aldeias.

Hoje, estas peças podem ser certificadas, uma das formas de proteger o nosso património cultural. A entidade responsável por certificar os artesãos do figurado de Barcelos chama-se Adere Certifica e Teresa Costa, presidente, explica como é que isto funciona. Tudo tem por base o Decreto-Lei 121/2015 e um manual de certificação, uma espécie de Bíblia das matérias-primas ou técnicas utilizadas. Depois o organismo de certificação valida no terreno se produzem de acordo com os critérios definidos e, no momento, a empresa tem 32 visitas planeadas até ao final do ano. “Está a aparecer uma nova geração”, garante Teresa, que não terá mãos a medir nos próximos meses.

Rua de São Nicolau, 81 (Baixa). Seg-Dom 10.00-20.00

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