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Bike Bakery
Francisco Romão Pereira Luiz André Alvim e Lilia Fortuna

Bike Bakery: o segredo desta padaria artesanal está no tempo

Começou no Brasil, onde chegou a dar nas vistas, mas é em Portugal que a Bike Bakery espera assentar de vez com uma oferta também de pastelaria. Abriu na Bica em Outubro, longe da confusão, mas perto de tudo.

Cláudia Lima Carvalho
Escrito por
Cláudia Lima Carvalho
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Foi na representação que começou a carreira e ainda hoje haverá quem se lembre da Mulher Pau de Jacu da telenovela da Globo Sangue Bom. Nos últimos anos, porém, é de volta do pão que Luiz André Alvim tem passado os seus dias. No Rio de Janeiro, criou a Bike Bakery, uma padaria ambulante que rapidamente ganhou fama. Hoje, é na Bica que o encontramos. 

Bike Bakery
Francisco Romão PereiraLuiz André Alvim é actor, mas nos últimos anos dedicou-se à padaria

“Quando eu vim embora para Portugal, as pessoas me acharam completamente louco porque o negócio estava no auge, mas já era uma coisa meio planejada, teve a ver com a situação política lá, tinha algumas questões que me incomodavam muito e aí viemos. Chegámos aqui em Janeiro de 2020”, começa por contar Luis André Alvim. O que se seguiu não é difícil de prever. Uma pandemia pelo meio atrasou o sonho, mas não acabou com ele. Luís vive no bonito prédio, todo em azulejo, onde fica a padaria, bem como as duas sócias Lilia Fortuna e Helena Stewart, também brasileiras. “A fábrica é aqui, a loja é aqui, aqui é o sector administrativo, ali é o criativo. Aqui, o departamento de marketing e aqui o operacional”, brinca Lilia Fortuna, apontando para os vários cantos da padaria. 

Bike Bakery
Francisco Romão Pereira

O espaço não é, realmente, grande. Está tudo à vista, da produção ao produto final, sem segredos ou máscaras. Luis André Alvim sabe bem o que está a fazer, de tal forma que nos últimos anos, ainda no Brasil, acabou a dedicar-se mais a ensinar a fazer pão do que a vendê-lo. “Os cursos foram uma loucura. Eu lançava uma turma de manhã e de noite já não tinha mais vagas. Eram cursos de três dias, com dez preparações, vinha gente do Brasil inteiro”, recorda, explicando que é também pizzaiolo. “Inclusive, fiz algumas consultorias aqui em Lisboa, como a Jezzus, nos Anjos”, exemplifica. 

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Francisco Romão Pereira

Não é de estranhar, por isso, a oferta diversificada que apresenta agora em Lisboa. Aos pães – além do tradicional de trigo (3,20€/600gr), tem conquistado clientes o de sementes e amêndoas (3,80€/600gr) – junta-lhe sempre uns doces e uns salgados. “Nós temos uns clássicos que são fixos e depois tem coisas que vão mudando, que nascem de experiências. Por exemplo, teve um dia que eu estava lá em casa e tinha umas lascas de bacalhau que já estavam demolhadas. Cozinhei no leite, peguei esse leite, fiz um béchamel com o leite que cozinhou o bacalhau e fiz um brioche. Ficou super saboroso. Ontem, chegou uma senhora aqui que queria o brioche de bacalhau, mas foi uma coisa que eu fiz porque o bacalhau estava lá em casa”, diz, garantindo que quando uma receita corre bem quase sempre é repetida, podendo até tornar-se fixa, como é o caso do cinnamon roll (2,50€), aqui feito com massa folhada e coberto com um caramelo de cumaru, ou fava tonka. 

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Francisco Romão PereiraCinnamon Roll

Também há o pão de queijo (1,80€), feito com grana padano, mozzarella e queijo da ilha. “Lá no Brasil, faz-se com dois queijos, geralmente: queijo minas e meia-cura. E eu já fazia com um queijo chamado queijo canastra. De todos os queijos portugueses, o queijo da ilha é o que mais me lembra porque tem uma picância muito presente. E como aqui não tem o queijo minas, a mozzarella me traz essa lembrança porque tem um sabor de queijo fresco. Era uma receita que eu já tinha e que quando cheguei aqui transformei”, acrescenta. 

Bike Bakery
Francisco Romão PereiraPão de queijo

Luiz fez questão de perceber onde estava, conhecer os produtores e a matéria-prima. As farinhas que usa, por exemplo, são Paulino Horta. Também serve um pão com chouriço (2,50€) por querer representar a cidade e o país que o receberam e garante que até aí houve essa preocupação. “Aqui não vai ter aquele papo do ‘tem esse chouriço aqui que é mais barato’. Não, o chouriço que usamos é um dos dez que provámos e que escolhemos que queríamos usar.”

Na Bike Bakery não há atalhos, garante. Também por isso deixou escrito na porta os ingredientes-chave da casa: “farinha, água, sal e tempo”. “O produto mais rápido que é feito aqui demora 24 horas – o brioche, o pão de queijo... Tem alguns pães que a gente trabalha com 24 horas, mas a maior parte deles leva no mínimo 36 horas. Hoje de manhã eu estive a bater massa que vou assar só amanhã à noite. E ontem à noite eu estava aqui a fazer coisas que eu vou assar amanhã. Quando eu converso com gente da área da economia, me chamam de maluco, mas dá certo”, aponta, atestando que “tudo é feito com massa mãe”. Uma massa mãe que já conta com 47 anos de existência e que Luiz tem consigo há nove, depois de uma visita a uns moinhos de uma marca de farinha italiana com a qual trabalhava. “É uma massa mãe muito bem cuidada, ela é bem alimentada. E é isso que é preciso para você poder trabalhar só com massa mãe. Em mais de três mil alunos que já tive, há uns que hoje em dia têm padarias enormes, e eu vejo muitas vezes que o erro está na massa mãe, o erro está lá na origem.”

Bike Bakery
Francisco Romão Pereira

O padeiro quer dizer com isto que não acredita em, nem ambiciona, crescimentos desmedidos. “A nossa ideia também não é ser uma coisa gigante, industrial. É muito manufaturado, muito artesanal, cuidado, pensado. É bom também estar aqui num certo lugar porque a gente consegue fazer tudo de forma orgânica”, contextualiza Lilia. “Também tem esse lado romântico da gente não querer se vender para o capital”, admite. E Luiz completa: “Eu sou totalmente a favor de crescimento, desde que eu não abra mão do tempo”. “O verdadeiro trabalho do padeiro é administrar tempo e temperatura.”

Quem sabe, no futuro, não seja igualmente conduzir uma bicicleta a circular por aí.

Rua dos Cordoeiros, 14 (Bica). Ter-Sáb 10.00-18.00 

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