A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar

Calçada do Cacau. Chocolate tão português como as pedrinhas da calçada

Escrito por
Catarina Moura
Publicidade

Foi quando passou pela calçada de Vhils que imita o retrato de Amália, em Alfama, que caiu a ficha a Diogo Damião: a chocolataria que queria abrir em Lisboa havia de ter uma relação qualquer com a calçada. Afinal, as cores daquele mural são as que se podem encontrar nas variedade de chocolate artesanal - o branco, o preto e um tom intermédio. Mais ou menos um ano depois (com muita burocracia pelo meio) abriu a Calçada do Cacau no Campo de Santa Clara, onde o chocolate parece pedras do pavimento português em miniatura.

Assim como este pavimento público é português, também os ingredientes que Diogo adiciona ao chocolate, nos cubinhos que se vêem na primeira vitrine, são portugueses. Um quadro na parede não deixa dúvidas e revela origens surpreendentes para ingredientes como os amendoins, que vêm da Costa Vicentina, e outras mais esperadas, como o maracujá da madeira ou os figos de Trás-os-Montes.

Diogo, que fez várias formações sobre o chocolate e trabalhou na fábrica dos Chocolates de Beatriz, em Odemira, andou a fazer uma pesquisa intensiva por pequenos produtores para chegar a estes ingredientes nacionais, que se juntam a cacau vindo principalmente da América do Sul, mas também de África. Os blends são feitos aqui na loja, numa sala ao fundo, envidraçada, para que, quando o chocolateiro está a trabalhar seja tudo visível, sem segredos.

calçada do cacau, alfama, chocolataria
Ao fundo, a sala envidraçada onde Diogo faz o chocolate
Fotografia: Manuel Manso

Os 15 sabores em cubitos (0,75€/cada, ou em caixas de nove – 7,75€ – ou de 16 – 13€) são as estrelas da casa, a que se juntam pequenas tabletes, um bolo de chocolate semelhante a um brownie e os chocolates quentes (de leite ou 100% cacau venezuelano).

Com dois centímetros de lado, geometricamente arrumados no balcão, são as pedras da calçada possíveis, sem mistura de manteigas ou natas – apenas os óleos de alguns frutos secos que dão sabor a esta espécie de bombons: há pinhão, amêndoa, noz, ou avelã. Alguns destes óleos chegam a ser mais caros do que a manteiga de cacau. Os chocolates ficam assim mais saudáveis, sobretudo em sabores como o mel, em que não há açúcares a adoçar a boca – só cacau e mel. “Preferimos que o custo seja mais elevado mas que faça a diferença. Isto [o facto de não terem manteiga ou natas] tem um duplo benefício porque têm maior data de validade: dois meses”, explica Diogo, que está a pensar em sabores especiais para cada época. Promete para breve, ainda este Inverno, um chocolate com queijo da Serra, e para a Primavera talvez algo com flores ou lavanda.

Juntamente com Margarida, Diogo pode passar uma tarde a falar estrangeiro, ao balcão. Entram muitos turistas, mas cada vez mais portugueses recomendados por alguém que entrou na casa e que é ali de Alfama ou da Graça. “É engraçado porque os portugueses sabem apreciar os chocolates. Tal como o vinho, têm notas diferentes e às vezes damos dois 100% a provar e, sem dizermos nada, sabem dizer que um sabe mais a café, por exemplo”.

calçada do cacau, alfama, chocolataria
Cubitos de pinhão, flor de sal e mel
Fotografia: Manuel Manso

Diogo diz que ao abrir a Calçada do Cacau tem a intenção pedagógica de mostrar estas tonalidades dos chocolates de diferentes regiões e de como se podem casar com produtos como o vinho o Porto da Quinta do Noval, chás da Companhia Portugueza do Chá, ou cervejas da Dois Corvos. Em breve haverá uma carta onde se sugerem harmonizações entre chocolates e estas e outras bebidas, de um tawny harmonizado com chocolate de frutos secos a uma milk stout casada com chocolate de leite.

Campo de Santa Clara, 57 (Alfama), 21 887 3155, Ter-Qui 10.00-19.00, Sex-Sáb 10.00-20.00, Dom 10.00-17.00.

+Os melhores chocolates em Lisboa

+Três sítios para beber chocolate quente

Últimas notícias

    Publicidade