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Carla Pereira, moda, modelo
© Francisco Romão PereiraCarla Pereira é uma das manequins portuguesas mais internacionais do momento

Carla Pereira: “Não quero que as meninas pretas com 15 ou 16 anos passem por aquilo que passei”

Aos 22 anos, é uma das manequins portuguesas mais bem sucedidas do momento. Entre altos voos e semanas da moda, Carla Pereira falou com a Time Out.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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Tinha 16 anos quando deu a primeira entrevista à Time Out Lisboa. Desde Junho de 2017, muita coisa mudou para Carla Pereira, que já na altura era uma jovem promessa da moda portuguesa. Persistiu na vocação e colheu os frutos – uma carreira internacional que, a cada estação, a faz pisar as grandes passerelles mundiais, enquanto figura proeminentemente nos outdoors que vemos na rua. Mas soube calcular cada passo. Numa rápida passagem por Lisboa, e a poucos dias de percorrer mais uma passerelle da Dior, desta vez na Índia, Carla e Time Out voltaram a encontrar-se. Falaram sobre os primeiros passos na moda, sobre racismo e sobre um possível futuro na psicologia.

Não tiveste uma ascensão meteórica. Em vez disso, foste ganhando terreno na indústria da moda. Como é que conseguiste isso?
Acho que a minha carreira não teve aquele boom, também porque andava na escola e tinha de finalizar o secundário. Tinha de ter em atenção as duas coisas. Era mais complicado, não podia ausentar-me durante dois ou três meses, como faço agora. Além disso, tinha de corresponder às expectativas dos meus pais. Só em 2018 é que comecei a ser modelo full time e aí dediquei-me a 100 por cento. Ajudou-me ter vivido em Londres durante algum tempo. Aqueles três anos lá – a trabalhar com imensos clientes, a viajar durante a Covid – deram-me muita experiência. Mas foi algo gradual. Fui trabalhando no meu book, na minha personalidade, que era terrível na altura. Eu não sabia falar com as pessoas, não sabia comunicar, não sabia sentar-me numa mesa e ter um diálogo. Acho que o tempo e a maturidade me ajudaram bastante nisso. Acho que não estava preparada, era muito nova, não sabia ao certo o que queria e ainda tinha ali alguns pontos para aperfeiçoar. E acho que só recentemente é que cheguei ao que chamo crème de la crème.

Impuseste essa disciplina a ti própria ou foi a tua família a fazer essa gestão?
Foi um bocado fifty-fifty. Tinha a pressão dos meus pais, que tinham todo um caminho estabelecido na cabeça deles – acabar o secundário, entrar no ensino superior, tirar um curso, começar a trabalhar, trabalhar das nove às cinco. Cheguei ali a um ponto em que disse: ‘Mas eu quero fazer outra coisa’. Uma das minhas maiores críticas à escola, na altura, era pensar que não tinha oportunidade de fazer exames em épocas especiais por não ter o estatuto, por exemplo, de atleta. E sabendo o quão injusto isso era, queria singrar para mais tarde poder usar a minha voz para alterar isso. Sou muito disciplinada, muito perfeccionista. Gosto que as coisas aconteçam de determinada forma e se começam a fugir já fico stressada. Os meus pais sabiam disso, então confiaram em mim. Tinha 16 anos quando viagem pela primeira vez. Eles sabiam que, na minha cabeça, as coisas tinham de acontecer de uma determinada forma, que não havia atalhos. Foi isso que os fez confiar em mim, apesar de ser uma criança.

E entraste cedo numa área onde o deslumbramento é algo frequente.
Confesso que houve ali um ponto em que pensei em desistir da escola, mas como ambiciono muito mais para além da moda e há muito que quero explorar e aprender, lembro-me também de pensar que o secundário era uma base a partir da qual podia ir semeando para depois colher os frutos. Mas é muito fácil. Na minha idade, não há muita gente que tenha a independência financeira que consigo ter e, na altura, apesar de não ser assim nada de outro mundo, lembro-me da sensação de poder ir ao McDonald's sem ter de pedir dinheiro aos meus pais. E é muito fácil pensarmos que é tudo um conto de fadas.

Até muito tarde tive aquela ideia de que a moda é super-fútil e superficial.

A tua carreira podia ter tido um boom mais cedo?
Sim, mas não era algo que quisesse. Tinha muitos condicionamentos. Agora, estou livre para viajar durante um mês e voltar daqui a sabe-se lá quando.

Chegaste a recusar algumas oportunidades?
Cheguei. Há coisas que me ficaram marcadas, determinadas viagens, campanhas que tive de recusar. Porque havia coisas que não podia alterar, como os exames nacionais. Se fosse uma atleta, provavelmente podia fazer em época especial, mas não era. Tinha de fazer uma escolha. Se muitas vezes chorei com isso? Sim, mas é a vida. Acho que já trabalhei o suficiente para conseguir tirar isso da minha cabeça. E está tudo bem. Estou orgulhosa do percurso que fiz. Sei que se não aconteceu antes foi porque não era suposto acontecer. Neste momento, só quero progredir e não ficar presa a peças incompletas.

Foste educada para ter esse sentido de responsabilidade?
A minha infância delineou bastante a minha personalidade. Houve uma altura em que quis ser jornalista. Depois, quis estudar Direito. Mas mantive sempre um interesse por temas relacionados com o comportamento humano, psicologia.

Sempre tiveste abertura para seres o que quisesses?
Havia tendências. Acho que os meus pais queriam muito que fosse advogada, engenheira, médica. Esse tipo de áreas com um estereótipo à volta.

Áreas vistas como sendo de sucesso?
Talvez. Acho que eles queriam que eu seguisse algo que eles não tiveram oportunidade de seguir. Mas não era o que eu queria. Hoje, estão felizes com o que faço e apoiam-me bastante. Mas houve ali uma fase mais instável em que não queriam que eu continuasse. Provavelmente porque me desleixei e me perdi um bocado do que queria.

Mas tu não cresceste com a moda como objectivo.
Eu era a mais maria-rapaz de sempre. Usar um vestido? Nunca na vida. Nem saltos, nem makeup. Andava sempre com o cabelo para trás, cores nunca. Mesmo agora, continua a ser fato-de-treino, ténis, coisas super oversized. Houve um pequeno interesse, mas porque me era posta essa pressão, não por ser algo que me chamava a atenção, porque nunca chamou. Até muito tarde tive aquela ideia de que a moda é super-fútil e superficial. Mas acabei aqui. Acho que precisava de crescer e de descobrir o significado da moda.

Essa pressão de que falas era o típico comentário...
‘És alta e magra, porque é que não experimentas?’ Eu posso ser alta e fazer outra coisa qualquer… basquetebol. Eu fazia atletismo, por isso é que não me falavam em basquetebol. Detestava isso – conheciam-me há cinco segundos e diziam-me que dava para modelo. It's not really about that. Não é só ser alta e magra, há muito mais.

Em que contexto é que cresceste?
Nasci em Almada. Vivi dois ou três anos na Cova da Piedade e depois mudei-me para o Seixal, onde passei uma grande percentagem do meu tempo. Fiz ali o meu ensino todo e tenho amigos que me acompanham desde o início até agora. A família do meu pai estava muito ali na zona da Ajuda. A minha mãe, na altura, estava em Cabo Verde, por isso só mais tarde é que comecei a aproximar-me.

Eras uma criança mais de rua ou mais de casa?
Adorava ficar em casa. Era muito, muito introvertida. Faziam-me perguntas, eu dava uma resposta e a conversa acabava ali. Não sei como é que agora sou esta pessoa que nunca está em casa, só mesmo quando está doente. Cresci assim até começar a sentir necessidade de explorar o mundo lá fora.

Carla Pereira
Francisco Romão Pereira/Time OutCarla Pereira

Quem é que te puxa para a moda?
Acho que os meus amigos, o Cláudio [Tibunga] por exemplo. Chamavam-me apática porque não tinha expressão na cara. Agora sou esta pessoa que fala com as mãos, que se mexe toda e não sei quê. Acho que os meus amigos foram uma parte bastante importante… e a minha irmã.

Ainda hesitaste quando te apareceu a primeira oportunidade de trabalhar na área?
Sim. O irmão do meu cunhado estava aqui na agência, em 2015, a fazer o model tour, e disse-me para experimentar. Para mim não valia a pena. Tinha 15 anos, a minha auto-estima era assim um bocado quebrada. Mas decidi vir. Era terça-feira, o model tour era logo no sábado, e já toda a gente que tinha passado tinha feito um bootcamp, onde acumularam bastantes competências. Eu caí de paraquedas e tive logo de desfilar durante um minuto à frente de 30 pessoas. Tive a Marianne Bittencourt a ajudar-me a andar de saltos. E deu certo. Acabei por ganhar.

Foi difícil aprender a andar de saltos?
Foi, não vou mentir. Não tinha equilíbrio nenhum. Hoje ando como se nada fosse, mas na altura nem entendia como é que as pessoas andavam de stilettos. Lembro-me de ficar super deslumbrada a ver a forma como a Mariana andava, super elegante e agora I can also do that. Fico feliz por ter sido ela a pessoa que me ensinou a andar. Sinto que não podia ter tido melhor professora.

E depois dás os primeiros passos na ModaLisboa.
Tive a primeira ModaLisboa logo a seguir. Fiquei tipo: ‘Uau, esta gente está toda parada a olhar para mim enquanto eu ando’. Mas não tive saltos, fiquei super feliz. Ainda não estava confiante o suficiente. Entretanto, fui fazendo alguns trabalhos para dar músculo ao meu book.

É um momento muito intimidante da carreira de uma manequim?
Bastante. Acho que todas queremos passar uma boa impressão e não sabemos ao certo como o fazer. Toda a gente se conhece e eu é que sou a intrusa. Então, há um momento em que estamos ali a apalpar terreno e a perceber o que dizer, o que fazer, como agir, onde sentar, onde ficar. Acho que foi aí que comecei a perceber: ‘Se estou aqui é porque também tenho potencial, tenho talento’. E há pessoas com quem fui falando – outros modelos, cabeleireiros, pessoas que foram falar comigo e com quem falo até hoje. Foi difícil para mim ajustar-me e sair da minha timidez.

Essa integração foi mais difícil por seres negra?
Ah sim, bastantes vezes. Se estamos melhor do que antes? Claro que estamos. Mas quando comecei, houve muitos momentos em que não tive o mesmo tratamento que as minhas colegas que não eram da minha cor. Isto na cabeça de uma criança – aos 16 anos era uma criança – não calha assim tão bem. E houve momentos de muita angústia, de tentar fit in, ser como elas, apesar de saber que, no fundo, não era. Há algumas memórias aqui em Portugal, mas acho que os maiores episódios de racismo foram lá fora, também porque trabalho menos em Portugal. Conheço histórias que nunca mais acabam, episódios tristes.

Eras tratada de forma diferente no mesmo contexto de trabalho? Eras preterida na escolha para certos trabalhos?
Sim. E sei que tenho um privilégio que outros não têm, porque o colorismo continua a ser uma coisa. Não sou tão escura como outras modelos, então sei que, mesmo assim, me era dado um cartão amarelo, em vez de um vermelho. Foi algo que me incomodou bastante porque vi colegas meus a sofrer. E eu também sofria porque só estava ali porque estava na moda incluir. Era o que acontecia: só estava ali porque tinham de ter, pelo menos, uma pessoa preta. Só mesmo para dar um check na lista, não por minha causa, pela minha pessoa, pelo que sou e pelo que faço. Agora, vejo que tenho determinados medos ou inseguranças que provêm dessa altura, o que é bastante frustrante. Tento sempre pensar que life goes on e é bom não ficar presa a situações do passado, mas tento sempre não permitir que volte a acontecer no futuro. Não quero que as meninas pretas com 15 ou 16 anos passem por aquilo que passei. Tento sempre ser aquele suporte, caso precisem de alguma coisa. Por muito que pareça, elas não estão sozinhas. Acho que esta é a frase que tento sempre dizer a todas as meninas que estão a começar. Há toda uma comunidade, o difícil é encontrá-la.

Que ferramentas é que arranjaste para lidar com essas situações?
As pessoas que me acompanharam, que hoje considero dos meus melhores amigos na moda, e que também são pretos. É como se fossem irmãos mais velhos, protegiam-me, de certa forma. Depois disso, fui só eu a crescer e a perceber que tenho de lutar por mim. Comecei a saber da minha história, dos meus antepassados e o que passaram, que algo que não nos é dado na escola. Tinha toda uma ideia do passado colonial que não corresponde nada à realidade e só agora é que consigo ter uma conversa com alguém e mostrar pontos que fazem realmente sentido e não mostrar o lado do colonizador, porque a perspectiva dele nunca vai ser a minha. Posso não ter passado por isso, mas podia ter passado dada a minha cor de pele. Acho que é muito importante procurarmos meios de aprender sobre a nossa história, porque, infelizmente, nunca nos vai ser ensinada. Isso é das coisas que mais me orgulho, de ser tão curiosa e de ter muita predisposição para aprender e querer saber mais.

Esse conhecimento empoderou-te no dia-a-dia?
Muito. Agora, não permito o tipo de situações que via acontecer antes. Antes, tinha medo de falar se via alguma coisa a acontecer no supermercado, uma pessoa preta a passar por algo injusto. Agora, falo. Chego-me à frente e já me pus em situações muito perigosas à pala disso. Mas não quero que as pessoas passem por aquilo. Quero dar uso à minha voz. Sou muito calma a falar e isso ajuda-me bastante. Ainda tenho paciência.

O movimento Black Lives Matter teve impacto directo na tua vida?
Teve bastante. Foi durante a pandemia, vivia em Londres, mas estava em Portugal, e lembro-me de passar por estas ruas todas e pensar que há uns anos era impensável e que agora podemos usar as nossas vozes. Foi bom olhar à volta e ver que havia pessoas como eu ali, e pessoas que não são como eu também. Acho que o Black Lives Matter e outros movimentos estão a delinear o início de uma nova etapa.

Chamavam-me apática porque não tinha expressão na cara.

O que significaram esses três anos em Londres? Foram um segundo começo?
Foi. Fui para Londres um ano depois de acabar o secundário. Tinha acabado de estar dois meses na Austrália – a primeira vez que estive tanto tempo fora de casa. De repente, tinha de lavar a minha roupa sozinha? Chegava a casa e não havia ninguém. Mas foi aí que aprendi e que percebi que tinha crescido, que já tinha feito a transição de criança para adulta, apesar de ter só 19 anos. Já sabia tomar conta de mim. E essa maturidade foi algo que passei para os clientes. Perceberam que a minha experiência de vida me permitia estar em determinadas situações. Comecei a fazer outro tipo de trabalhos, deixei de estar na categoria de menina e passei para a categoria de mulher. Isso notou-se na qualidade dos trabalhos, nos meus ângulos. Já sabia de que formas ficava melhor e isso foi bastante importante porque tirei um peso de cima de mim. Foram três anos. Depois apanhei a pandemia, altura em que me fui abaixo e estive a isto de desistir. Estava estagnada. Ia ali fazer um trabalho e voltava, cozinhava, preparava comida para o dia seguinte, ia trabalhar e all over again. Isso não me estava a deixar feliz. Lembro-me de ter ido para Milão no meio desses três anos, durante uma semana, e de ficar: ‘Uau, afinal há mais coisas’.

O que é que aconteceu em Milão?
Fiz o primeiro desfile da Ferrari. Tinha 19 ou 20 anos. Foi bastante decisivo. Queria um boom na minha carreira que não estava a acontecer.

E não fazias muitos trabalhos de passerelle nessa altura.
Acho que fiz um ou outro desfile, mas não estava dedicada como estou agora. Milão fez-me perceber que aquele talento que vi em mim há uns anos, e que ficou um bocado escondido, veio à superfície. Estava bem com o que fazia, mas não ambicionava nada, não tinha planos para o futuro. Só estava satisfeita e agora tenho uma série de coisas que quero fazer, que quero experimentar, novos hobbies, novas línguas.

E o que é que veio a seguir?
A seguir a isso veio a Swarovski, que foi dos trabalhos que mais gostei de fazer até agora. Depois estive em Nova Iorque durante algum tempo, em 2021. No ano passado, fui para Milão em Junho, Julho. Estive aqueles seis meses a trabalhar, fiz imensas campanhas de beauty. Em Janeiro de 2022, voltei para Nova Iorque, fui fazer o meu debut na fashion week. E acho que foi aí que as coisas começaram a escalar.

Nomeadamente com a tua relação com a Dior.
Começou em Março do ano passado. Dia 1 de Março de 2022, lembro-me perfeitamente, quando fiz o primeiro desfile com eles. Lembro-me de ficar fascinada. E a organização da Dior é algo transcendente. Eles são super organizados, tudo é muito bem delineado. Nada falha. Só soube da confirmação na noite anterior, às dez da noite e o desfile era às sete da manhã e tinha feito o fitting às duas. Quando me ligaram a dizer que tinha ficado fiz uma festa, não dormi absolutamente nada. Tinha feito desfiles em Nova Iorque e em Milão naquela season e tinham sido bons, mas não era uma Dior. Estava completamente fascinada com aquilo.

Quão nervosa estavas?
Estava bastante, tanto que agora vejo o meu vídeo a andar e percebo exactamente que aquela cara ali, por dentro, estava assim shaking.

O que é que a Dior tem para, depois de fazer não sei quantos desfiles, ainda te fazer tremer?
É como uma entrevista de trabalho, como fazer um casting: fazer um casting para a marca A não é o mesmo que fazer um casting para a marca B. Parece que deixei de saber andar e falar. Foi exactamente isso que me aconteceu, aliás. Lembro-me que eram 90 e tal looks e eu era o número 70. Só pensava: ‘Ó meu Deus, vou cair, vou tropeçar’. Achava que o salto se ia partir e que o meu debut com a Dior ia ser catastrófico. Mas não foi, deu certo. Com isso comecei todo um processo com eles. Fiz pre-fall na Coreia do Sul, que foi uma das melhores viagens da minha vida. Conheci imensa gente. Fiz amigos que considero melhores amigos – as minhas meninas da Dior com quem me cruzo em todos os desfiles. Estive em Sevilha, fiz couture, fiz Spring-Summer, fiz imensa coisa. Agora, tive a oportunidade de fechar, em Janeiro, com a alta-costura. Foi um dos melhores momentos da minha carreira, sobretudo porque não sabia de nada. Lembro-me de estar à procura do meu nome no chão –  porque eles escrevem sempre – e comecei no dois, porque na minha cabeça também não ia abrir. Já estava a reclamar com a directora de casting, a achar que se tinham esquecido de mim. Quando estava a ir ter com ela, vejo Carla no final. Houve toda uma festa. Mas depois tive de dar um ar profissional, não podia estar ali aos saltinhos. Então estava a sorrir como uma louca naquele backstage. Foi um momento muito bonito, aquela sensação de teres as luzes a apagarem-se atrás de ti e és tu que estás ali, as pessoas estão focadas em ti. E aquele vestido era lindo, verde em veludo.

Numa estrutura tão grande, há espaço para feedback do teu trabalho?
Acho que não, honestamente. Acho que o feedback que se recebe é dos nossos colegas. Mas suponho que se não gostassem de mim não tinha feito todos estes trabalhos com eles. É muito importante criar boas relações e eu criei muitas amizades. Há ali um grupo de cinco ou seis pessoas que guardo num espaço muito específico do meu coração, que acompanharam o meu crescimento. Saber que não estou sozinha e que há ali toda uma comunidade que posso abraçar ajudou bastante.

Portanto, não é só competição.
Não, de todo. Há boas relações que se podem retirar.

Tens conseguido passar tempo em casa no meio dessa azáfama toda?
Pelo menos uma semana na Margem Sul. E quando estou cá dá sempre para fazer alguma coisa.

E o que é que fazes nesse tempo livre?
Comecei a aprender a tocar piano, uma coisa que queria já há muito tempo. Adoro comer fora. Estou sempre por aí a experimentar restaurantes novos. Gosto muito de passear ao pé do rio. Sou ali do Seixal, então passei muito tempo da minha infância na Fonte da Telha, na Costa da Caparica, na Arrábida, então é uma coisa que tento fazer com alguma frequência. Gosto de audiobooks – o último que acabei de ouvir foi o da Viola Davis. Adoro-a e ouvir tudo o que ela passou dá-me imensa motivação. Gosto muito de estar em casa a ver séries, animes.

E o que é que ainda queres fazer na moda?
Tudo. Gostava de passar mais tempo em Nova Iorque e ver o que tem para me oferecer. Trabalhar em cidades onde nunca estou, estar nessas cidades e conhecer as pessoas daquele sítio. Acho que a moda não me define. Quando falo de ambições na moda, às vezes são mais ambições pessoais. Quero ver o que aquilo me traz pessoalmente, mais do que profissionalmente.

Pensas num futuro depois da moda?
Penso. Adorava voltar a estudar psicologia. Uma coisa que recentemente percebi que queria fazer era avaliar comida. Há o guia Michelin, não é? Quero inspirar e quero que as pessoas se lembrem de mim por isso. Isso traz-me muito mais alegria do que ser só lembrada como modelo.

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