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Jan e Sanne e Benedikte e Verner passam o Verão num hotel numa praia deserta. E, tal como as ondas, vão, mas voltam. Todos os anos. “Os poucos hóspedes que aqui aparecem são sempre esquisitos e preferem manter-se isolados”, diz o enunciado lançado logo no início da peça A Praia, do dinamarquês Peter Asmussen, em cena no Teatro São Luiz, de 6 a 17 de Julho. O que os faz regressar? “Ainda não sei se tenho resposta a essa pergunta”, diz à Time Out o encenador João Reis. Caberá ao público tentar decifrar.
Reis confrontou-se com o texto há cerca de cinco anos, por indicação de Pedro Mexia, que esteve para encenar a peça, com um outro elenco – em 2018, Mexia editaria a sua versão de A Praia, através da Tinta-da-China, com tradução de João Reis (não o encenador, mas o escritor e tradutor). Depois de sucessivos adiamentos, a proposta de encenação de João Reis da obra do dramaturgo dinamarquês vê agora a luz do dia.
Nas duas horas de A Praia, quatro actores, Filipa Leão, João Pedro Vaz, João Vicente e Lígia Roque, andam à deriva, em diálogos sobre as coisas mais mundanas, sem rumo nem ambição maior do que viver a melancolia dos dias. “São pessoas que estão numa espécie de limbo, de sonambulismo em relação à vida e isto funciona como uma espécie de refúgio”, diz o encenador.
São a cenografia de Daniela Cardante, a luz de Nuno Meira e o figurino de Nuno Baltazar que ajudam a marcar a passagem do tempo, já que as próprias personagens são desprovidas de qualquer consciência temporal. A indefinição da cronologia das férias (e da vida) dos quatro é combatida com uma obsessão pelo registo fotográfico. “Se não tivesse fotografias não me lembrava de nada”, ouve-se a dada altura. Quando um deles se esquece da câmara, a memória dos anos que passam fica comprometida.
Mesmo com os sucessivos desfasamentos e desencontros entre os casais, há um constante sentimento de vazio na acção – em suma, nada de facto acontece – e a postura de resignação de todos acentua esse estado de dormência permanente. (“Claro que vou voltar. Para onde havia de ir?”, questiona Verner). “Há uma necessidade de consolo que é impossível de satisfazer. São personagens muito insatisfeitas, quase inconsoláveis”, afirma o encenador. Sem esperança aparente em qualquer espécie de salva-vidas, “a decadência do sítio e do lugar vão acompanhando a decadência das personagens”, diz João Reis. O naufrágio é iminente.
O texto Asmussen ressoa a actualidade, e o encenador não tem pudor em classificar A Praia como uma peça pessimista. “Acho que há muitas pessoas a atravessar estados mais ou menos semelhantes a este”, crê. No rescaldo de uma pandemia, “há muita coisa escondida. As pessoas estão num estado bem pior do que aquele que nós conseguimos ver e imaginar. De alguma forma esta peça, este texto e estas quatro personagens são um reflexo desse mal-estar. Remete para a questão da depressão, do burnout e de todas as patologias associadas à saúde mental. Estas personagens estão contaminadas por esse vírus, por essa onda”. E remata: “Apesar de ser um texto pessimista, achei que nesta altura fazia todo o sentido. É a realidade”.
São Luiz Teatro Municipal. 6-17 Jul. Qua-Sáb 20.00, Dom 17.30. 12-15€
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