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D. Manuel I entra pela Sala dos Fundos do Museu de Lisboa

Há 500 anos um rei mudaria a cidade de Lisboa para sempre. Entrámos na nova sala do Museu de Lisboa, onde cabe muita história em modo concentrado.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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O Museu de Lisboa – Palácio Pimenta é um dos sítios onde melhor se pode inteirar da história da cidade. A exposição permanente dá-lhe a conhecer a evolução do território que hoje se chama Lisboa desde a pré-história até à actualidade e agora foi inaugurado um novo espaço dedicado a micro-histórias da cidade, em forma de exposições temporárias. Chama-se Sala dos Fundos e inaugura-se com uma primeira exposição chamada “Lisboa no tempo de D. Manuel I – A cidade que ambicionava o mundo”, realizada em parceria com o Arquivo Municipal de Lisboa e o Gabinete de Estudos Lisbonenses, onde trabalha o comissário desta exposição, o historiador José Manuel Garcia. Esta nova Sala dos Fundos abriu no piso térreo do Museu de Lisboa – Palácio Pimenta. Além de estar destinada a pequenas exposições temporárias focadas em aspectos muito particulares da cidade, vai também resgatando peças que se encontram nas reservas do museu.

A capital dum império

Esta exposição, patente até 27 de Março de 2022, assinala os 500 anos da morte do rei D. Manuel I. Apesar de todos estes séculos passados, ainda é visível o legado que deixou à cidade de Lisboa. A começar pela construção do Paço da Ribeira, no que depois foi baptizado de Terreiro do Paço, o local da residência oficial do monarca, transferido colina abaixo a partir do Castelo de São Jorge. Para a construção da nova residência real, foi conquistado território ao Tejo e era a partir do Paço Real que o próprio rei supervisionava as naus que chegavam a Lisboa cheias de mercadorias vindas de todo o mundo. Aliás, a divisa do rei D. Manuel I era a famosa esfera armilar, um artefacto de navegação que ainda hoje faz parte do brasão da bandeira de Portugal. Um símbolo de poder universal ligado à expansão portuguesa pelo mundo, já que no seu reinado foi descoberto do caminho marítimo para a Índia, entre 1497 e 1498, por Vasco da Gama, e o ano de 1500 ficou marcado pela chegada de Pedro Álvares de Cabral ao Brasil. Um reinado que promovia a ideia de uma Lisboa como centro do mundo, de onde saíam embarcações rumo ao Brasil, África e Ásia.

E um reinado que, apesar de todos os avanços científicos e também na administração local de todo o país, não deixou de ser marcado por factores menos positivos. Um seria claramente o tráfico de pessoas escravizadas: em 1512 institui-se o monopólio do tráfego negreiro africano a partir de Lisboa. E outro a expulsão ou conversão ao cristianismo de judeus e muçulmanos. Foi também no tempo de D. Manuel I, em 1506, que aconteceu o infame massacre de judeus junto à Igreja de São Domingos, perto do Rossio, uma sucessão de acontecimentos que resultou na morte de milhares de pessoas. E um massacre condenado pelo rei que penalizou os responsáveis, confiscando bens e condenando um frade dominicano à pena máxima.

Museu de Lisboa - Palácio Pimenta
©José Avelar/ Museu de Lisboa

Casa arrumada

O rei olhava para Lisboa como o centro do seu grande império e por isso mesmo decidiu começar a arrumar a casa. Além do novo palácio, desenvolveu uma série de reformas urbanas, modernizando ruas, rasgando novas artérias, construindo o grande Hospital de Todos os Santos (onde é hoje o Rossio) ou o Convento da Madre de Deus, hoje Museu do Azulejo, por iniciativa da sua irmã D. Leonor. E dois dos grandes postais de Lisboa na actualidade também foram erguidos por sua iniciativa: a Torre de Belém, que tinha por função proteger a entrada no porto de Lisboa (e é possível analisar em pormenor uma maqueta do monumento na exposição); e o Mosteiro dos Jerónimos, panteão onde está sepultado o rei, entre outros ilustres. Dois ícones do estilo manuelino classificados como Património Mundial da Humanidade em 1983.

Na exposição é possível ver bem de perto o Livro Carmesim, um códice iluminado sobre pergaminho que servia como regimento dos vereadores da cidade e que prova a vontade do rei de intervir na administração da capital. A Lisboa também ofereceu um Foral Novo, um tesouro da cidade aqui exposto e o documento que regulamenta a vida no município, da justiça à tributação fiscal e até aos pesos e medidas que passaram a estar uniformizados em todo o país. Ao longo de 20 anos, este foral serviu de modelo para 550 novos forais instituídos em localidades de todo o país.

Museu de Lisboa - Palácio Pimenta
©José Avelar/ Museu de Lisboa

O terramoto de 1755 acabou por destruir a Lisboa deste tempo, com excepção dos monumentos em Belém, mas dos destroços chegaram a ser recolhidas, por exemplo, pedras de armas de Lisboa, com o brasão municipal da barca e seus corvos (a popular alusão à lenda de São Vicente). No Museu de Lisboa pode conhecer uma velha pedra proveniente de um edifício da Rua do Benformoso, numa altura em que era habitual colocar uma pedra de armas por cima das portas de entrada, o que indicava que se tratava de um prédio municipal. Ainda hoje podem ser encontradas em Alfama algumas destas pedras, um desafio interessante para os visitantes deste que foi um dos bairros que resistiu ao abalo de 1755.

A exposição conta com um programa paralelo de actividades que pode consultar no site oficial do Museu de Lisboa.

Museu de Lisboa – Palácio Pimenta. Campo Grande, 245. Ter-Dom 10.00-18.00. Bilhete normal: 3€.

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