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Ruínas do Carmo
José Arnaud/AAPRuínas do Carmo

Da inquisição à tragédia do Meco: 24 catástrofes num guia “irónico” de turismo

Edição especial de 'A volta ao mundo em 80 catástrofes' conta com 24 monumentos portugueses e está disponível gratuitamente em PDF. Este ano será publicado novo guia, com foco em Lisboa.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
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Das mortes colectivas causadas por guerras, catástrofes naturais, injustiças como a escravatura ou epidemias também reza a História, pelo que o colectivo activista Left Hand Rotation empenhou-se em tecer uma rota sobre quase 80 acontecimentos que são manchas impossíveis de apagar do percurso civilizacional. "Este é um projecto que começámos em 2011 de forma auto-gerida e que ao longo dos últimos anos já teve várias edições e acções", explica o grupo. No ano passado, regressou com uma nova edição (impressa), Especial Portugal, produzida pela associação Criatividade Cósmica, que inclui 24 pontos e memoriais do país relacionados com catástrofes que não devemos esquecer. Agora, este "guia turístico irónico", como lhe chama o colectivo, está acessível a todos em formato PDF e pode ser descarregado aqui. A leitura faz-se acompanhar pelo filme Monumento Catástrofe, igualmente disponível na íntegra online, mas que também será exibido em Abril no Centro de Cultura Libertária, em Cacilhas (Almada), e na Biblioteca Municipal de Marvila, em Lisboa.

Portugal integra, assim, com 24 localizações, uma lista internacional da qual fazem parte os monumentos às vítimas do Bloody Sunday (Irlanda) e aos heróis do gueto de Varsóvia, mas também à resistência indígena de Nicarágua, a quem passou pelo Campo de Concentração do Tarrafal (Cabo Verde) e aos mortos de Hiroxima (Japão). De Lisboa entram no guia o Monumento aos Combatentes do Ultramar (Belém), o Memorial às Vítimas do Massacre Judaico de 1506 (Baixa) e as Ruínas do Carmo (Chiado). Sintra está representada pelo Memorial aos Bombeiros Vítimas do Incêndio na Serra de Sintra, Setúbal pelo Memorial aos Fuzilamentos e Sesimbra pelo Memorial aos Estudantes Vítimas da Tragédia do Meco. A viagem, que começa em 1506 com o massacre dos judeus e termina nos incêndios de Pedrógão Grande, em 2017, continua por Évora, Santiago do Cacém, Peniche, Coimbra, Porto, Gralheira (Serra do Montemuro) ou Faial (Açores).

Memorial LGBT no Príncipe Real
Left Hand RotationMemorial LGBT no Príncipe Real

Sede da PIDE e memorial LGBT no novo guia de Lisboa

Olhar e sublinhar os pontos do espaço que lembram pontos da História é uma missão levada muito a sério pelo Left Hand Rotation, que foi criado em Espanha e chegou a Portugal perto de 2010, com o combate à gentrificação e a outros efeitos colaterais do turismo no centro do seu activismo. A partir dos guias que têm sido publicados, combate-se a visão do monumento público à catástrofe como um ornamento da paisagem, acreditam. E por isso o projecto é para continuar. Na calha estão duas novas edições: uma com o foco apontado a Lisboa (a publicação está prevista para o Verão) e outra a Buenos Aires, na Argentina.

Na capital portuguesa, as Ruínas do Carmo são o monumento que se destaca pelo maior número de vítimas. “Está num dos lugares mais fotografados da capital portuguesa e de um fenómeno natural que nunca falta nos discursos dos guias turísticos. O famoso terramoto de Lisboa de 1755 (com o seu epicentro no oceano Atlântico e um considerável grau 9 na escala de Richter) levou pela frente cerca de 100.000 almas, entre o sismo propriamente dito, um incêndio enorme, e por fim um tsunami que afectou toda a cidade naquele 1 de Novembro, véspera do Dia de Finados. As autoridades da altura decidiram deixar estas ruínas de um antigo templo gótico que aqui se encontrava como memorial do terramoto”, pode ler-se no guia Especial Portugal. 

Da edição "Especial Lisboa" farão, também, parte o memorial às vítimas de homofobia e transfobia do Príncipe Real, o Cemitério do Alto de São João, o obelisco do Beco Chão Salgado (onde houve uma execução pública, no século XVIII), em Belém, a antiga sede da PIDE ou o memorial sobre os atentados do 11 de Setembro, na Avenida dos Estados Unidos da América, em Alvalade, segundo adiantou o colectivo à Time Out

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