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Sonho de Uma Noite de Verão
Pedro MacedoDRSonho de Uma Noite de Verão

Diogo Infante encena musical a partir de Shakespeare para a nova temporada do Trindade

‘Sonho de Um Noite de Verão’ vai ecoar durante a rentrée teatral, em Setembro. A temporada 2023/24 vai ser ainda marcada pelo regresso de Cucha Carvalheiro ao Trindade, mais de uma década depois de sair da direcção artística deste teatro.

Hugo Torres
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Hugo Torres
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“A programação não é extensa, mas é seguramente boa.” Diogo Infante referia-se à próxima temporada do Teatro da Trindade Inatel, apresentada esta terça-feira no palco da Sala Carmen Dolores. No entanto, podia usá-la a propósito de qualquer uma das que programou durante os seis anos que leva como director artístico daquele espaço, onde os espectáculos têm temporadas maiores do que noutros teatros da cidade e por isso são menores em número. O que tem resultado. “2022 foi o melhor ano de sempre, com mais de 87 mil espectadores”, disse Diogo Infante, falando numa “elevada taxa de ocupação” e num “reconhecimento” crescente que lhe permitiu ultrapassar as metas traçadas para esse ano.

Com o presidente do Conselho de Administração da Fundação Inatel, Francisco Caneira Madelino, ao lado, Infante sublinhou “a liberdade de acção e a disponibilidade de meios” que tem à disposição e que lhe permite “correr alguns riscos” em busca de novos públicos. Novo ou antigo, o público tem acorrido ao Trindade e esgotado sessões e espectáculos. Na temporada que agora se encerra, aconteceu com O Diário de Anne Frank e Noite de Reis, que por isso serão repostos em cena. O primeiro – que o director artístico afirmou ter tido “milhares” de pessoas com vontade de o ver mas sem disponibilidade de bilhete, mesmo estando quatro meses em cartaz – abre a temporada 2023/24 logo a 26 de Julho, fora de portas: vai estar no Teatro Maria Matos até 8 de Outubro. Beatriz Frazão protagoniza, Marco Medeiros encena. O segundo – visto por “mais de 18 mil pessoas em delírio” – volta a casa de 2 de Maio a 21 de Julho de 2024.

Ricardo Neves-Neves, do Teatro do Eléctrico e encenador de Noite de Reis, congratulou-se com este regresso, com uma equipa de 79 elementos. “São poucas as companhias independentes de teatro que têm oportunidade de estender as temporadas e ultrapassar as 100 apresentações”, disse, denunciando a “frustração” que carreiras curtas provocam nos criadores. Neves-Neves teve um discurso emotivo, uma vez que Luís Aleluia, actor que morreu há dias (23 de Junho), fazia parte deste elenco. “O Luís Aleluia ajudou-nos a lançar o tom festivo e luminoso do espectáculo”, quando o próprio encenador não sabia bem que rumo dar a este clássico de Shakespeare. “Foi um grande companheiro de trabalho. Perdemos um amigo.” Diogo Infante e Francisco Madelino também já tinham deixado uma nota de pesar.

Shakespeare surge duas vezes na nova temporada. Em Setembro, para marcar a rentrée, Diogo Infante propõe uma encenação própria de Sonho de Uma Noite de Verão, versão musical. Com direcção musical de Artur Guimarães, o espectáculo vai integrar canções portuguesas no texto, “como se sempre dele tivessem feito parte”. Estreia a 21 e no elenco estão Cristóvão Campos, Mariana Pacheco, Miguel Raposo, Sara Matos ou Soraia Tavares. Na noite anterior, haverá um ensaio solidário com as receitas a reverterem para a Corações Com Coroa, associação sem fins lucrativos fundada por Catarina Furtado para promover a igualdade de género e que tem atribuído bolsas de estudo a jovens mulheres nas mais diversas áreas (em Belém, também funciona como café com modelo de negócio social.)

Em simultâneo com Sonho de Uma Noite de Verão, que fica em cena até 26 de Novembro na sala principal, sobe ao palco da blackbox José, O Pai (14 de Setembro a 29 de Outubro), o fim da trilogia A Sagrada Família, escrita e encenada por Elmano Sancho e que já passou pela Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão e pelo Teatro Carlos Alberto, no Porto. Jorge Pinto protagoniza, dividindo o palco com Djucu Dabó, Isadora Alves e Sílvia Filipe. A 28 de Outubro, o Trindade lançará em livro os textos das três peças deste trabalho de fôlego de Elmano Sancho, com apresentação da professora e crítica de teatro Eugénia Vasques.

É também na sala-estúdio que se verá Requiem Por Isabel, obra vencedora do Prémio Miguel Rovisco – Novos Textos Teatrais. A galardoada é Raquel Serejo Martins, que se torna assim reincidente neste prémio. É a história de uma amizade improvável entre duas mulheres mais velhas (ou só velhas, para cumprir o despudor da autora), interpretadas por Lídia Franco e Rita Ribeiro, sob encenação de Tiago Torres da Silva. “É a minha peça mais consciente”, sublinhou Serejo Martins, referindo que a velhice “é uma fase da vida que tem muita beleza e muita tragédia”, mas que a solidão não é uma fatalidade. Fica em cena de 16 de Novembro a 30 de Dezembro.

Já em 2024, entre 15 de Fevereiro e 31 de Março, a sala mais pequena do Trindade volta a ter uma dupla de protagonistas mulheres para fazer A Rainha da Beleza de Leenane: Paula Lobo Antunes e Valerie Braddell. Interpretam mãe e filha, que vivem isoladas, numa relação doentia e de co-dependência. Ou seja, mantém-se também o tema da solidão e do esquecimento. O texto é de Martin McDonagh, nome que entretanto nos habituámos a ver no cinema: é o realizador e argumentista de filmes como Em Bruges, Três Cartazes à Beira da Estrada ou Os Espíritos de Inisherin. A encenação é de Sandra Faleiro, que terá vida intensa no Trindade por esta altura.

A Senhora de Dubuque
Pedro Macedo/DRA Senhora de Dubuque

Sensivelmente no mesmo período (29 de Fevereiro a 21 de Abril), Álvaro Correia leva à sala principal A Senhora de Dubuque, uma peça do norte-americano Edward Albee (Quem Tem Medo de Virginia Woolf?) que “nunca foi feita em Portugal”. Mas esse não é o único ponto de interesse desta proposta, uma vez que esta marca o regresso de Cucha Carvalheiro ao Trindade, mais de dez anos após a sua saída da direcção artística do Teatro, devido a cortes orçamentais. Álvaro Correia e Cucha Carvalheiro começaram a trabalhar em conjunto há mais de 30 anos, na Comuna. Aqui, contam com Nuno Carinhas na cenografia e nos figurinos, e Alberto Magassela, Fernando Luís, Filomena Cautela, Ivo Alexandre, Manuela Couto, Renato Godinho e – lá está – Sandra Faleiro no elenco.

Por fim, estreia a 16 de Maio Se Acreditares Muito, texto da britânica Cordelia O’Neill com encenação de Flávio Gil. É uma história de luto, dor e resistência, que é impulsionada pela morte de um filho aquando do seu nascimento. O casal é interpretado por Diogo Martins e Sara Barradas. Flávio Gil, cuja irmã morreu ainda bebé, disse que esta é uma homenagem a todos os que, como a sua mãe, tiveram coragem para se reerguer perante tamanha tragédia.

Na música, o Ciclo Mundos leva ao Trindade Xabier Díaz & Adufeiras de Salitre (Galiza), a 26 de Setembro; Edgar Valente (Covilhã) e Luiz Gabriel Lopes (Belo Horizonte, Brasil), a 24 de Outubro; e a curda Aynur (Turquia), a 28 de Novembro.

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