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Encounter e Jahn und Jahn
Mariana Valle Lima

“É um momento muito entusiasmante para abrir uma galeria de arte em Lisboa”

A londrina Encounter e a alemã Jahn und Jahn, galerias de arte internacionais, estão a explorar um novo modelo de cooperação e partilha num prédio do século XIX na Estrela.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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Não é uma fusão e isso fica bem claro à porta, onde há duas placas. “Encounter e Jahn und Jahn”, lê-se na mesma morada. As duas galerias de arte contemporânea aterraram em Lisboa no final de Setembro, num edifício na Rua de São Bernardo, mesmo ao lado do Jardim da Estrela. Um espaço expositivo que quer funcionar como extensão dos programas das galerias do Reino Unido e da Alemanha.

A ideia começou a desenhar-se quando Alexander Caspari, fundador e director da Encounter, tropeçou em Tim Geissler, sócio da Jahn und Jahn desde 2018, em Lisboa. “Disse-lhe que gostava de abrir uma galeria na cidade”, conta o primeiro à Time Out, naquele que é o primeiro espaço permanente da Encounter, que produz projectos artísticos a partir de Londres desde 2014. "Tenho seguido a cena [artística] lisboeta já há algum tempo, e conheço cada vez mais coleccionadores e mais artistas que se estão a mudar. Acho que é um momento muito entusiasmante para abrir uma galeria aqui. As coisas parecem estar a mudar e queremos fazer parte disso", diz.

O espaço não está dividido ao meio, com uma galeria de um lado e outra do outro. "Não é nada fixo, tudo é adaptável às nossas necessidades", explica Carolina Trigueiros, directora da Jahn und Jahn – resultado da fusão das galerias de Fred Jahn e Matthias Jahn – em Lisboa. Na estratégia da galeria alemã, a segunda morada na Europa é uma oportunidade para “ter mais espaço para se poder programar e para que os artistas possam ter mais exposições”. “Um novo espaço permite também um novo nível de experimentação, de mostrar novos trabalhos, criar novos diálogos”, explica Trigueiros.

Encounter e Jahn und Jahn
DRAlexander Caspari, Tim Geissler e Carolina Trigueiros

É na base do diálogo que as galerias prometem trabalhar neste “novo modelo de partilha de espaço, que está a ser mais comum no mercado da arte", garante Alexander. "Os programas [das duas galerias] até se podem tocar em alguns pontos, mas o principal elo de ligação é que essencialmente estamos a trazer um programa internacional a este espaço". Um espaço luminoso e renovado em que se preservaram os tectos trabalhados, as janelas e o chão de madeira. As paredes brancas foram reforçadas para suportar as obras de arte que ocupam agora várias salas expositivas e um jardim. 

Voltando ao princípio, a visita começa com “14 rooms”, uma mostra organizada pela Jahn und Jahn. O título é uma referência à antiga tipologia da casa lisboeta, que tem 14 quartos, apesar de nem todos serem espaços expositivos – pelo menos para já. "Achámos interessante ter uma exposição conjunta que pudesse trazer nomes que a galeria trabalha há já algum tempo, mas também um nome português que trabalhamos especificamente para esta exposição", indica Trigueiros, referindo-se a Fernanda Fragateiro, cujas obras coabitam com as dos alemães Heinz Butz e Imi Knoebel e da dinamarquesa Kirsten Ortwed. "Não é uma artista que a galeria represente, mas interessa-nos pensar, uma vez que estamos a abrir um espaço em Lisboa, que haja uma relação com o contexto e com os artistas e as práticas que há cá."

Desta vez, calhou à Encounter a ocupação das três salas na zona traseira do edifício. Nelas, está uma exposição individual de Antony Cairns, “CTY 5081”, cujo trabalho resulta da impressão de fotografias nocturnas da cidade em antigos cartões utilizados em computadores IBM. Nas paredes, estão imagens de uma metrópole abstracta e fragmentada. "Estes objectos continham informação e eram lidos de determinada forma, agora contêm nova informação, uma informação visual", destaca Alexander sobre as peças que cruzam a história da reprodução fotográfica com métodos experimentais de impressão. A mostra do artista britânico em Lisboa acontece em simultâneo com uma grande apresentação da obra de Cairns na Maison Européenne de la Photographie, em Paris, a partir de Novembro. 

Encounter e Jahn und Jahn
Mariana Valle Lima

As duas galerias unem-se na programação de um espaço no centro do edifício que designam como "project space". Dayana Lucas, artista venezuelana que vive no Porto, é a primeira convidada para uma apresentação individual. “Pulso” combina diferentes corpos de trabalho, desde 2016 até agora, em que “a relação com a natureza, o sonho e realidade está muito presente”, explica Carolina. "A ideia é que também por ser uma artista nova se consiga ter uma perspectiva mais abrangente da sua obra", remata. 

"Gostamos da ideia de poder ter artistas com significância histórica ao lado de artistas emergentes em diferentes espaços. Acho que isso funciona bem, essa justaposição de artistas jovens e artistas estabelecidos é algo que ambas as galerias desejam promover", acrescenta Alexander Caspari. 

Para lá das janelas espreita um verdejante jardim e, também lá, há arte para descobrir. "Vamos usá-lo para esculturas, mas também para performances, diferentes instalações e projectos", adianta Caspari. Por agora, mostra-se o trabalho da brasileira Vanessa da Silva, pela mão da Encounter. "Partindo da sua experiência enquanto emigrante em Londres, e como o seu corpo teve de se adaptar e mudar perante a cidade", resultam duas esculturas amorfas que evocam as proporções do corpo. 

Encounter e Jahn und Jahn
Mariana Valle Lima

Também no espaço exterior, Jahn und Jahn apresenta uma instalação do iraniano Navid Nuur, artista representado pela galeria alemã. Broken Ellipse é o nome da obra erguida na parede, que deve o nome à quebra do círculo em néon que ganha mais destaque quando o sol se põe. "[O artista] trabalha sempre o limite entre a escultura e a instalação, entre esta não definição do que são os elementos", define Carolina.

As esculturas e instalações no jardim podem ser vistas até ao fim do ano. Já as exposições no interior da galeria ficam até 20 de Novembro. Depois, é tempo de receber o trabalho de Hedwig Eberle, uma pintora "muito intuitiva e energética na forma de pintar", descreve a directora da Jahn und Jahn em Lisboa. Já a Encounter mostra Caroline Achaintre, uma artista franco-germânica, com base em Londres, com uma série de peças em têxteis, cerâmicas e aguarelas.

Rua de São Bernardo, 15 R/C (Estrela). Qua-Sáb 14.00-19.00 e por marcação. Exposições no interior até 20 de Novembro. Exposição no jardim até 29 de Dezembro. Entrada livre

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