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Espaço procura-se: Cortiço & Netos vai ter de abandonar loja até Março

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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O apelo é feito numa publicação na página de Facebook desta loja única de azulejos. A história é a do costume, apartamentos de luxo, mas o desfecho ainda está para vir.

Desistir ainda não está em cima da mesa. Afinal os netos de Joaquim José Cortiço (1931-2013) estão a continuar o sonho do avô, um coleccionador de azulejos descontinuados que podiam ser achados e comprados n’O Cortiço, um armazém na Estrada Militar, demolido no início da década para dar lugar a um troço da CRIL, na fronteira entre os concelhos de Lisboa e Amadora.

Os herdeiros fizeram-lhe justiça ao abrir em 2014 a Cortiço & Netos, uma homenagem que lhes valeu um negócio que já mereceu o reconhecimento de algumas identidades de relevo na área da azulejaria como a Associação para a Interpretação do Azulejo Tradicional, da qual são membros, a Az – Rede de Investigação em Azulejo, da Universidade de Lisboa, ou o Projecto SOS Azulejo.

cortico e netos
A colecção de azulejos descontinuados é interminável
Fotografia: Duarte Drago

O apelo

“Cinco anos volvidos desenvolvemos laços de afectividade e relações de interdependência com alguns vizinhos. Gostamos muito de estar na Mouraria. No entanto, a infrene gentrificação veio bater-nos à porta”, lê-se na página oficial de Facebook desde esta segunda-feira. “Caso se cruzem com alguma oportunidade, por favor partilhem a morada e, se possível, o contacto", pedem ainda.

À Time Out, Ricardo Cortiço, um dos sócios, explicou que têm até 31 de Março para saírem deste espaço, apesar de terem demonstrado abertura para pagar uma renda mais alta. O problema é que a proprietária quer vender o imóvel e mostrou-se “inflexível”. “Conseguimos pagar até cinco vezes mais, mas ela não quer”, explica Ricardo que revela estarem a pagar actualmente 300€ de renda. Mas não querem sair do bairro que já lhes corre nas veias. Até dois vizinhos mais velhos contam com os jovens Cortiço para os ajudar a carregar as compras ou para trocar as lâmpadas.

Como o avô, também estão numa fronteira, mas entre freguesias. Moram na de São Vicente e do outro lado da rua fica Santa Maria Maior. E foi em Novembro que fizeram um pedido de reunião à Junta de Freguesia de São Vicente, no sentido de os ajudar a estudar a possibilidade de se tornarem uma entidade de interesse cultural já que não preenchem os critérios para se candidatarem ao programa Lojas com História. Ou mesmo, quem sabe, ajudar a encontrar um espaço da freguesia que possam arrendar. “Podem fazer dinheiro connosco se quiserem”, desafia Ricardo. Mas até hoje não obtiveram qualquer tipo de resposta.

Tentámos entrar em contacto com a presidente da Junta de Freguesia de São Vicente, Natalina Tavares de Moura, que não se encontrava disponível por estar ao serviço da Assembleia Municipal de Lisboa, onde é deputada. Ficamos por isso a aguardar esclarecimentos quanto à não resposta do pedido de reunião solicitado pela Cortiço & Netos.

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