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Quiz
Fotografia: Filipe FerreiraQuiz, no Teatro Maria Matos

Esta peça fala sobre a manipulação da verdade e o poder das narrativas

Passado entre o estúdio de televisão e o tribunal, ‘Quiz’ convida-nos a reinterpretar os acontecimentos que levaram à condenação dos Ingram em 2003. O público é convidado a ser espectador mas também jurado, e a ir votar.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Era Abril de 2003 quando, no Reino Unido, o major Charles Ingram, a sua mulher, Diana Ingram, e o cúmplice Tecwen Whittock foram condenados por fraude no concurso Quem Quer Ser Milionário?. Mas terá a sentença sido justa? Com encenação de António Pires, a adaptação de Quiz, do aclamado dramaturgo britânico James Graham, reexamina o julgamento de forma acutilante, debruçando-se sobre a forma como a sociedade se relaciona com a verdade e a mentira. A estreia está marcada para esta quinta-feira, 6 de Outubro, às 21.00, no Teatro Maria Matos.

Quiz
Fotografia: Filipe FerreiraQuiz, no Teatro Maria Matos

“Esta peça não nos diz se a justiça inglesa foi ou não justa – eles foram condenados, não estamos a inocentar ninguém –, mas fala da manipulação possível de uma verdade. E não é só em casos extremos. Acontece a toda a hora, no dia-a-dia. Nas redes sociais, por exemplo”, diz o encenador António Pires. “Neste caso, a manipulação também é feita teatralmente. Uma mesma cena, com ou sem marcações, infere diferentes interpretações”, avisa, referindo-se a um acontecimento em particular, que o público terá direito a ver a partir da perspectiva da acusação e, mais tarde, da defesa.

Em palco, a acção acontece sobretudo entre o estúdio de televisão e o tribunal, mas também em casa dos Ingram, no exército e num bar onde não há falta de quizzes e karaoke (sim, há ecrãs com as letras das canções, se quiser juntar-se à festa). Já na plateia, que também existe em cima do palco, com nove lugares marcados de cada lado a preço reduzido, os espectadores têm direito a um mini-comando, que vão poder usar em dois momentos distintos – a ideia é decidir se os acusados são culpados ou inocentes, mas não é tão fácil quanto isso. Com o espectáculo propositadamente dividido em duas partes, o público poderá mudar de opinião à medida que as evidências, aparentemente contundentes, deixam de pender tanto para um lado e começam a oscilar para o outro.

Quiz, no Teatro Maria Matos
Fotografia: Filipe FerreiraQuiz, no Teatro Maria Matos

O texto, divertido e insidioso, denuncia a mediatização da sociedade e a natureza especulativa da justiça, mostrando como as narrativas podem ser construídas e usadas como armas. Fala-se de propaganda, de percepções, da “ilusão de”, de representações da verdade (por outras palavras: mentiras), até de formatações de fábrica – de como, sem termos qualquer controlo sobre isso, nascemos neste ou naquele país, somos filhos destes ou daqueles pais, temos esta ou aquela cor de pele, e como tudo isso define, de certa forma, a nossa vida, sem que tenhamos qualquer mérito ou culpa. “Uma das funções mais nobres da comédia é, de uma forma leve, falar de assuntos muito sérios. Quando provocamos o riso, as pessoas pensam mais do que se fosse uma coisa muito sisuda.”

Teatro Maria Matos (Lisboa). Datas previstas até 20 Nov (devem ser anunciadas novas apresentações), Qui-Sáb 21.00, Dom 17.00. 10€-20€ 

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