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Colectivo Zelu
Francisco Romão PereiraColectivo Zelu

Estes dois colectivos querem trazer mais diversidade ao panorama artístico da cidade

Desejam uma indústria mais inclusiva, exigem visibilidade e, acima de tudo, mudança. Lisboa está cheia de jovens artistas comprometidos em reclamar o seu espaço – juntos.

Joana Moreira
Escrito por
Joana Moreira
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Como é produzir arte em Portugal, navegando numa indústria enquanto artista negro emergente e independente na periferia de Lisboa? A pergunta foi lançada no retiro de Verão do colectivo The Blacker the Berry, que quer trazer mais diversidade ao meio. No rescaldo do movimento Black Lives Matter (empolado pela morte de George Floyd e, depois, de Bruno Candé), Jesualdo Lopes, 22, recuperou o título da canção de Kendrick Lamar para criar um colectivo artístico para pessoas negras, queer, trans e não binárias. “Como artista negro não encontro muitos espaços para artistas negros. O mundo da arte ainda é muito elitista e maioritariamente branco”, diz à Time Out.

O jovem de Odivelas fundou o projecto em 2021 quando estudava cinema em Leeds, Inglaterra. Desde então, The Blacker The Berry voou para Lisboa e já dinamizou eventos em espaços como o Núcleo A70 ou a Casa Independente, dando a conhecer novos talentos, das artes visuais à performance. Desde Outubro e até Fevereiro, a cada quinze dias, ocupam também o novo espaço do Largo Residências, com a exibição de filmes como Alcindo, de Miguel Dores, a dinamização de workshops criativos ou a promoção de conversas abertas à comunidade sobre, por exemplo, ser freelancer em Portugal. Numa fase de reflexão sobre o colectivo, Jesualdo faz planos para o futuro. “É muito difícil trabalhar com outros espaços porque nem toda a gente entende a visão. Adoraria abrir um espaço cultural para apoiar artistas, onde possam fazer residências e eventos”, sonha. “Preferia até que fosse fora do centro, gostava de descentralizar a cidade.”

The Blacker the Berry
Mariana Valle LimaJesualdo, do colectivo The Blacker the Berry

Foi precisamente no centro da cidade que Renato, Margarida e Hélio se encontraram. O primeiro, com 26 anos, tem ascendência moçambicana e é pintor. Ela, artista multidisciplinar, da mesma idade, tem origem macaense e chinesa. Hélio, 29, artista, tem raízes em Angola, onde viveu nove anos. O que os juntou, mais do que um percurso artístico semelhante, foi um desejo em comum: “criar espaço para pessoas que se pareçam como nós, que não têm espaço”. O Zelu, um colectivo de artistas multidisciplinares BIPOC (black, indigenous, and people of color) portugueses e sedeados em Portugal, criado este ano, veio como consequência desse manifesto.

“Nos últimos anos começaram a aparecer mais colectivos de pessoas com identidades semelhantes às nossas, mas continuava a existir uma grande falta de representação, especialmente da diáspora asiática e Médio Oriente – não sendo propriamente a melhor expressão a usar – e nativo-americanos, além de brasileiros, então decidimos criar um colectivo que conseguisse abranger o máximo de identidades”, explica Margarida. Cientes de que a “arte é uma questão de privilégio”, os três (dos cinco) jovens atrás do Zelu já organizaram exposições colectivas, primeiro em Lisboa, no espaço Safra, e depois no Porto. O objectivo, dizem, é continuar “de forma orgânica” e com novos associados. “Nós contamos pelos dedos das mãos quantos artistas BIPOC tínhamos na faculdade”, recorda Margarida. Querem mudar isso, mas com a noção de que “não vai ser só um colectivo a conseguir quebrar este ciclo”. “Vai ter de ser toda a nossa geração artística e as próximas a começar a questionar a forma como Portugal e o Governo investem nas artes”, remata.

@theblackertheberryproject @colectivozelu

Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 659 — Outono 2022.

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