Notícias

‘Gaslit’, ou a mulher “histérica” que tentou denunciar Nixon

Julia Roberts e Sean Penn protagonizam a nova série do TVCine Emotion, uma história sobre um lado menos conhecido do escândalo Watergate. Estreia esta terça-feira.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Publicidade

O escândalo de Watergate continua a dar que falar, mas em oito episódios a minissérie Gaslit apresenta uma nova abordagem à história que derrubou o Presidente republicano Richard Nixon. Julia Roberts interpreta Martha Mitchell, esposa do braço direito de Nixon, John Mitchell, interpretado por um quase irreconhecível Sean Penn. Uma mulher que estava convencida que o próprio Presidente estaria envolvido no caso e tentou denunciar a corrupção na Casa Branca, sofrendo na pele as consequências das suas premonitórias palavras. Foi calada. Mas, afinal, Martha tinha razão.

Na noite de 17 de Junho de 1972, cinco homens foram presos após terem entrado na sede do Comité Nacional do Partido Democrata, em Washington D.C., para instalar uma série de escutas a mando de um conjunto de pessoas influentes em torno da recandidatura de Nixon à Presidência. Quando recordamos o escândalo Watergate, que levou à saída do republicano da Sala Oval, sobressaem dois nomes: os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, que denunciaram o caso nas páginas do Washington Post, fruto de uma investigação jornalística que contou com a ajuda de um agente do FBI, o famoso "Garganta Funda", cujo nome foi apenas revelado em 2005: William Mark Felt. Os repórteres foram entretanto transformados em destacadas figuras na ficção, como no filme Os Homens do Presidente (1976), com Dustin Hoffman (Bernstein) e Robert Redford (Woodward). No entanto, muito antes de a história explodir nas manchetes do Washington Post, uma mulher tentou avisar que algo se passava na república dos Estados Unidos da América (EUA).

Sean Penn
©Hilary Bronwyn GayleSean Penn, em 'Gaslit'

O seu nome era Martha Mitchell, mulher de John Mitchell, o braço direito do Presidente, advogado que tinha sido Procurador-Geral da República no primeiro mandato de Nixon e que teve um papel activo nas campanhas presidenciais como líder do CREEP (acrónimo do Committee for the Re-election of the President). Conhecida como “the mouth of the south” (a boca do sul), por ser natural do Arkansas e famosamente desbocada, Martha Mitchell foi a primeira pessoa a dizer à imprensa que algo lhe cheirava a esturro quando reparou que um dos homens que tinha sido apanhado na sede dos democratas era James McCord, ex-agente da CIA e seu guarda-costas pessoal. Mesmo sendo apoiante das políticas republicanas, Martha Mitchell tentou avisar Helen Thomas, jornalista da agência de notícias United Press International, mas a chamada telefónica foi brutalmente interrompida por Steve King. Este ex-agente do FBI tinha como função vigiá-la no hotel em que estava instalada, e no qual foi uma verdadeira prisioneira política. Também a sedou e agrediu. (King é o mesmo que, em 2017, foi nomeado por Donald Trump embaixador dos EUA na República Checa.)

Ninguém prestou atenção aos avisos desta mulher, que foi considerada desequilibrada, histérica e alcoólica, numa campanha de comunicação desencadeada pela Casa Branca para a descredibilizar. E a história permaneceu desconhecida do grande público, especialmente fora dos EUA, durante largos anos, mas em 2017 foi destacada no primeiro episódio da primeira temporada do popular podcast Slow Burn (da revista online Slate), dedicada ao escândalo Watergate. Um episódio que viria a servir de base a Gaslit, se estreou em Abril no Starz, canal de TV por cabo norte-americano, e que está a chegar agora à televisão portuguesa.

A série vai para o ar no TVCine Emotion, a partir de 22 de Novembro, nas noites de terça-feira (sendo repetido noutros horários). Logo no primeiro episódio somos apresentados a alguns dos principais actores deste escândalo, como Gordon Liddy, ex-agente do FBI que foi contratado por John Mitchell para desenhar um plano que ajudasse a derrotar o candidato do Partido Democrata à Presidência. Assim como Jeb Magruder, director de campanha de Nixon, ou John Dean, advogado e consultor do Presidente.

Esta história é também abordada num pequeno documentário de 40 minutos disponível na Netflix, chamado O Efeito Martha Mitchell (2022). Uma referência ao termo cunhado em 1988 pelo psicólogo Brendan Maher para descrever um processo em que as crenças de uma pessoa são inicialmente rotuladas como delírios e mais tarde se revelam verdadeiras.

TVCine Emotion. Ter 22.10

+ Quentin Tarantino pretende realizar uma minissérie no próximo ano

+ Glória ao ‘RUI’. Nesta série portuguesa, o transformismo é um meio para um fim

Últimas notícias

    Publicidade