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© Armenian Patriarchate of Jerusalem

Gulbenkian apresenta tesouros régios de Jerusalém

As doações régias à Terra Santa, em parte emprestadas pelo Terra Sancta Museum, estão expostas no Museu da Fundação Gulbenkian. A mostra pode ser vista até 26 de Fevereiro de 2024.

Escrito por
Beatriz Magalhães
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As peças da mais recente exposição do Museu Gulbenkian viajaram de Jerusalém até Lisboa. “O Tesouro dos Reis - Obras-Primas do Terra Sancta Museum” reúne uma centena de obras – muitas são provenientes do Terra Sancta Museum, e foram previamente doadas por reis a Jerusalém, e cerca de 40 foram alvo de conservação e restauro, realizado em colaboração com o Laboratório José de Figueiredo.  

Ao longo de quatro núcleos, em que as doações régias ocupam um lugar central, a mostra estabelece uma viagem no tempo, até às origens do Cristianismo, e uma viagem geográfica, de Lisboa a Jerusalém, diz Jacques Charles-Gaffiot, comissário científico do Terra Sancta Museum, numa visita de imprensa, na passada quinta-feira.

O primeiro núcleo foca-se em Jerusalém como o “Centro do Mundo”, sendo que foi o lugar da morte, sepultamento e suposta ressurreição de Cristo. Destaca-se a Estrela de Belém, disco de pórfiro vermelho, prata e prata dourada. Ressurreição de Cristo é um relevo, constituído por três placas horizontais em prata. Há ainda dois livros, o Livro de Horas, pertencente à colecção Gulbenkian, e um livro de evangelhos, adquirido por Calouste Gulbenkian e, posteriormente, oferecido ao Patriarcado arménio de Jerusalém. O fundador do museu era de origem arménia e há uma “tradição familiar que o liga a Jerusalém". A exposição desenvolve precisamente esta "ligação que Gulbenkian tem com Jerusalém”, explica André Afonso, um dos curadores da mostra.

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© Guillaume Benoit/CTSRessurreição de Cristo

Na secção que se segue é possível descobrir peças relacionadas com a Basílica do Santo Sepulcro e com os peregrinos que viajavam até este lugar, acolhidos, a partir do século XIV, pelos frades da Ordem de São Francisco. Um modelo da Basílica, que remonta ao ano de 1700, feito em madeira e revestido em madrepérola, apresenta iconografia diversa e é uma representação actual do edifício que, ao longo da sua história, sofreu várias reconstruções.

Sob focos de luz, sobressaem peças opulentas, em dourado e prateado. Entre elas está a Cruz de altar, em madeira de oliveira e madrepérola, proveniente do Museu Nacional de Arte Antiga, e também o Cálice de São Diego de Alcalá, em prata dourada, a mais antiga obra de ourivesaria conservada na colecção do Terra Sancta Museum. Ainda na mesma secção, Panorama de Jerusalém representa uma “Jerusalém bíblica”, sendo uma de várias pinturas a óleo apresentadas. Os manuscritos presentes “dão-nos uma noção mais humana e um testemunho mais vivido pelas pessoas que se deslocavam para Jerusalém”, continua o curador.

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Catarina Gomes FerreiraModelo da Basílica do Santo Sepulcro

Theatrum Mundi: Doações régias aos Lugares Santos” realça a importância simbólica de Jerusalém como Terra Santa, que levou a que os monarcas católicos europeus fizessem inúmeras doações a templos deste território. Diferentes paramentos litúrgicos e vestes em tons de branco, dourado e vermelho são dispostos, do lado esquerdo e direito, criando um corredor que nos leva a diferentes salas, divididas por reinos. 

Em Espanha, por exemplo, destacam-se o Baldaquino eucarístico e os Seis castiçais de altar, em prata, cobre dourado, vidros e granadas almandina. Ao entrar em Portugal, há uma Lâmpada de igreja em ouro e provida de elementos heráldicos, oferecida por D. João V, que “do ponto de vista artístico não encontra paralelo”, realça André Afonso. Entre outros paramentos pontificais e um retrato de D. João V, é ainda apresentado um Altar portátil, considerado uma espécie de móvel litúrgico que permitia celebrar a missa em qualquer lado. No reino francês, as peças em prata dourada remontam aos reinados de Luís XIII e XIV. Estas tinham uma dimensão diplomática e eram também uma manifestação de poder. Nápoles e as Duas Sicílias é a última paragem da secção, composta pelo “mais importante tesouro” da mostra. Num lugar central, o Baldaquino eucarístico, oferecido pelo rei Carlos de Bourbon a Jerusalém, é composto por ouro, cobre dourado, diamantes, rubis, esmeraldas, safiras, entre outros materiais.

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© Guillaume Benoit/CTSBaldaquino eucarístico e crucifixo

A exposição encerra com um núcleo dedicado a Calouste Gulbenkian e à sua ligação afectiva, espiritual e material a Jerusalém. Os diários de viagem, as fotografias e os livros religiosos realçam a relação que Gulbenkian tinha com este lugar, que começou na sua infância, quando realizou a primeira peregrinação até lá. 

Dado o contexto actual, em que se intensifica a guerra no Médio Oriente e os ataques israelitas na Faixa de Gaza, levanta-se a questão do que significa, para a instituição da Gulbenkian, apresentar esta exposição em parceria com a Custódia da Terra Santa e o Terra Sancta Museum de Jerusalém. “Acho que é, naturalmente, um contexto dramático para todas aquelas comunidades e para todos nós evidentemente, que olhamos para o que acontece nestes dias, mas centramo-nos sobretudo no que é a importância universal deste património, que foi reunido ao longo dos tempos, em diversos contextos e em contextos também conflictuosos”, diz o curador André Afonso, em resposta à Time Out. “Quando falamos em património e em museus, há um aspecto importante, têm uma capacidade fundamental, através do belo, de criar diálogos e pontes, religiosos, étnicos, entre os mais diversos grupos sociais” e “daí a própria fundação ter dado uma importância fundamental à conservação deste património”, acrescenta. 

A exposição pode ser visitada entre 10 de Novembro e 26 de Fevereiro de 2024, incluindo uma programação com visitas guiadas, com curadores e convidados, e oficinas para crianças, adultos e famílias.

Fundação Calouste Gulbenkian. 10 Nov-26 Fev. Qua-Sex 10.00-18.00, Sáb 10.00-21.00, Dom 10.00-18.00. 6€

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