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Ricardo Lopes

Há arte contemporânea para descobrir em dois contentores

Enquanto decorrem as obras de remodelação e ampliação, o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian continua a levar a arte ao encontro do público em vários pontos da cidade.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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Dionísio toca lira ladeado por dois sátiros que dançam e agitam castanholas. A imagem do último deus do Olimpo está na praça do Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica, no interior de um contentor marítimo onde é possível entrar e observar a obra de Rui Toscano. O artista é um dos convidados do projecto do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian (CAM) que desde Outubro coloca contentores marítimos em locais públicos da cidade com obras pensadas para estes espaços. 

Rodeada por ruas onde o ruído do trânsito é constante, a obra convida à abstracção do espaço envolvente, com o título Music Is the Healing Force of the Universe #4. "Esta peça vem na continuação de uma série que comecei a fazer na qual faço uma pesquisa e recolho imagens de representações de música a ser tocada em antigas civilizacoes", afirma. Centrada na imagem de uma pintura de um prato de cerâmica da Grécia Antiga, a criação desdobra-se em duas camadas de vidro acrílico "jogando com o negro e o laranja avermelhado, brincado com as distorções".

Rui Toscano encara este desafio lançado pelo CAM como a possibilidade de "trazer uma peça que poderia estar num museu para o espaço público" e não "uma peça de arte urbana ou de street art ou o que quer que seja". "Este contentor está aqui, mas poderia estar num museu", remata.  

Lisboa, Portugal, 03/02/2022 - CAM em Movimento.( Ricardo Lopes / DR )
Ricardo Lopes

Um contentor que "é uma metáfora das nossas casas

O terceiro contentor que passa a constar do mapa de intervenções artísticas do CAM fora de portas fica junto à estação fluvial do Terreiro do Paço. A peça, intitulada Home, é da autoria de Carlos Bunga, artista português radicado em Espanha, e explora "o conceito do direito à habitação", "a questão das migrações", e pretende ser um testemunho do "fracasso social por todos aqueles que não têm casa". 

Com recurso a cartão, fita e cola, o artista cria a estrutura de uma casa, sem qualquer mobiliário, apenas existindo enquanto construção arquitectónica. "Não incluí mobiliário por uma questão muito simples, está lá dentro, no sentido do que nós podemos imaginar", sugere. O material escolhido foi "propositadamente para questionar essa ideia de fragilidade, essa ideia do efémero", descreve. "Este projecto quer ser um monumento à fragilidade da vida, que é também a fragilidade de todos os outros e da sociedade contemporânea".

Lisboa, Portugal, 03/02/2022 - CAM em Movimento.( Ricardo Lopes / DR )
Ricardo Lopes

Esta não é a primeira vez que Bunga se debruça sobre a temática do espaço de residência – fê-lo em Setembro, quando levou à Galeria Vera Cortês a exposição Casa. Agora, usa o contentor como "uma metáfora das nossas casas, que também são contentores onde nós vivemos", lembrando que "as casas não são apenas espaços de proteção onde nos sentimos confortáveis, são também espaços cheios de traumas, são espaços que nos fazem sentir emoções diferentes, são espaços de refúgio. Com o contexto da pandemia, quase todos tivemos a sensação de que a casa se transformou numa espécie de espaço prisão"

Desta forma, "este projecto é uma homenagem não só às pessoas que tiveram de ir viver para dentro das casas, mas também para as pessoas que perderam casas. E também todas as pessoas que estão sujeitas a perder as casas, que somos todos nós", diz Bunga. Tal como uma casa, o espaço enche-se de luz quando anoitece.

Lisboa, Portugal, 03/02/2022 - CAM em Movimento.( Ricardo Lopes / DR )
Ricardo Lopes

Ambos os contentores do projecto CAM em Movimento podem ser visitados até ao final do mês de Julho. As obras de remodelação e ampliação do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian deverão estender-se até Julho de 2023.

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