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Há uma Mão-Cheia de sabedoria e sabores caseiros a descobrir no Jardim das Amoreiras

Escrito por
Tiago Neto
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Depois do Mezze, restaurante em Arroios que alimentou a integração de refugiados do Médio Oriente, a Associação Pão a Pão voltou-se agora para a experiência como ingrediente principal. Francisca Gorjão Henriques, uma das responsáveis pelo projecto, diz ser preciso "olhar para os mais velhos como pessoas com muito para ensinar". E no Mão-Cheia, os pratos são prova disso.

O cheiro, à entrada, não engana. Carnes, enchidos, verduras; todos os indícios de que ali, no espaço que anteriormente servia de cafetaria ao Museu Arpad Szénes-Vieira da Silva, há uma pratada bem portuguesa a acontecer. É um cozido que une a equipa, pós-serviço, numa mesa corrida improvisada.

O espaço do Mão Cheia senta aproximadamente 20 pessoas
Fotografia: Inês Félix

Filomena, ou Mimi, como é tratada, foi a responsável do dia na cozinha. É ela uma das mãos que faz este Mão-Cheia. "Temos uma equipa fixa de quatro pessoas em que há uma gerente mas, todas as outras, quisemos que fossem pessoas com mais de 50 anos. Porque sabemos o peso da idade na altura de procurar emprego", diz Francisca Gorjão Henriques, presidente da Associação Pão a Pão, que assim justifica o novo plano. "O Mão-Cheia aparece da necessidade de olharmos para as pessoas mais velhas como pessoas com muito para nos ensinar e para dar. E criarmos aqui um incentivo para saírem de casa e verem o seu conhecimento valorizado."

Uma dose de cozido à portuguesa
Fotografia: Inês Félix

Tal como aconteceu no Mezze, aqui é a cozinha que serve para unir pessoas e criar comunidade à volta de pratos que vão do receituário português a sabores além-fronteiras. A ementa, publicada semanalmente nas redes sociais, varia consoante a figura que é chamada ao fogão e há sempre novidades. Entradas a 2,50€, sopa a 2,20€, o prato a 9€ e a sobremesa a 2,50€, são os preços do Mão-Cheia. "O critério é saber cozinhar muito bem. O factor idade é importante mas este é o que pesa mais. Porque, em última análise, as pessoas vêm aqui, pagam a sua refeição, portanto tem de ser excelente."

A semana arrancou à terça com creme de cenoura com grão, o prato guineense sigá de peixe da Teresa ou o ratatouille com cogumelos; pudim de feijão branco, o bolo marquise de chocolate com avelã ou o arroz doce são as sobremesas. Quarta-feira é dia de cozido à portuguesa e na primeira semana já houve sopa de cozido, empadas vegetarianas com salada e farófias. Na sexta Mimi volta aos comandos com as chamuças, a sopa juliana, o pato à Pink Floyd ou o tomate recheado com ovo escalfado. E no sábado há tiborna de azeitonas e espinafres, creme de tomate com cebolinho, pernil assado com batata doce da Ana Preta ou peixinhos da horta com arroz de coentros. À sobremesa, o requeijão com doce de abóbora ou o toucinho do céu são opções.

As farófias do Mão Cheia
Fotografia: Inês Félix

"O que queremos fazer é organizar o menu do mês e, semanalmente, anunciamos o menu. Quando organizamos o menu do mês contactamos as pessoas, sabemos o que vão cozinhar, a quantidade, fazemos a lista de compras e depois anunciamos", reitera Francisca sobre a logística. "Quem chega aqui só sabe o que vai comer se vir nas redes sociais. E cada pessoa, das cerca de 15 que temos, tem um prato específico ou mais. Valorizamos a tradição mas a tradição é aquela que cada um traz consigo"

Sobre novas entradas para assumir o fogão, há uma metodologia flexível: "algumas pessoas fazem doces ou bolos e de vez em quando chamamo-las. Outras que fazem empadas muito bem. Para além do prato do dia há coisas que as pessoas gostam de fazer e que lhe pedimos o contributo". Tudo como forma de valorizar o tempo e a experiência de quem, à partida, estaria fora do mercado de trabalho. "O que fazemos é valorizar o conhecimento e aquilo que, às vezes, só o tempo traz. E dar espaço às pessoas para mostrar o que sabem fazer bem."

Fotografia: Inês Félix

O Mão-Cheia está também disponível para jantares de grupo, no atelier Helena Vieira da Silva, para um número superior a 15 pessoas. E nos dias mais quentes é possível levar os petiscos até ao Jardim das Amoreiras, logo em frente, com os cestos disponibilizados a pedido.

 Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, Praça das Amoreiras, 56. 915711048. Ter-Dom 10.00-18.00.

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