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Kinuyo Tanaka
DRKinuyo Tanaka

Kinuyo Tanaka, a realizadora que retratou a mulher japonesa

Começa esta quinta-feira, no Cinema City Alvalade, a primeira parte da Integral Kinuyo Tanaka, a popular e celebrada actriz nipónica que pôs as mulheres do seu país no centro dos seis filmes que realizou nos anos 50 e 60.

Escrito por
Eurico de Barros
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A actriz japonesa Kinuyo Tanaka (1909-1977) entrou em mais de 250 filmes e foi uma das mais populares e prestigiadas artistas e estrelas do cinema nipónico, tendo trabalhado com realizadores como Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi (14 filmes em 15 anos), Mikio Naruse, Akira Kurosawa, Kon Ichikawa ou Keisuke Kinochita. No pós-guerra, Tanaka decidiu ser uma actriz independente, desligando-se dos Estúdios Shochiku, um dos maiores do Japão. E com a ajuda dos seus amigos Ozu, Naruse e Kinochita, o apoio dos recentemente criados Estúdios Shintoho e os múltiplos contactos de que dispunha na indústria cinematográfica do seu país, tornou-se, aos 43 anos, na segunda mulher realizadora nipónica, após Tazuko Sakane (1904-1975).

Kinuyo Tanaka assinou seis longas-metragens entre 1953 e 1962, e vamos poder vê-las, em cópias restauradas em 4K, numa Integral dividida em duas partes, no Cinema City Alvalade, a primeira das quais começa quinta-feira, dia 6 de Abril. Tirando o último filme, Senhora Ogin, passado no final do século XVI (e rodado para uma produtora fundada por três mulheres), são todos “gendai-geki”, isto é, de ambiente moderno e situados no século XX (um na década de 30, os restantes quatro nos anos 50 e 60); e dentro desta categoria, são “josei-eiga”, ou seja, “filmes de mulheres”. 

Em todos eles, Tanaka lançou mão das convenções do melodrama romântico para concretizar a sua intenção de realizar “filmes para mulheres, feitos por mulheres”, mas que nunca desdenhassem um público mais amplo, pondo-as sempre as no centro das histórias, propondo novas representações delas no cinema japonês desses difíceis tempos pós-II Guerra Mundial, e desenvolvendo temas como a prostituição (este em dois títulos, Carta de Amor, de 1953, a sua fita de estreia, e Mulheres da Noite, de 1961), as injustiças e os preconceitos institucionais e sociais, o divórcio, a sexualidade feminina, ou as doenças terminais (caso do cancro da mama em Para Sempre Mulher, de 1955).

Será forçado chamar a Kinuyo Tanaka uma cineasta “feminista”, ou “proto-feminista”, já que nos seus filmes as protagonistas vivem paixões intensas e por vezes impossíveis ou condenadas pelas circunstâncias e pela sociedade, desejam a felicidade amorosa e a realização conjugal, e prezam a família e a vida no seio do lar. Mas isso não impede que os seus vários retratos femininos sejam realistas e modernos, caracterizados por uma intensa e tocante expressão emocional, plenos de empatia para com as personagens, inéditos e arrojados, tendo em conta o cinema que se fazia no Japão – e não só – nessa altura.

Os três primeiros filmes desta primeira parte da Integral Kinuyo Tanaka são Carta de Amor (1953), em que um homem que ganha a vida a escrever cartas que as prostitutas japonesas enviam para os soldados americanos regressados a casa após a ocupação do país, reencontra a mulher que amou e que está agora negativa e dramaticamente marcada por uma associação à “vida fácil”; A Lua Ascendeu (1955), com argumento de Yasujiro Ozu e Ryôsuke Saito, põe em cena três irmãs que vivem com o pai, idoso e viúvo, em Nara, tendo a mais velha voltado a casa após a morte do marido, enquanto a do meio e sobretudo a mais nova vivem ainda sobressaltos amorosos; e o dilacerante Para Sempre Mulher (1955), baseado na vida de Fumiko Nakajo, uma poeta japonesa que teve uma vida familiar conturbada e morreu com apenas 31 anos, vítima de cancro de mama, deixando dois filhos pequenos.

Na segunda parte desta Integral Kinuyo Tanaka, serão exibidos A Princesa Errante (1960), o primeiro filme a cores e em Cinemascope da realizadora, Mulheres da Noite (1961), que marca o reencontro de Tanaka com a sua argumentista de Para Sempre Mulher, Sumie Tanaka, e a produção histórica Senhora Ogin (1962), com a qual ela encerraria a sua curta mas muito significativa carreira atrás das câmaras.

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