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Livraria Ferin encerra aos 183 anos

Casa histórica estava há semanas de portas fechadas enquanto proprietários procuravam solução. Mas "problema financeiro e contabilístico" ditou o fim do negócio.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
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Em 2016, já na iminência de fechar por questões financeiras, a histórica Livraria Ferin, no Chiado, foi comprada pelo fundador da Ler Devagar e do Folio (o festival literário de Óbidos), José Pinho. O preço, no papel, foi de um euro, mas trazia com ele "uma monumental dívida histórica acumulada". A somar a este cenário, anos mais tarde, surgiu a pandemia da Covid-19 e, logo a seguir, foi diagnosticada a José Pinho uma doença oncológica. Em Maio deste ano, o reconhecido livreiro morreu

"Nos últimos seis meses, prosseguimos a procura de uma solução que permitisse tapar o enorme buraco que estes quatro anos de luta vieram acrescentar ao já existente. Mas nem as instituições públicas, nem os investidores privados, nem os parceiros livreiros nem os accionistas e amigos da Ler Devagar conseguiram fazer face ao problema financeiro e contabilístico da Ferin. As suas vendas caíram drasticamente e a livraria Ferin entrou num ciclo do qual já dificilmente recuperaria, seguindo o exemplo de tantas outras lojas da Baixa que foram obrigadas a fechar portas", comunicou a administração, esta manhã, 21 de Dezembro.

Há cerca de sete anos, foram os próprios herdeiros da centenária Ferin que contactaram José Pinho em busca de uma solução. Era "um pedido de ajuda de mais uma livraria que não conseguia fazer face aos problemas com que se deparam todas as pequenas livrarias independentes, cuja facturação e margens de lucro mínimas não lhes dão o fôlego suficiente para competir com as grandes superfícies, que por entre os electrodomésticos também vendem livros", lê-se no comunicado.

"Este ano tornou-se duplamente triste para nós: vimos partir o José Pinho e, agora, tivemos que fechar as portas da Ferin", declara a administração, composta por familiares do livreiro. No mesmo ano, ainda assim, a equipa abriu mais uma livraria e espaço cultural na cidade: a Casa do Comum, projecto idealizado por José Pinho como um retorno da cultura e da vida colectiva ao Bairro Alto. "O Zé Pinho sempre afirmou que 'sempre que uma livraria fechar, a Ler Devagar abrirá uma outra'. Foi isso que aconteceu", afirma a família.

A Ferin foi fundada em 1840 por uma família belga que veio viver para Lisboa durante os conflitos napoleónicos e distinguia-se pelo catálogo focado nas áreas de História, literatura francófona, raridades e edições antigas, entre outras especificidades. No espaço de dias, a Ferin é o segundo estabelecimento com o selo Lojas com História (iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa) a encerrar portas. O outro foi a Barbearia Campos, poucos metros acima, no Largo do Chiado, por onde passaram figuras como Eça de Queirós ou Ramalho Ortigão e que até este mês de Dezembro era a barbearia mais antiga em actividade no país. 

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