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Marvila vai receber um festival ao ar livre pensado pelos moradores

Entre 3 e 25 de Setembro acontece o Felizmente Há Lugar! O festival de artes nasce do Sê Bairrista, projecto social que convida a comunidade a planear iniciativas.

Renata Lima Lobo
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Renata Lima Lobo
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Alfinetes, Salgadas e Marquês de Abrantes. Desde 2017 que o Sê Bairrista dá mais vida a estes três bairros de Marvila, num projecto que desafia a comunidade a participar no desenho das iniciativas que saem à rua, começando pela melhoria do espaço público e culminando em festas e eventos. A última novidade é o Felizmente Há Lugar!, um festival de artes que decorrerá ao longo do mês de Setembro, às sextas e sábados, e cuja programação foi pensada pelos moradores em conjunto com as instituições locais. Para o efeito, foi feito um pequeno palco com 10x10 metros, totalmente construído a partir de plásticos reciclados e que, durante o festival, ficará instalado num descampado junto à Rua Luís de Sttau Monteiro (de onde veio a inspiração para o nome do evento).

“Na primeira sessão de co-desenho, realizada a 1 de Julho, foram lançadas ideias mais ou menos específicas de espectáculos que os moradores gostariam de ver durante o festival. Com essa informação, foi preparada uma segunda sessão, realizada no dia 13, em que foram apresentadas diferentes propostas artísticas que respondiam a concertos, peças de teatro, cinema, eventos…”, explicou à Time Out a equipa do Sê Bairrista.

Segundo a Rés do Chão, uma das entidades dinamizadoras do Sê Bairrista, o evento celebra “uma das grandes conquistas dos moradores do bairro”: a construção de um grande espaço verde, que se tornará realidade com o futuro Parque Urbano da Quinta Marquês de Abrantes, uma obra que arranca em Marvila em 2022. O projecto para o parque, que terá cerca de sete hectares, recebeu contribuições dos moradores da freguesia, através de um inquérito realizado aos habitantes dos bairros vizinhos. Além disso, o júri do concurso incluiu uma representante do Grupo Comunitário 4crescente.

Sê Bairrista
©DRA construção do palco

O programa do Felizmente Há Lugar! arranca com o espectáculo "Cabaret Circo" (21.30), a 3 de Setembro, e no dia seguinte sobe ao palco o espectáculo de dança "Baile da Eira" (21.30). No fim-de-semana seguinte, a 10 de Setembro há concerto dos M&M (21.30) e no dia 11, depois do espectáculo teatral "O Pássaro" (18.00), os holofotes viram-se para outro projecto de relevo de Marvila, mais concretamente de Chelas. A associação Chelas é o Sítio, fundada por moradores como Sam The Kid, apresenta a "Prata da Casa" (21.30), com música de G Fema, Tchapo, Lewis, Karma the Only Sun, Danny the Dawg e DJ Wildberg.

No dia 18 de Setembro, tem lugar uma Oficina de Dança Criativa (18.00) promovida pela companhia Cepa Torta, à qual se segue um espectáculo de dança do projecto PPP - People Power Partnership (21.30). Os últimos dois dias do festival serão recheados com o teatro cómico de Mica Paprika, na forma da peça Paprika Gourmet (21.30), a 24 de Setembro; uma Oficina de Transformação de Plástico Reciclável, do Laboratório Gingada (18.00), no dia 25; terminando com o concerto "Fadiagem" (21.30), nesse mesmo dia.

O Sê Bairrista (inicialmente chamado “C Bairrista”) começou em 2017 como uma iniciativa da Gebalis, empresa pública responsável pela gestão dos imóveis de habitação municipal, que começou por organizar sessões de cinema ao ar livre num esforço de fortalecer as relações entre a vizinhança. Não só chama a si a participação activa das comunidades que contribuem para os processos de decisão em diversas sessões de trabalho, como passou a envolver várias entidades locais, como a Rés do Chão, a Biblioteca de Marvila, a Santa Casa Misericórdia de Lisboa – PRODAC ou o Grupo Comunitário 4Crescente.

“O Sê Bairrista é um projecto que, através de processos participativos, promove a qualificação e a melhoria destes bairros. E fazemos isso todos. Ou seja, todos os moradores que aqui vivem e as instituições que aqui trabalham”, diz a arquitecta Margarida Marques, da Rés do Chão, associação sem fins lucrativos que desenvolve projectos de regeneração urbana com impacto social.

Expostos em praça pública

Nas traseiras da Biblioteca de Marvila está localizada a Praceta C, que desde 2019 tem vindo a ser transformada num colorido jardim. Todos os sábados à tarde, um grupo de moradores reúne-se em torno destes canteiros, que apenas tinham terra e lixo, para lhes dar mais vida. Mas também foi plantada arte urbana no Bairro dos Alfinetes. Os bancos de rua da Praceta C ficaram mais coloridos graças à intervenção de LS. Nascido no bairro, o artista urbano foi convidado a pensar em três propostas que depois foram votadas pela população. A vizinha Praceta A também tem uma novidade a caminho: um parque infantil, estrutura pensada a pedido dos moradores, que contribuíram com muitas ideias para o desenho. Esta obra já está em andamento.

artista LS
©DRBanco da Praceta C

Sentimento de pertença

“Aumentar o sentimento de pertença, as relações de vizinhança, as relações entre a comunidade e as entidades que trabalham no território, ou seja, aumentar a coesão social, são os objectivos fundamentais do projecto”, nota ainda a Rés do Chão, que tem como principal motivação a história dos muitos moradores destes bairros.

A associação dá como exemplo o participativo morador Ernesto Serafim (ou o Ti Ernesto, como lhe chamam os vizinhos), que foi viver para o Bairro dos Alfinetes em 2001. Foi ali realojado, juntamente com mais 30 pessoas, após terem sido demolidas as barracas e outras construções precárias onde viviam, na Curraleira. “Senti-me deslocado. A liberdade que tinha ali era diferente”, diz este antigo operário fabril, que como tantos outros teve de se adaptar a um lugar novo e de começar a plantar novas raízes sociais.

Felizmente Há Lugar! - Rua Luís de Sttau Monteiro (Bairro dos Alfinetes). Reservas: felizmente.ha.lugar@gmail.com ou Biblioteca de Marvila. Entrada gratuita. Mais informação aqui.

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