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Paula Rego morreu na manhã desta quarta-feira, em Londres, segundo confirmou fonte próxima da família à agência Lusa. De acordo com o galerista Rui Brito, a artista "morreu calmamente em casa, junto dos filhos". A pintora foi a artista portuguesa mais aclamada e premiada de sempre, a nível internacional, e a mais reputada e conhecida em todo o mundo. Tinha 87 anos.
Maria Paula Figueiroa Rego nasceu a 26 de Janeiro de 1935, em Lisboa, tendo frequentado, nos anos 40 e até 1951, a St. Julian's School, em Carcavelos. Embora tenha crescido na cidade, foi ainda durante a infância que desenvolveu uma relação de afinidade com a Ericeira, vila onde viria a morar entre 1957 e 1963.
Antes disso, estudou em Londres. É na Slade School of Fine Art, na capital britânica, que conhece Victor Willing, artista inglês (ainda estudante, na altura) com quem viria a casar e teria três filhos. Foi nessa mesma universidade que, em 1954, conquistou o primeiro prémio de Summer Composition. Essa seria apenas a primeira de dezenas de distinções e galardões.
Depois de um período a viver com a família na Ericeira, Paula Rego começou a dividir-se entre Portugal e o Reino Unido, até que em 1976 se fixa definitivamente em Londres com a família.
Em 1983, torna-se professora convidada da disciplina de Pintura na mesma universidade que frequentou e, cinco anos depois, inaugura a primeira grande exposição em nome individual na Serpentine Gallery, também em Londres.
Seguiram-se outras conquistas no cenário artístico internacional: é convidada a integrar a primeira edição do programa Associate Artist Scheme na National Gallery, em 1990 (já depois da morte do marido), recebe o título de Mestre honoris causa em Arte pela Winchester School of Art, em Hampshire, e de Doutora honoris causa em Letras por diversas outras universidades britânicas e norte-americanas, nos anos seguintes.
Em 2004, em Portugal, é condecorada com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'Iago da Espada. Um ano depois, pinta o retrato oficial do Presidente da República Jorge Sampaio, ao mesmo tempo que vê seis litografias da série Jane Eyre serem usadas pela Royal Mail para edição de uma colecção de selos, no Reino Unido.
A Casa das Histórias Paula Rego abre, em Cascais, em 2009, com um edifício projectado por Eduardo Souto de Moura. A colecção é constituída por pintura e gravura (e ainda por uma obra têxtil de grandes dimensões) e é reflexo de um percurso artístico de mais de 50 anos. Depois das personagens animalescas, o trabalho de Paula Rego centrou-se na figura feminina, explorada ao longo de décadas. Até dia 19 de Junho, é possível visitar a exposição temporária "Coleção Casa das Histórias Paula Rego".
"O seu estilo evoluiu rapidamente do abstracto para o figurativo-representacional, servindo narrativas baseadas em obras literárias ou, maioritariamente, em contos populares portugueses, com uma perspectiva crua, de formas robustas e delineadas com absoluta clareza, que evocam, ora o sentimento de culpa católica que a possuiu na infância, ora a convicção feminista que desenvolveu e pela qual militou na vida adulta", pode ler-se no comunicado emitido esta quarta-feira pela Fundação D. Luís I, que tutela a casa das Histórias Paula Rego. "Tudo faremos para honrar a sua memória através das actividades programadas e a programar na Casa das Histórias Paula Rego", lê-se ainda.
Em 2010, recebeu o título de Dama por parte da Coroa Britânica. As obras de Paula Rego integram alguns dos principais acervos de arte contemporânea, em Portugal e no mundo — Gulbenkian e Serralves, mas também Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, National Gallery, National Portrait Gallery, The Tate Gallery e The British Museum, em Londres.
A 1 de Julho de 2015, o quadro The Cadet and his Sister, da autoria da pintora portuguesa, é vendido por 1,6 milhões de euros num leilão da Sotheby's, em Londres. O recorde permanece até hoje.
Em 2017, é lançado Paula Rego, Secrets & Stories, um documentário sobre a vida de Paula Rego, realizado pelo filho, Nick Willing. Em 2019, Paula Rego, que não voltou a residir em Portugal, recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Governo Português. Nesse mesmo ano, realizou a última grande exposição individual em solo português. "Paula Rego. O Grito da Imaginação" inaugurou a 24 de Outubro na Fundação de Serralves.
Em Julho do ano passado, a Tate Britain inaugurou a mais retrospectiva alguma vez feita da pintora, com mais de uma centena de pinturas, gravuras, colagens, pastéis, desenhos e esboços criados entre 1950 e 2010.