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objectismo nuno cardoso
© Arlei Lima Nuno Cardoso

Na Objectismo só entra cerâmica portuguesa (e modernista)

Às Avenidas Novas, perto da Gulbenkian, chegou uma galeria dedicada à cerâmica portuguesa. Até 30 de Novembro, a exposição de inauguração é dedicada a peças de Manuela Madureira.

Escrito por
Beatriz Magalhães
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Após dez anos na Rua Dom Pedro V, no Príncipe Real, a Objectismo mudou-se. A galeria dedicada a cerâmica portuguesa inaugura a nova morada nas Avenidas Novas com uma exposição de peças da ceramista Manuela Madureira (1930-2022), patente até 30 de Novembro.

Na Rua Marquês Sá da Bandeira, de frente para a Gulbenkian, os azulejos amarelos destacam-se na fachada do prédio. Servem para identificar uma nova inquilina, a Objectismo. A galeria ocupa agora o espaço de um antigo café. “Estar aqui foi o renovar de um novo fôlego para o projecto”, conta-nos, entusiasmado, Nuno Cardoso, arquitecto de profissão e director da galeria. Obrigado a sair do Príncipe Real, depois do contrato de arrendamento não ter sido renovado, a saída revelou-se necessária e até tardia. "O público lá mudou e a resposta agora já não era a mesma de quando abriu. Havia galerias e antiquários na Rua D. Pedro V e, com as alterações do turismo, estas lojas desapareceram, os antiquários fecharam, e o público que circula ali agora é desinteressado nestas coisas. Transformou-se num caos." Aqui, nesta rua movimentada da cidade, Nuno viu os seus requisitos preenchidos. 

objectismo
© Arlei Lima

Quando abriu a galeria, há dez anos, estava mais interessado em expor objectos a seu gosto, “fosse o que fosse”. Chegada a hora de avançar com o projecto, Nuno, que já adquirira algumas peças em cerâmica, entendeu que, em Portugal, não existia nenhuma galeria dedicada exclusivamente à cerâmica portuguesa. Assim, nasceu a Objectismo. O nome alude à ideia de culto do objecto e também aos “ismos”, característicos dos nomes de várias correntes artísticas, realçando o propósito da galeria – mostrar objectos do Modernismo português. Na galeria, encontra peças de cerâmica da década de 50 a 70, tanto de autor, como de fábricas de cerâmica nacionais, actualmente encerradas. Compradas em feiras, leilões e a particulares, estas peças já não se produzem, daí a sua singularidade e valor único. O trabalho de artistas contemporâneos cruza-se, pontualmente, com as peças modernistas apresentadas, já que “há um motivo e linha que orienta a galeria”, esclarece Nuno Cardoso. 

“Cerâmicas de 1957 a 1978: Variações em azul” é a exposição que inaugura o novo capítulo da história da galeria. “Houve uma coincidência”, conta-nos o dono. No final do ano passado, na mesma altura em que adquiriu o espaço, foi contactado pelas herdeiras de Manuela Madureira, que pretendiam vender o espólio de peças da ceramista. Nuno Cardoso deparou-se então com um atelier preenchido por 32 peças da artista, todas elas na actual exposição. 

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© Arlei Lima

“Foi como entrar na gruta do Ali Babá”, brinca. Para o galerista, Manuela Madureira está entre as mais importantes ceramistas portuguesas da segunda metade do século XX, com um conjunto de obra muito diversificado. O que só realça a oportunidade de expor o trabalho de uma artista que, não tendo tido ampla divulgação, atrai os olhares de coleccionadores e curiosos. Da limpeza e restauro das peças à preparação do catálogo e montagem da exposição, foi um ano de trabalho. O conjunto das peças, todas elas à venda, figuram pratos, vasos, jarras e outras obras produzidas em azulejo, com tons de azul, verde e castanho.

Além destas, estão presentes dois quadros desenhados pela artista, um rascunho e outro que apresenta o mural elaborado por Madureira para os departamentos de Física e Química da Universidade de Coimbra. O livro acerca do corpo de obra da artista, editado pela própria, também está exposto. O catálogo da exposição tem curadoria e textos de Pedro Moura Carvalho. No seu todo, a colecção reflecte o seu tempo e também a veia modernista que lidera esta secção do trabalho de Manuela Madureira.

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© Arlei Lima

A Objectismo apresenta, assim, dois tipo de peças – direccionadas a um público especializado e familiarizado com a cerâmica portuguesa e outras escolhidas a pensar num público que procura adquirir uma peça de decoração. Além da divulgação e comercialização de peças de cerâmica de autor e de fábrica, bem como da edição de catálogos em torno das peças apresentadas, a galeria propõe-se a vender mobiliário de autor, desenhado pelo próprio Nuno Cardoso. As peças de mobiliário são únicas, feitas a partir de azulejos que o arquitecto adquire, e costumam ser apresentadas em feiras e exposições. Para já, ainda não tiveram direito a uma mostra exclusiva. 

Terminada a exposição sobre a Manuela Madureira, a próxima vai contar com peças alusivas à quadra natalícia. Da agenda do próximo ano, podemos esperar uma mostra com peças dos anos 50, de um artista desconhecido do público, outra dedicada a peças de fábrica, e ainda uma exposição de um artista contemporâneo.

“Cerâmicas de 1957 a 1978: Variações em azul” de Manuela Madureira abre este sábado, 14 de Outubro, e fica patente até 30 de Novembro.

Objectismo, Rua Marquês Sá da Bandeira 70. 14 Out-30 Nov, Ter-Sáb 11.00-13.00 15.00-19.00. Entrada gratuita

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