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Retrosaria Rosa Pomar
Gabriell Vieira

Não perca o fio à meada. Rosa Pomar levou a Retrosaria para os Anjos

Em Lisboa, é a loja de referência para quem tricota, e não só. Depois de 12 anos junto ao Bairro Alto, a Retrosaria tem nova casa.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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As montras abrem a loja à rua, coisa inédita na história da Retrosaria. Estamos nos Anjos, o bairro onde Rosa Pomar acaba de abrir a nova versão daquele que é o seu projecto de vida. Ampla e com espaço para circular, distingue-se do antigo apartamento da Rua do Loreto, que foi durante mais de uma década destino de romaria para todos os aficionados da malha. A clientela terá de se habituar ao novo poiso. A proprietária admite que há males que vêm em boa hora.

"Fomos gentrificados dali para fora", exclama Rosa Pomar, agora com a descontracção de quem inaugurou um novo capítulo. "Custou-me imenso sair dali, foi onde cresci. Por outro lado, a população tem estado a desaparecer daquela zona e há cada vez mais gente a dizer-me que já não vai ao Chiado", explica. A mudança impunha-se. O crescimento do negócio (que não se limita a produzir o próprio fio nem a importar algumas marcas estrangeiras, também exporta lãs portuguesas) há muito que tinha separado loja e armazém.

Retrosaria de Rosa Pomar
Gabriell Vieira

Ter um espaço maior permite agora à Retrosaria voltar a ter todas as valências numa única morada – a loja ocupa o piso térreo, o armazém e o escritório ficam no andar de baixo. "O ano de 2020 acabou por não ser assim tão mau. Fechadas em casa, as pessoas começaram a fazer mais tricot e isso fez com que tivéssemos de focar toda a equipa no online", resume. "O início de 2021 já foi mais difícil. Estávamos a fazer um investimento enorme nas obras e a certa altura não sabíamos se fazia sentido ter uma loja física."

Dúvidas que rapidamente se dissiparam, sobretudo num bairro onde os novos negócios florescem, mesmo em tempos de pandemia. E afinal, estamos numa casa de novelos, meadas e tecidos, onde o momento de chegar, ver e tocar dificilmente poderá ser substituído. "Uma loja de tricot é um lugar de comunidade. Muitas vezes, as pessoas vêm só para mostrar os trabalhos que estão a fazer. É tudo muito táctil: as cores, os fios, as texturas. Na internet não é a mesma coisa", refere.

Mesmo não sendo um apartamento do século XIX, o interior da nova Retrosaria segue o estilo da antiga morada: móveis escuros que remetem os sentidos para a tradição e para a manualidade. Ao mobiliário da antiga casa juntou-se uma grande estante com um século de história, resgatada de uma velha sapataria de Cuba, no Alentejo. O arquitecto Nuno Sottomayor fez o resto. "Quando entrámos aqui, deparámo-nos com um espaço descaracterizado. Quisemos criar algo que também não fosse uma colagem", assinala.

Retrosaria de Rosa Pomar
Gabriell Vieira

"As coisas estão mais expostas e isso nota-se. As pessoas estão a descobrir coisas que nem sabiam que vendíamos", afirma, enquanto mostra os cantos à casa. Os fios desenvolvidos por Rosa Pomar e produzidos em Portugal continuam a ser os mais vendidos. Mas não são a única mercadoria que aqui se encontra: há meadas e novelos importados, sempre provenientes de produções de pequena escala e à base de fibras naturais. Há tecidos nacionais vendidos a metro, uma vasta selecção de livros de especialidade e réplicas de botas portuguesas da Primeira Guerra Mundial, fabricadas até hoje na região Oeste.

Ainda a levar os últimos retoques está a sala destinada aos workshops, agenda sempre concorrida que Rosa espera conseguir retomar já em Outubro. Os de tricot são dados pela própria, mas há mais labores para aprender ou aperfeiçoar: crochet, macramé, tecelagem e até cestaria. A morada é outra, mas a vocação da Retrosaria para transmitir técnicas e conhecimentos não muda. Nem isso, nem a carreira do eléctrico 28 que, mesmo noutro bairro de Lisboa, continua a passar à porta.

Rua Maria Andrade, 50A. 21 347 3090. Ter-Sáb 10.00-19.00.

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