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Academia do jardineiro lisboeta
Francisco Romão Pereira

No Chiado brotou uma biblioteca dedicada à botânica

Num antigo alfarrabista no Chiado, Nuno Prates ergueu um espaço para cultivar o pensamento sobre os jardins da cidade. Eis a Academia do Jardineiro Lisboeta.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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Faz já algum tempo que pintaram de azul o chão da Rua Nova da Trindade, no Chiado, mas a vizinhança ganhou, há poucas semanas, um inquilino mais verde. Chama-se Academia do Jardineiro Lisboeta e instalou-se no piso térreo do edifício onde mora a histórica Academia de Amadores de Música. 

À esquerda, a porta deixa à vista sete metros quadrados onde estão mais de mil livros. Neste lugar, um antigo alfarrabista, colhem-se os frutos das viagens de Nuno Prates, um alfacinha de 55 anos com um saber enciclopédico sobre jardins. Há anos que o jardineiro coleciona livros sobre botânica. Agora, disponibiliza-os ao público nesta biblioteca de acesso livre, mas sujeita a marcação – os dias em que está de porta aberta vão sendo divulgados no Instagram

Academia Jardineiro Lisboeta
Francisco Romão PereiraNuno Prates, o fundador da Academia do Jardineiro Lisboeta.

É este o coração da Academia do Jardineiro Lisboeta. "Ou o cérebro", brinca Nuno, que respeitou os expositores e os escaparates originais, reconstruindo apenas alguns que estavam em mau estado, para alocar os cerca de 1140 livros da sua colecção. Os títulos cobrem um universo específico: botânica. "Não é uma divisão de bibliotecário clássico", avisa. "É uma divisão prática."

Há livros sobre árvores, compêndios e enciclopédias, jardins do mundo, jardins botânicos, bromeliáceas ("uma família de plantas que estou a desenvolver em jardins aqui em Portugal"), palmeiras, cicas, orquídeas, suculentas, livros que se dedicam a apenas uma espécie, publicações escritas por portugueses e editadas em Portugal, fotografias de jardins naturalistas, obras sobre paisagismo, ensaios, publicações periódicas e livros de culto. "Livros de culto, que consegui em alfarrabistas de outros países", recorda o jardineiro, que não hesita em tê-los logo à entrada. "Pela beleza de tudo, até a fonte, o design, tudo isto é magnífico", descreve.

ACADEMIA JARDINEIRO LISBOA
Francisco Romão Pereira

Mas esta é apenas uma das partes da academia. No antigo armazém do alfarrabista, na sobreloja, para lá da escadaria em mármore, o jardineiro lisboeta mantém um herbário, inicialmente prensado, mas agora também com peças com três dimensões. "A maioria são espécies que eu próprio cultivei", explica, ou "pinhas, frutos ou cascas que fui trazendo dos sítios por onde passava". O espaço tem uma disposição peculiar, com um tecto baixo, e uma zona mais ampla para ser utilizada como atelier ou para manusear e observar as peças em detalhe. "Dá para fazer uma leitura dos estilos dos jardins, da horticultura, das ornamentais, dos gostos. Porque até nas plantas os gostos mudam. Há mesmo paranóia por este tipo de planta, ou aquele padrão, ou uma cor. Exactamente como na roupa."

O terceiro recanto da academia está actualmente alugado, mas em breve servirá de zona de leitura da biblioteca, bem como espaço para receber exposições, debates e tertúlias. “Isto não serve de nada se não for partilhado. Só consigo evoluir se conseguir dialogar, partilhando o conhecimento que tenho e ajustando o conhecimento que os outros me dão também”, diz Nuno, que quer partilhar com a comunidade o conhecimento, não só seu, mas de quem possa aportar novas leituras e perspectivas sobre a paisagem da cidade.

Academia Jardineiro Lisboeta
Francisco Romão Pereira

Por isso mesmo, já estão na calha actividades para que os lisboetas (e não só) possam pôr a mão na massa – não literalmente. O objectivo “não é ensinar o jardineiro como esgravatar a terra, como plantar, como semear, como podar”, esclarece Nuno. “A jardinagem prática já está muito divulgada, a jardinagem cultural, literária, não está – e é essa que eu quero efectivamente aflorar”, diz.

Não tarda e a programação da academia vai contar com workshops, cursos e palestras sobre temas como a manutenção de árvores urbanas, o preconceito na selecção de espécies para a cidade ou a forma como estas reflectem a nossa cultura e a nossa história. "Há aqui motivo para muita discussão”, garante. Estão também planeados percursos pedestres. Um deles será com Ivo Meco, autor de Jardins de Lisboa, e incidirá sobre a diversidade das árvores na capital. Os percursos terão uma periodicidade semanal, todos os sábados, e uma duração máxima de duas horas. O custo deverá andar em torno dos 13€. 

Academia do Jardineiro Lisboeta. Rua Nova da Trindade, 18 (Chiado). Por marcação.

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