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Também estão no mapa?
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No Museu de Lisboa há mapas a levantar perguntas sobre as periferias de Lisboa

A exposição "Também estão no mapa?", de António Brito Guterres, usa os mapas como ferramenta para pensar e dar a conhecer as periferias da cidade.

Helena Galvão Soares
Escrito por
Helena Galvão Soares
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A exposição "Também estão no mapa?", concebida e coordenada por António Brito Guterres, investigador em estudos urbanos e dinamizador cultural, abre com o mapa de Mercator, o mapa-mundo que todos utilizamos, embora seja uma representação do globo profundamente distorcida, em que o hemisfério norte parece muito maior do que o de facto enorme continente africano (onde cabem China, Índia, EUA, os maiores países da Europa, mais Japão, Nova Zelândia, México...).

É o ponto de partida para falar de centro e periferia, e de poder. "Como é que um mapa resgata ou rasura uma comunidade?", pergunta-se. "O local onde se habita determina, no contexto das políticas públicas em Portugal, o tipo de serviços de saúde, educação e demais interfaces de cidadania", diz o cartaz (e dizem as estatísticas).

Num painel dedicado à mobilidade leve, um mapa apresenta a localização das docas das bicicletas municipais GIRA – e dá que pensar. Chelas, Beato, Ajuda, Leste da Penha de França, Bairro Padre Cruz, Lumiar... a maior parte dos bairros periféricos estão excluídos do mapa da mobilidade suave.

"Também estão no mapa?"
HGS

Nos mapas do painel sobre Crime, Média e Estigma aparecem a amarelo os locais em que, durante o ano de 2015, o Correio da Manhã noticiou um crime, devidamente confirmado pela polícia. A vermelho os locais com taxa de criminalidade mais elevada naquela área metropolitana. Os pontos não coincidem, os bairros onde o crime é notícia no Correio da Manhã não são os bairros onde a taxa de criminalidade é mais elevada.

Os afectos também podem ser mapeados. Na Curraleira, 20 anos após a demolição do antigo bairro e de os moradores terem sido realojados em blocos de prédios construídos nas imediações, quando foi pedido às pessoas que contassem uma história que tivesse sido importante para elas e a localizassem no mapa, 90% das histórias estão situadas num descampado – o local onde era o antigo bairro.

Identidades e representação, mobilidade leve, estigma nos media, memória e vida pós-colonial, os casos de Talaíde/Tagus Park, Curraleira e Castelo são temas que vai encontrar nesta exposição, que é parte de um projecto mais abrangente, concebido por Brito Guterres e iniciado em Janeiro com o ciclo Os mapas também o são, no Teatro do Bairro Alto. Em Setembro teve um segundo momento já no Museu de Lisboa – Palácio Pimenta, com Os mapas fazemos nós, com percursos guiados por moradores de quatro bairros (Curraleira, Charneca e Bairro Quinta Grande, Bairro do Portugal Novo e Bairro da Liberdade), e que foi seguido de um almoço e uma conversa no museu.

Conhecer a forma como os moradores dos bairros periféricos vêem os seus bairros e constroem as suas identidades e dar a conhecer essas vivências a quem não vive lá, de uma forma participada por todos, são objectivos deste projecto. "Os mapas aqui servem para responder a perguntas, para desafios que são colocados, e a partir daí chegar a novas perguntas", dizia António Brito Guterres na sessão inaugural do Teatro do Bairro Alto.

A entrada é gratuita, mas passe pela bilheteira e leve o desdobrável da exposição. No verso tem 53 QR codes de vídeos de músicos e colectivos de rap crioulo e as suas localizações num mapa da Área Metropolitana de Lisboa. Mais um mapa a descobrir.

"Também estão no mapa?". Jardins do Palácio Pimenta – Museu de Lisboa. Campo Grande, 245. Ter-Dom 10.00-18.00. Até 12 Mar 2023. Entrada livre

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