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A cabeça de Constança Cordeiro não pára. “Eu preciso de fogo, eu preciso de me motivar, de motivar a minha equipa, de dar o exemplo, de fazer coisas novas”, confessa no novíssimo Uni. Mas para chegar até aqui foi preciso saber como inventar a roda, de novo. “O que é que é novo? Antes de existir a roda ninguém fazia a mais pequena ideia do que era a roda, e o fogo, e as verdadeiras inovações. Então pensei ‘se quero criar uma coisa nova não posso olhar ao meu redor, tenho mesmo de pensar dentro e profundamente’”, conta a barmaid.
Antes de mais, e para não levar ninguém ao engano, importa esclarecer que no novo bar de cocktails de Constança Cordeiro, que em 2018 se deu a conhecer com a Toca da Raposa, não há bebidas sem álcool e tampouco cocktails clássicos, como negronis ou margaritas. Há, sim, criações únicas, pensadas para as bocas curiosas que visitarem o espaço no Bairro Alto. É precisamente a esse traço inovador, especial, que se lhe deve o nome, que vem de “uniflavor”.
“Quando comes uma pizza sabes que tem trigo, molho de tomate e queijo, mas não estás a analisar os sabores individualmente. De repente, sabe a pizza. A ideia aqui foi exactamente essa: uma bebida com dez a 15 ingredientes, em que nenhum deles tem um palco, mas a orquestra entre todos cria um novo sabor”, explica a barmaid. Por isso a carta não discrimina os ingredientes, apenas o perfil de sabor. “É muita informação e não acho que seja relevante para a experiência. Estamos a criar sabores novos, por isso não interessa”, afirma.
A ideia surgiu em 2021. Foi preciso fazer a tal introspecção, sim, mas os saberes do passado também foram necessários. “Na Toca trabalhamos muito com produto natural e muitas plantas silvestres. É muito focado em plantas, cereais e frutas. Já tínhamos as técnicas de extração de sabor, o que facilitou muito o trabalho aqui. Ou seja, para criar o Uni eu já sabia como extrair os 80 ingredientes que temos na carta. Então foi só uma orquestra.”
E mesmo antes de provarmos os cocktails já sabemos que vai ser uma experiência de outro mundo. É que Constança fez do seu pequeno bar, com lugar para apenas nove pessoas, uma espécie de nave espacial – um projecto do XXXI Studio. Há cortinas brancas a fazer de paredes e a mesa tem o formato de uma rocha feita de esponja (quase que parece um meteorito). Esta peça central é da autoria de João e Carolina Parrinha, da Softrock. O tecto, idealizado pelo artista português Manuel Tainha, oferece amplitude ao espaço. “Quero que sintam leveza e conforto", diz.
Da carta, original e colorida, destaca-se o Benae Jessa (16€), um cocktail mineral, ácido, selvagem e excêntrico, como se lê no perfil. “É a minha masterpiece. A cor rosa é da pitaya, e depois tem algas, arroz tostado, um fermentado de kiwi, um macerado de líquen, conchas e pedras da praia…”, enumera. Mas há mais para provar. O Rue (16€), de cor preta, é agridoce, herbal, fresco e borbulhante; o Shaia (16€) é mais tropical, leve, refrescante e “yummy”. Para acompanhar há um amuse-bouche e a conta vem com uma surpresa doce – umas gomas de dentadura.
O Uni tem poucos dias de vida e por isso, para já, Constança só deseja que este “seja um sítio onde as pessoas se sintam bem, mas que venham de facto procurar alguma coisa nova”.
Rua de O Século, 204 (Bairro Alto). Qui-Dom 18.00-02.00
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