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Crucio
© Arlei Lima/ Time Out LisboaA recepção do Crucio no Chiado recria a sala comum de Gryffindor

No novo estúdio de tatuagens de Lisboa, viajamos até Hogwarts

Chama-se Crucio, mas não está amaldiçoado. Entrámos no novo estúdio de tatuagens do Chiado e sentimos que tínhamos passado para o outro lado da Plataforma 9 ¾.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Rita Valente faz parte da geração de miúdos que cresceu com a saga de Harry Potter. O primeiro volume que leu foi na verdade o segundo, Harry Potter e a Câmara dos Segredos. Tinha 11 anos e, apesar de não se sentir exactamente uma underdog como o personagem titular, sentia-se sozinha, por vezes alienada. “Aqueles anos de transição para a adolescência são difíceis para, se não todas, muitas crianças. Eu refugiei-me na leitura, e esta história acompanhou-me e ajudou-me a persistir nos piores momentos”, conta a tatuadora, que acaba de abrir no Chiado um estúdio inspirado em Hogwarts. Chama-se Crucio, numa referência a Cruciatus, uma das três maldições imperdoáveis, que provoca dor excruciante e é capaz de levar à insanidade sem causar lesões físicas no adversário. Mas não se preocupe. “É apenas uma brincadeira. Ninguém sai daqui amaldiçoado.”

@timeoutlisboa Conteúdo não seguro para Muggles ⚡ O novo estúdio de tatuagens no Chiado chama-se Crucio, mas não está amaldiçoado. Fomos visitá-lo e saímos de lá a sentir que tínhamos conseguido passar para o outro lado da Plataforma 9 ¾ 🚂 #TimeOutLisboa #TimeOut #Lisboa #CoisasParaFazerEmLisboa #ThingsToDoInLisbon #HarryPotter #TattooStudio ♬ original sound - timeoutlisboa

A localização é discreta, mas fazemos questão de facilitar a próxima visita. A entrada do número 51 da Rua do Carmo encontra-se entre uma loja de souvenirs e uma W52. A meio da porta certa há um ATM, que basta contornar pela esquerda ou pela direita. Depois é entrar no elevador e subir até ao 4.º andar. Quando lá chegar, vai perceber logo pelos estandartes. Com cerca de 60 m2, o estúdio está dividido em quatro salas temáticas. Além da recepção, que recria a sala comum de Gryffindor, há três divisões inspiradas nas salas de aula de Herbologia (com paredes de plantas artificiais), Poções (com caldeirões em miniatura suspensos no tecto) e Astronomia (com nuvens de algodão iluminadas por LED). “O bónus é a casa-de-banho”, revela Rita, antes de mostrar a “chuva de cartas”, que evoca a cena em que Harry recebe centenas de cartas com o brasão de Hogwarts.

Quem tem sorte ao amor, tem tudo

Este Crucio é, na verdade, o segundo que Rita inaugura. Enquanto o primeiro, aberto desde 2019 no Areeiro, é inspirado na casa de Slytherin, o novo evoca Gryffindor, a mais popular casa da Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, à qual se encontra vinculado Harry Potter. “Nos livros, o Dumbledore diz que somos aquilo que escolhemos ser. Se tivermos pensamentos cruéis e escolhermos não fazer a coisa errada, isso é o que nos define. É essa a razão para ter escolhido primeiro aquela que é a casa mais incompreendida. Também eu, muitas vezes, me senti incompreendida e injustiçada. Foi uma forma de me reconciliar com o meu lado mais escuro, que não é necessariamente mau”, esclarece. “Por outro lado, quando decidi abrir o meu próprio negócio, soube desde o início que queria marcar a diferença. Há muitos estúdios por aí. Este não é apenas mais um.”

Crucio
© Arlei Lima/ Time Out LisboaA “sala de herbologia” do Crucio – House of Gryffindor

A tatuar há apenas cinco anos, Rita demorou a descobrir a sua vocação – esteve um ano num curso de Gestão Hoteleira antes de se formar em Línguas, Literaturas e Culturas –, mas o seu percurso atípico, muito marcado por paixões artísticas, da dança à olaria, acabou por levá-la aonde era preciso. Quando teve a tão esperada epifania, estava a trabalhar como recepcionista numa loja de tatuagens. “Sempre desenhei e, quando percebi que havia quem fizesse realmente disso uma profissão segura, senti que era algo que também podia fazer. No início, foi muito difícil, porque é uma indústria muito fechada e há muito sexismo. Cheguei a ouvir ‘tatuas bem para uma mulher’ ou ‘nunca fui tatuado por uma mulher, tens a certeza que…’, mas está a mudar. E, como costumo dizer, a batalha só está perdida quando eu desistir.”

O risco compensou. Depois de ter começado como auto-didacta, aventurou-se em viagens pela Europa – para conhecer diferentes tatuadores e tentar a sua sorte – e, já depois de ter aberto o primeiro Crucio, conheceu Selwyn Bailey. Apaixonado por tatuagens desde os 19 anos, o belga não é tatuador, mas era gerente de artistas num estúdio em Bruxelas quando Rita entrou na sua vida. “Fiquei tão impressionado que, quando ela se apresentou, dei-lhe um aperto de mão muito envergonhado, como se fosse um rapazinho”, conta-nos Selwyn, por entre risos. Por impressionado leia-se “caidinho”. “Mudou-se para Portugal só por minha causa”, conta Rita, a quem saiu a sorte grande no amor e no negócio. “Ele nem sequer é um super fã de Harry Potter, mas não hesitou em meter-se nisto comigo.” Selwyn garante que, apesar dos três meses muito duros em que estiveram fechados a renovar tudo, tem sido muito gratificante ver as pessoas reagirem.

Crucio
© Arlei Lima/ Time Out LisboaA “sala de poções” do Crucio – House of Gryffindor

Uma experiência imersiva

A decoração foi pensada ao mais ínfimo pormenor. Há objectos feitos à mão, pela Rita ou por amigos, mas a maior parte foi comprada em segunda mão. “Regateámos aquele cortinado [que decora a janela da recepção] com um senhor que estava a vender o recheio de uma casa. Na verdade, o cortinado nem sequer estava à venda porque foi feito à medida. Nós nem sabíamos se ia encaixar aqui. Mas gostámos e pensámos ‘que se lixe, bora levar’”, conta Selwyn, que foi uma espécie de faz-tudo do projecto. “A certa altura, dei por mim sem conseguir ver o fim. Queria muito fazer acontecer, mas estou fora do meu país, ainda não sei falar a língua e estive meses a batalhar com paredes velhas e a ver coisas falhar. Chorámos muito.”

Como se costuma dizer: depois da tempestade, vem a bonança. Até os vizinhos, que se foram queixando do barulho das obras, já elogiaram o resultado. É que – além de cada sala ter a sua própria cor, cheiro e banda sonora – o nível de detalhe é quase absurdo. Por exemplo, na “sala de poções”, os caldeirões suspensos no tecto são o mínimo: há um armário com poções, exemplares de diabretes e até uma serpente em madeira de tamanho considerável. Já a “Torre de Astronomia”, destaca-se sobretudo pelo espectáculo de luzes. “A ideia é que vir cá seja mesmo uma experiência imersiva. Quando os clientes chegam, oferecemos chá inglês, sapos de chocolate e os famosos feijões de Bertie Bott. Quando se sentam ou deitam na marquesa, estão tão felizes e entretidos que se esquecem do desconforto das agulhas.”

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© Arlei Lima/ Time Out LisboaA “Torre de Astronomia” do Crucio – House of Gryffindor

Na hora de tatuar, a equipa conta com um total de dez artistas, entre residentes e convidados pontuais, especializados em diferentes estilos. Demasiados para enumerar, garante Rita, que pessoalmente faz um pouco de tudo, mas é fã assumida de retratos realistas a preto e branco. Os preços começam nos 80€ e podem ir até aos 600€. No final, toda a gente sai com um envelope. “É um mimo, uma carta de agradecimento por confiarem em nós, e inclui brindes temáticos”, adianta Selwyn. “Já fui tatuado em muitos lugares e a maior parte dos sítios são demasiado impessoais. Às vezes até estamos na marquesa a ouvir os tatuadores conversar entre si. Não é fixe e é importante para nós que isso não aconteça aqui. Queremos fazer o cliente feliz desde o primeiro contacto.”

Rua do Carmo, 51, 4.º andar. Seg-Dom 10.00-19.00. 913358781 | info@cruciotattoo.pt

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