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Já cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém
DRJá cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém

No princípio era o vinho. A volta à Abel Pereira da Fonseca em cartazes e embalagens

O que é hoje um centro cultural e de comércio, o 8 Marvila, já foi vida de suor, cargas e descargas. A mostra ‘Já cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém’ recupera esse universo.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
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Para ver as relíquias, é preciso esgueirar a cabeça cuba adentro, até porque "Já cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém", como o título sugere, não é uma mostra de teor tradicional, leia-se: prego na estampa, iluminação e legenda. Começando pelos objectos, estamos perante uma colecção que enaltece o design de embalagem, A Primorosa Colecção (assim se chama), que começou a crescer nas mãos de Mauro Santos, designer, há cerca de 30 anos. Nela encontram-se vinhos, licores, azeites, rótulos, fotografias, brindes e cartazes, todos pertencentes ao universo da companhia Abel Pereira da Fonseca, que chegou a ser uma das maiores casas de produção e comercialização de vinhos do país e alterou para sempre a paisagem e o ritmo da zona entre o Beato e o Poço do Bispo. A empresa chegou a ter mais de 1000 funcionários e clientes habituais como Fernando Pessoa, que em períodos de maior carência emocional se via obrigado a interromper as tarefas de escritório para "ir ao Abel". 

Já cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém
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"Há muita gente, estrangeiros, sobretudo, que vem agora ao 8 Marvila e desconhece completamente o que aqui havia antes", explica Inês Vidal, também designer e curadora desta mostra em conjunto com o proprietário da colecção. Pois o que aqui havia era a "Catedral do Vinho". Assim ficaram conhecidos os armazéns, dada a sua dimensão, e sempre que vinha mais carga, Tejo abaixo, desde a zona do Bombarral e imediações, consta que se entoava a frase que hoje dá nome à mostra: "Já cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém".

De cuba em cuba, pelo design do século XX

Mas começámos o texto com um movimento, o de inclinar a cabeça para dentro de uma cuba de vinho. Como ilustra Inês Vidal, numa conversa por telefone com a Time Out, uma parte das peças estará em exposição precisamente dentro das diferentes cubas do edifício (que chegaram a albergar 20 milhões de litros de vinho), com a devida iluminação e uma paisagem sonora propositadamente criada (por Samuel Lucas) para a ocasião, bem como algumas projecções de imagem. Outra parte estará no atelier de Luísa Pereira da Fonseca (também no 8 Marvila), artista plástica e trineta de Abel. Ao todo, a mostra faz-se de uma selecção de 100 peças, de diferentes períodos do século passado. Pelo espaço, estarão também objectos a recriar um pouco do ambiente da época (ou das épocas, já que a empresa funcionou, em diferentes localizações e sob tipologias distintas, entre 1906 e 1993), como gavetas e outras peças de mobiliário ou decorativas.  

Já cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém
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Ao longo de várias décadas, "a sociedade, os seus armazéns, oficinas e as casas para o pessoal ocupavam o largo e as ruas adjacentes, formando uma extensa e dinâmica vila", um "núcleo industrial e social altamente dinâmico e próspero". "Percebemos então que, tal como hoje o 8 Marvila se afirma como um pólo comercial e cultural na cidade de Lisboa, no início do séc. XX, este local seria um centro pujante, com muita vida social, comercial e cultural", comparam os organizadores da mostra.

Já cheira a carvalho das aduelas e a vinhos de armazém
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Como refere Inês Vidal, que "há muitos anos" se dedica à investigação nas áreas do consumo e design de embalagens do Portugal do século XX, "esta é a primeira de muitas iniciativas" sobre o tema que está a organizar em conjunto com Mauro Santos. "Queremos conversar sobre consumo, embalagens, criar massa crítica" acerca do assunto, diz a designer e produtora cultural. Esta, que é a primeira, inaugura quinta-feira, 9 de Maio, às 19.00. 

8 Marvila (Poço do Bispo). 9 Mai-9 Jun. Qui-Sáb, 12.00-00.00, Dom 12.00-22.00. Entrada gratuita

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