A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Mariana Duarte Santos
Fotografia: Arlei LimaMural no Bairro Horizonte

Nova pintura mural recupera a Curraleira no Horizonte

A artista Mariana Duarte Santos pintou um mural no Bairro Horizonte, nascido no antigo Bairro da Curraleira. Uma obra que recupera memórias antigas de uma comunidade esquecida e que foi criada com a ajuda dos moradores.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Publicidade

Já passaram mais de 20 anos desde que o antigo bairro da Curraleira, composto essencialmente por barracas, foi demolido. Mas o topónimo sobreviveu, assim como muitas memórias de tempos ainda mais complicados, onde inúmeras barracas proliferavam pela encosta no Vale de Chelas.

As demolições arrancaram em 2001, mas algumas décadas antes já tinham sido erguidas as habitações que hoje integram o chamado Bairro Horizonte, de realojamento, nascido após o 25 de Abril com o apoio do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), organismo do Estado que apoiava operações de autoconstrução de grupos de moradores ou cooperativas. Neste caso, a Cooperativa de Habitação Económica Bairro Horizonte.

Mas a Curraleira não ficou esquecida e a Associação de Moradores Bairro Horizonte, apoiada pela Fundação Aga Khan, juntou-se a uma ideia nascida de um projecto de um grupo de alunos da Universidade Católica, para a concretização de um mural que recuperasse a memória colectiva deste lugar. O convite chegou depois às mãos de Mariana Duarte Santos, artista já com experiência no desenvolvimento de murais que envolvem as comunidades locais. Um dos exemplos mais próximos, foi o trabalho que desenvolveu com Tiago Salgado no Bairro 2 de Maio, na Ajuda.

Mariana Duarte Santos
Fotografia: Arlei Lima

“A ideia era capturar as memórias do bairro, que foi construído a seguir a um incêndio que houve no Bairro da Curraleira, onde era tudo barracas. Depois foi chamado Bairro Horizonte, que é uma coisa que algumas pessoas não concordam e ainda chamam Curraleira, mas quando as habitações foram legalizadas passou a chamar-se Bairro Horizonte. E ainda existe muito esta identidade do Bairro da Curraleira nas memórias dos moradores”, conta-nos Mariana por telefone.

A obra que hoje pode ser vista numa das empenas de um dos prédios de habitação, partiu de uma imagem datada da década de 60 do século passado e escolhida com a ajuda dos moradores que se envolveram neste projecto. “Foram feitas várias reuniões com os moradores, passaram alguns filmes do tal incêndio a partir dos arquivos da RTP, recolheram algumas imagens antigas e a partir dessas imagens comecei a formular várias propostas de intervenção. As propostas foram votadas pelos moradores que vieram às reuniões e depois foi escolhida essa imagem”, recorda a artista. Uma imagem com crianças do antigo bairro, que não é ‘chapa cinco’ da original. Por exemplo, na fotografia que serviu de base para o mural, o chão era de pedra, mas como parte do bairro também tinha calçada, os moradores pediram para incluí-la no mural.

Mariana é uma apaixonada pela memória colectiva, sublinhando a importância de construir um mural que faça parte do contexto que o rodeia. “Acho importante que o mural não seja só uma pintura na parede que poderia estar em qualquer outra parede. Gosto que seja uma coisa específica do sítio e que não pudesse estar em mais lado nenhum. Então trabalho muito a partir de fotografias antigas e tento chegar a esta coisa de uma identidade colectiva ou de memória colectiva, coisas muito particulares que todos os sítios têm à sua maneira e que são histórias e vivências que se vão perdendo.”

+ Primeira edição do Festival Regador chega à Penha de França este fim-de-semana

+ O Pátio das Antigas: O falso bairro antigo de Lisboa

Últimas notícias

    Publicidade