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O casamento das geometrias de Irene Buarque e Nuno Teotónio Pereira

A nova exposição da Galeria Ratton junta os traços do arquitecto Nuno Teotónio Pereira e da artista plástica Irene Buarque, num conjunto de janelas por onde podemos espreitar uma parceria profissional e pessoal que se prolongou por várias décadas.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Ierne Buarque
Fotografia: Francisco Romão PereiraEncontro de Geometrias
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Foram casados durante mais de três décadas e na relação pessoal sempre encontraram espaço para cruzarem geometrias artísticas. Agora, a artista plástica Irene Buarque e o arquitecto Nuno Teotónio Pereira, desaparecido em 2016, voltam a encontrar-se, entre janelas, azulejos e papel vegetal, no âmbito das celebrações do centenário do nascimento de Nuno Teotónio Pereira.

Irene Buarque
Fotografia: Francisco Romão PereiraIrene Buarque na Galeria Ratton

A Galeria Ratton, especializada em arte sobre azulejo, convidou Irene Buarque a integrar estudos inéditos do arquitecto nas janelas que desenhou há precisamente 20 anos também para uma exposição da Ratton, “Geometrias Variáveis”, que introduziu a artista brasileira ao suporte do azulejo e que antecedeu os painéis de azulejo que desenhou para a Estação de Metropolitano da Ameixoeira (2003). Agora apresenta este “Encontro de Geometrias”, que descreve como o “culminar de várias parcerias” que desenvolveu com Teotónio Pereira, relembradas num vídeo produzido para esta exposição, nascida a convite de Ana Viegas e Tiago Montepegado, proprietários da galeria.

Em Outubro de 2002, na exposição “Geometrias Variáveis”, Buarque mostrou um conjunto de oito painéis onde retomava o tema da janela, anteriormente explorado em finais dos anos 70, por exemplo num conjunto infindável de fotografias que tirou entre Portugal e o Brasil. E em Outubro de 2022, inaugurou uma nova exposição onde são recriados esses mesmos painéis, mas no interior das janelas encontramos detalhes de estudos que o companheiro fez na prisão de Caxias, entre 1973 e 74, para um novo edifício pós-Franjinhas. Os desenhos originais sobre papel vegetal também podem ser apreciados na íntegra numa das salas da Ratton.

Irene Buarque
Fotografia: Francisco Romão PereiraDesenhos de Nuno Teotónio Pereira

“Não foram usados em nenhum edifício. Alguns foram para o Centre Pompidou e estes ficaram lá em casa. A sorte é que eu guardo tudo”, conta a artista plástica. Na oficina da Galeria Ratton, os desenhos de Teotónio Pereira foram transferidos para azulejo com a ajuda de um projector que revelou os detalhes dos marcadores usados pelo arquitecto nestes desenhos, tendo-se mantido a expressão do arquitecto em azulejo. “Fui buscar o que mais tinha a ver com pintura. Quero que se sinta transparência na minha janela”, diz Buarque, sublinhando o facto de se ter mantido a expressão da caneta sobre vegetal, mas em azulejo. O convite surgiu a 3 de Setembro e foi em tempo recorde que a artista reflectiu sobre se queria “meter geometria em cima de geometria”. “Fiquei queimando os miolos, numa coisa que não estragasse os desenhos, nem a pintura”, confessa, revelando também que este culminar das parcerias entre ambos é também uma memória de uma parceria especial.

Irene Buarque veio para Portugal em 1973 como bolseira de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian e conheceu Teotónio Pereira no ano seguinte, já após o fim da ditadura portuguesa. O primeiro trabalho que desenvolveram em conjunto aconteceu no âmbito da exposição Muralhas de Lisboa, nos jardins da Gulbenkian, para a qual o arquitecto desenhou os cavaletes invisíveis que suportavam 19 pinturas em acrílico, com 1,10 metros de diâmetro, que Buarque desenvolveu enquanto bolseira da instituição. “Em 1979, fui para o Brasil, não sabia se queria ficar cá a viver e o Nuno foi-me buscar”, lembra. Antes, tinha enviado à sua companheira uma edição de autor criada a partir de um mostruário de papéis, chamada “Aparas de Lisboa”, composta por recortes de fotografias da artista plástica, complementados por desenhos do arquitecto. “E agora praticamente aparei os desenhos dele”.

Galeria Ratton. Rua da Academia Ciências, 2C. Seg-Sex 10.00-13.30 e 15.00-19.30. Entrada livre

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