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Cirque du Soleil
Olivier Brajon

O Cirque du Soleil está de volta a Lisboa. Entre a neve e o gelo conta-se a história de Crystal

‘Crystal’ é o primeiro espectáculo no gelo da reputada companhia de circo canadiana Cirque du Soleil e mostra-se em Lisboa, na Altice Arena, até 1 de Janeiro.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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O Cirque du Soleil está de regresso a Lisboa com Crystal, o primeiro espectáculo em que a companhia canadiana explora as possibilidades artísticas do gelo. A produção, feita com quase uma centena de pessoas, não perturba o silêncio que paira na Altice Arena na manhã da estreia. Lá dentro, artistas dos quatro cantos do mundo, de 25 nacionalidades, partilham o ginásio e aquecem antes do ensaio. São cerca de 50 atletas, bailarinos, músicos, actores e acrobatas que vão, até dia 1 de Janeiro, deslizar pelo gelo para contar a história de Crystal.

Nos bastidores, impera a organização. Na sala do guarda-roupa, por exemplo, cheira a roupa lavada. A envergadura da produção confirma-se nos detalhes: até as máquinas de lavar a roupa viajam, assim como as 600 peças que compõem o figurino. "São feitas de um material que as torna extra resistentes e impermeáveis, porque quando o gelo derrete, torna-se água, claro", lembra Christine Achampong, da organização. Quatro costureiras fazem os últimos ajustes no figurino, grande parte com chumaços, para que os acrobatas se apoiem nos ombros uns dos outros com o mínimo de dor. Outros detalhes do guarda-roupa prendem-se com questões de segurança, como é o caso dos grampos nas solas dos sapatos ou nas luvas. "Isso permite-lhes correr e saltar no gelo sem cair", explicam. 

Crystal
João PadinhaQuatro pessoas compõem o departamento de guarda-roupa do espectáculo.

Uns metros adiante, contam-se fartas cabeleiras ruivas - falsas, claro - categorizadas por dias da semana. Estamos na sala das perucas. Jessica, a técnica de serviço, é responsável por lavar, secar e manipular com minúcia os fios acobreados para criar os perfeitos caracóis de Crystal, a jovem protagonista que cai num mundo paralelo onde tudo parece estar de pernas para o ar. Confrontado com as semelhanças com a fantasia de Lewis Caroll, o director artístico reconhece que "há um paralelo" com a história de Alice no País das Maravilhas, mas recusa que o conto, publicado em 1865, tenha estado no processo criativo deste espectáculo. "Percebo a lógica, mas o processo e génese da criação não teve nada a ver com isso”, assegura Robert Tannion, director artístico desde 2019. "Todos já tivemos de nos confrontar connosco e com as nossas sombras, e de lutar por aquilo em que acreditamos. Acho que isto é a essência do espectáculo", sublinha. 

Ouvem-se os patins a riscar o recreio glacial instalado no centro da Altice Arena (não é inédito ver este chão alcatifado de gelo, já que a sala no Parque das Nações há vários anos recebe o espectáculo Disney On Ice). A pista, de 21 por 48 metros, levou dois dias ficar a postos e a sua preservação é essencial. É, literalmente, a base do espectáculo, e o que motivou um casting diferente do habitual: acrobatas que saibam patinar e patinadores a quem se exige a capacidade de fazer acrobacias. 

Cirque du Soleil
João Padinha

Por agora, não há planos no futuro imediato para outra produção com estas características, mas Crystal, a 42ª segunda criação da companhia, abre um precedente na utilização das potencialidades do gelo. De resto, a fórmula do Cirque du Soleil é sobejamente conhecida e mantém-se, com o habitual rigor, elegância e fantasia. Se em 2020, com a agenda suspensa à conta da pandemia, a empresa canadiana chegou a pedir insolvência e a cortar mais de 3500 postos de trabalho, concluído o processo de recuperação judicial, o Cirque du Solei, um dos mais reputados de todo o mundo, volta agora a brilhar.

Altice Arena (Lisboa). Até 1 Jan. Seg-Dom 17.00 e 21.00. 40-89€

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