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"O Olhar de Milhões" para ver quarta e quinta no Maria Matos

Escrito por
Miguel Branco
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Na nova criação de Raquel Castro mergulhamos num cruzeiro revivalista onde se recuperam hábitos do século XXI. Para ver quarta e quinta no Maria Matos.

Cruzeiro que é cruzeiro tem cocktail de boas-vindas. Um senhor cocktail, com bebidas on the rocks, servido no Luxury Extravaganza Foyer, ao lado do spa 3.0 com os melhores poderes revitalizantes. Mas atenção que esta viagem pertence ao passado, um cruzeiro temático sobre o século XXI, visitado por cinco pessoas que vivem num futuro desconhecido (uma delas com um canário chamado Log In), controlado por tecnologia que hoje ainda não conhecemos, e que vêm matar saudades do tempo do Messenger, das marcas que existiam na altura e que compõem grande parte do cenário. O Olhar de Milhões, é a nova criação de Raquel Castro e pode ser vista esta quarta e quinta-feira no Maria Matos.

A actriz e encenadora chegou ao conceito depois de ler David Foster Wallace, sobretudo o ensaio uma coisa supostamente divertida que não vou voltar a fazer, ainda que depois a coisa tenha navegado para uma ideia mais ao lado: “Curiosamente, acabei por desenvolver uma outra ideia, mais ligada à ideia de entretenimento, explorar uma série de coisas ligadas ao consumo e ao hedonismo e no fim de tudo, o conceito que encontramos e que conseguia abarcar todas estas temáticas acabou por ser este – uma viagem de cruzeiro. Nunca fiz um cruzeiro, mas depois disto, gostava muito de fazer”, explica.

É de acreditar que neste cruzeiro há de tudo, vivem-se todas as experiências, experimentam-se todas as tentações mundanas, aulas de body pump com calções cromados, espectáculos de dança, idas à sauna com o robe a rigor. Tudo o que é caricatural actualmente, tudo o que assumimos como natural, todas as aplicações que temos no nosso smartphone, todos esses artifícios servem de base para Raquel Castro projectar uma reflexão sobre o agora, para a qual nem sempre temos tempo. Ou queremos ter tempo.

E a teoria que diz que só podemos reflectir sobre o que já aconteceu morre aqui. “A experiência do viver ‘hoje’ é uma experiência muito ligada a uma noção de entretenimento, em que a massificação se sobrepõe à identidade, o virtual se sobrepõe ao real, e a superficialidade à profundidade. Houve uma tentativa de conseguir abarcar nesta grande banheira de conteúdo a que chamo entretenimento temas como: excesso de informação, de estímulos, o estarmos constantemente ligados a aparelhos, a dispersão que isso nos provoca, o vivermos numa sociedade assoberbada pelo consumo, pelo hedonismo, pelo individualismo, pela felicidade-aqui-e-agora”, confirma.

No limite, a proposta final deste “O Olhar de Milhões” é que tomemos este cruzeiro como uma espécie de plataforma de esquecimento, uma espécie de folga da vivência quotidiana. Quando se desembarcar a vida continua. 

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