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Nomes como Cindy Tolan (West Side Story), Lucy Bevan (The Batman), Suzanne Smith (Outlander) ou Priscila John (Das Boot ou mesmo Quem Tramou Roger Rabbit) podem não lhe dizer grande coisa. Mas são alguns dos grandes nomes da direcção de castings a nível mundial e também da 6.ª edição do Passaporte, o programa que tem apresentado actores portugueses ao mundo e a razão pela qual vermos os talentos nacionais em muitas produções estrangeiras, do cinema à televisão. O nome por detrás desta nova era na exportação de intérpretes portugueses é Patrícia Vasconcelos, com quem falámos esta quarta-feira na apresentação da que possivelmente pode ser a última edição do Passaporte, no hotel Verride Palácio Santa Catarina.
Ao final da tarde, Patrícia Vasconcelos não tinha mãos a medir. Além de dividir a sua atenção por todos os presentes que a iam requisitando, era a própria fundadora do programa que procurava os presentes que tinha preparado para os convidados desta edição. Produtos portugueses, ou miminhos como lhes chama. Não tem uma grande equipa, mas a energia e o entusiasmo podem valer por muitos. Patrícia é o nome mais sonante no mundo da direcção de castings em Portugal, uma profissão que abraçou em 1989, num país onde um mercado pequeno não tem espaço para os muitos talentos que guarda dentro de fronteiras. É também a fundadora da escola de actores ACT e a grande impulsionadora da criação da Academia Portuguesa de Cinema, que todos os anos atribuiu os Prémios Sophia, que distinguem o melhor cinema nacional.
“O que eu gosto mesmo é de montar projectos. O que me motiva é fazer acontecer. Quando tenho uma ideia e acho que tem pernas para andar, eu faço. Depois pode não funcionar, mas gosto de por projectos em andamento. Pelo menos tentar, se não tentares não chegas a lado nenhum”, começa por explicar a directora de castings. Ainda hoje fica impressionada com os nomes que ao longos dos últimos anos conseguiu trazer para Portugal. “Não só querem vir, como ficam cá um mês a passar férias”, conta. É que o Passaporte não divulga apenas os actores portugueses, como também o próprio país: “Todas estas pessoas depois, nas produções que estão a fazer, telefonam ao produtor e dizem ‘olha, aquela cena nº 43, já tens location? Acho que devias vir a Portugal”.
E é por isso que Patrícia lamenta a falta de apoio do Turismo de Portugal. “Entristece-me verdadeiramente. E provavelmente não volto a fazer mais uma edição. O apoio que temos é muito pouco, temos o apoio do ICA ao qual temos de nos candidatar todos os anos. E este projecto é como se fosse um festival, tens de dar um apoio a três anos, arranjar uma forma para eu poder consolidar, fazer um site como deve ser, programar a três anos. Não é andar em Março a pensar se vou conseguir fazer em Maio”, lamenta, apesar de saudar o apoio do ICA e também da Câmara Municipal de Lisboa.
“Pus Portugal no mapa e há um buzz de curiosidade à volta dos actores portugueses. Se acabar aqui fico com muita pena, mas sinto que cumpri o meu objectivo”, diz, ao mesmo tempo que elogia o talento nacional. “A minha ideia era: tanto talento não pode ficar confinado aqui, é um desperdício. Como não temos os filmes dobrados, desenvolvemos o ouvido. Durante anos comecei a perceber que iam escolhendo a Penélope Cruz, o Javier Bardem. Mas porque só param em Espanha, caneco?”
A perspectiva de quem vem de fora
Não podíamos deixar o hotel sem trocar impressões com uma directora de casting internacional. O nosso próprio casting seleccionou a britânica Priscilla John para uma pequena conversa. É uma das mais experientes profissionais do planeta, tendo no currículo filmes como Quem Tramou Roger Rabbit (1988), de Robert Zemeckis, Um Peixe Chamado Wanda (1988), de Charles Crichton, ou Passagem Para a Índia (1984), de David Lean, e mais recentemente as séries Das Boot (2018) e Dark Tower (2020) ou o filme 6 Underground (2019), de Michael Bay, para os quais contratou actores portugueses.
Foi na primeira edição do Passaporte, em 2016, que teve uma bela surpresa. “Foi tão surpreendente porque os actores falavam um inglês maravilhoso, sem sotaque. Então, para nós, directores de casting, foi uma revelação, porque a maioria dos actores portugueses fala francês, espanhol, alguns também falam um pouco de italiano”, revela. “Eles falam inglês com sotaque americano, por isso os americanos estão empolgados e a Joana Ribeiro [Dark Tower] foi a primeira que eu lancei e fiquei muito feliz.” A Joana Ribeiro, somou-se Marco d’Almeida em Das Boot ou Lídia Franco em 6 Underground. “A Lídia Franco é mesmo a Judy Dench de Portugal”, elogia.
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