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Televisão, Documentário, A Maldição da Von Dutch: Uma Marca de Morrer (2021)
©DRA Maldição da Von Dutch: Uma Marca de Morrer

O que correu mal na Von Dutch? Tudo, mostra esta série

O sucesso foi tão meteórico quanto efémero, cristalizado na imagem de um boné que correu todas as cabeças de Hollywood. Nos bastidores, uma história sombria de excessos e crime.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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“Eras capaz de voltar a usar este boné?” – a pergunta do realizador Andrew Renzi atravessa a sala, em direcção a Paris Hilton. Nas mãos, a socialite tem um dos clássicos (e extintos) bonés Von Dutch. Há duas décadas, foi ela o rosto que ajudou a vender milhões como este, mas onde em tempos houve febre, hoje resta uma sensação de estranheza, desprezo até. A resposta não tarda: “Provavelmente só como piada”.

Hilton é uma dos muitos intervenientes de A Maldição da Von Dutch: Uma Marca de Morrer, um documentário dividido em três episódios que se estreia em Portugal esta sexta-feira, 11 de Março, poucos meses depois de ter sido emitido pela Hulu nos EUA. Como na Casa Gucci de Ridley Scott, as intrigas e os crimes que povoam os bastidores da moda voltam a estar no centro das atenções. Mas, neste caso, sem o glitter da ficção.

Também o cenário é um tanto ou quanto diferente. Insólitos e mirabolantes, os eventos que circundam a história da marca norte-americana dividem-se entre Hollywood e Venice Beach, numa moldura temporal que começa na recta final da década de 80 e vai até meados dos anos 2000. Os protagonistas? Um trio de empreendedores, onde cada um carrega até hoje o título de fundador: Ed Boswell, um coleccionador de arte de Los Angeles; Mike Cassel, outrora traficante de droga; e o surfista Bobby Vaughn.

O sucesso da Von Dutch, exemplo flagrante de como a logomania pode render milhões, não foi imediato. As primeiras peças chegaram ao mercado em 1997 – um guarda-roupa masculino com inspirações militares, mas sobretudo com o workwear das velhas empreitadas dos caminhos de ferro americanos como matriz. Nas mãos de Mike e Bobby, mais novo e uma espécie de protegido de Cassel, a marca passaria despercebida até ao dia em que Tommy Lee exibiu o logótipo na MTV, enquanto abria as portas de casa para o programa Cribs.

Mas o ano 2000 traria a derradeira viragem no destino da Von Dutch Originals, assinatura do americano Kenny Howard, cujos direitos foram inicialmente adquiridos às filhas do artista plástico. Tonny Sorensen, empresário e campeão dinamarquês de taekwondo, comprou uma fatia maioritária da empresa e assumiu o cargo de CEO.

“Sinto que fui largado num mundo extraterrestre e que tinha de fazer alguma coisa”, refere o investidor. A sua estratégia viria a catapultar a marca para um sucesso sem precedentes, especialmente a contratação do francês Christian Audigier para assumir a direcção criativa da linha feminina. Um boné e um logótipo foram o suficiente para contrariar um ciclo de perdas catastróficas e atingir ganhos anuais de 150 milhões de dólares. Do hip hop aos fenómenos de reality TV, a Von Dutch tornou-se omnipresente.

“Pegaram no meu bebé e prostituíram-no” – a frustração de Cassel veio, pouco tempo depois, a precipitar a empresa para uma neblina de ameaças e ligações criminosas, da qual nem o clã Escobar ficou de fora. Do lado de fora, também a imagem da marca se deteriorou. A contrafacção e os múltiplos licenciamentos eliminaram a aura de exclusividade conferida por estrelas como Jay-Z, Britney Spears, Halle Berry ou Justin Timberlake. A própria Paris Hilton, símbolo da febre planetária que marcou o arranque do século, entraria um dia no seu closet sem sequer conseguir compreender a quantidade de bonés, malas e tops Von Dutch – “livrei-me de tudo”.

TVCine Edition. Sex 22.00

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