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O que é isso de fazer crítica de arte? As crianças explicam neste podcast

O Lugar Específico tem reunido grupos de crianças interessadas em descobrir o universo da crítica de arte. Falámos com a mentora do projecto, Susana Alves.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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O que é isso de fazer crítica de arte? Não, não é só dizer se gostamos ou não de uma pintura, de uma peça de teatro ou de um espectáculo de dança ou música. E não, também não é coisa de adultos. Aliás, até se recomenda começar de tenra idade (“de pequenino se torce o pepino”). Quem o diz é Susana Alves, fundadora de O Lugar Específico, um espaço de encontro entre arte e educação. “Queremos aproximar a sociedade, os mais novos em particular, das artes contemporâneas, dos processos e dos agentes criativos”, desvenda a mediadora cultural, que coordena um grupo de críticos muito especial. Chamam-se Os Especificalistas – Grupo Específico de Acção Crítica, têm entre sete e 12 anos, encontram-se de forma regular e dão voz a um podcast.

“Sou formada em psicologia educacional e interesso-me muito pelos processos mentais na educação, como é que processamos e incorporamos a informação que nos vem do exterior, como é que relacionamos o pensamento com o mundo que nos rodeia e como é que vamos aprendendo nesta relação entre nós e os outros e nós e o mundo”, conta Susana, que trabalha como freelancer em serviços educativos de diferentes instituições culturais, como a Culturgest e o Museu Berardo, há mais de dez anos. “Quando surgiu a oportunidade de criar o meu próprio projecto, não hesitei em pôr, finalmente, as minhas ideias em prática. Como esta de dar voz aos miúdos e incentivá-los a desenvolver o seu pensamento crítico e a criar uma relação diferente, porventura mais aprofundada, com a arte.”

A ambição é, por um lado, incentivar os mais novos a ter um papel activo na crítica de arte para a infância e, por outro, promover a produção de pensamento e conteúdo crítico feito por e para crianças. Além de visitas a exposições, idas ao teatro e contacto com património local e outros objectos artísticos, organizam-se sessões de esclarecimento e de discussão: fala-se sobre o que é importante observar e registar e depois partilham-se opiniões sobre o que se sentiu e aprendeu. “Na primeira sessão, tentamos esclarecer o que é uma crítica, desconstruir a ideia de que é só dizer mal”, esclarece Susana. “As crianças costumam vir com essa formatação e é importante discutirmos in loco qual é, afinal, a nossa definição. A partir daí, começamos a explorar os materiais à volta do nosso objecto, para eles aprenderem a recolher informações e a fazer consultas online.” Mas não só.

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Os mini-críticos vão ainda ao encontro dos diferentes agentes culturais e criativos, desde artistas, curadores, escritores, ilustradores, editores e até realizadores, programadores ou técnicos. Munidos de um manancial de perguntas curiosas e sem filtro, como qualquer miúdo que se preze, têm oportunidade de fazer entrevistas, que são gravadas e transmitidas no podcast Especificalistas. “A entrevista de que mais gostei foi ao Ricardo, o director do Centro [Cultural de Cabo Verde]. Foi muito fixe poder entrevistar alguém com um microfone. É mesmo profissional”, partilha Luís Filipe Santos, nove anos, num dos oito episódios já disponíveis no Spotify. Na abertura, a sua colega Carolina, da mesma idade, define a crítica como opinar “no bom ou no mau sentido”. Por esta altura, Susana já terá descodificado o conceito. “Aflige-me muito eles terem necessidade de dizer aquilo que acham que é o que vai agradar. Tentamos contornar o politicamente correcto e discutimos com eles também, por exemplo, a forma como se devem comportar numa exposição ou num espectáculo. Queremos que eles pensem por eles e não repliquem ideias que numa ficha de trabalho da escola podia dar azo a uma boa nota. Enquanto cidadã, aflige-me haver pouco sentido crítico – ou haver mas estar abafado por chavões que a escola, os adultos ou os pais supostamente apreciam.”

A longo prazo, Susana gostaria de conseguir investir num formato de continuidade, que permita trabalhar ininterruptamente com os mesmos grupos de crianças. “O projecto foi lançado como uma actividade extra-curricular, à semelhança de ir às aulas de natação ou de dança ou outra coisa qualquer. A ideia era trabalhar o espírito crítico uma vez por semana. Mas, na altura, não houve procura suficiente e decidimos fazer sessões avulsas, com duas sessões de uma hora e meia cada, ou uma de três horas. Idealmente, teríamos mais tempo, porque o espírito crítico treina-se, e fazer boas perguntas é difícil. Quando eles ficam mesmo bons, [a actividade] já está a terminar.”

Por agora, o projecto conta com o apoio da DGARTES e da Rádio Miúdos, onde os mini-críticos também têm tempo de antena aos sábados, e prepara-se para viajar pelo país. Estão já previstas, por exemplo, sessões no Centro de Artes de Ovar, na Casa da Cultura de Ílhavo e no Museu Municipal de Benavente. Para não perder pitada, o melhor é estar atento ao Facebook ou enviar um e-mail.

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